Estamos a praticamente um mês do Draft 2019 da National Football League.
Entre os assuntos em pauta sobre o evento, claro, está a posição de quarterback. Ainda mais depois do que foi visto na temporada passada, quando a classe de QBs fez história, os olhares para a função aumentaram agora. No entanto, em 2019, os prospectos da posição não encantam da mesma forma. Pelo menos não neste momento.
Não espere que cinco nomes sejam chamados na primeira rodada. Tampouco que, sete meses depois, todos eles se tornem titulares na NFL já como calouro.
Para começo de conversa, nem mesmo quantos quarterbacks valem uma escolha de primeira rodada nesta classe é um assunto fechado.
Em suma, considerando o valor das escolhas no draft, o normal é que dois ou três quarterbacks sejam recrutados na primeira rodada, com outros dois fechando o segundo round. Dentre esses, os quatro primeiros nomes devem ser Dwayne Haskins, Kyler Murray, Drew Lock e Daniel Jones. Se algo diferente disso acontecer entre os dias 25 e 27 de abril, as equipes em questão provavelmente merecem questionamentos.
Haskins (Ohio State, 21 anos, 1,91m e 105kg) é, para a maioria dos especialistas, aquele que deve ser o primeiro QB selecionado. Sua estatura e rendimento no college football condizem com a de um quarterback profissional. Ainda, a presença no pocket, toque na bola e a variedade de leituras são os pontos fortes. Já a inexperiência (14 partidas como titular na carreira), trabalho dos pés e precisão em profundidade, podem ser problemas. Bem como o sistema no qual esteve inserido em Ohio State, já que tudo será diferente na NFL. A mobilidade não é o forte de Haskins, apesar de termos visto interessantes lançamentos dele em movimento.
Se não for Haskins, o primeiro nome de QB chamado será o de Murray (Oklahoma, 21, 1,78m, 88kg). Ele é o atual vencedor do Troféu Heisman e tem habilidade atlética, mobilidade, leitura/entendimento de jogo e competitividade refinados. Ainda, o talento e instinto de Murray simplesmente não são vistos todo dia; ele é aquele quarterback que pode “tirar um coelho da cartola” a qualquer momento. Murray é único. Em contrapartida, o sistema de Oklahoma pode ser uma questão, assim como a altura do jogador. Vale ressaltar também que ele se apressa demais para sair do pocket (talvez pelo incrível potencial que tem correndo com a bola). Isso é arriscado e muitas vezes ruim na liga.
De Missouri, Lock (22, 1,93m, 102kg) também chama atenção. Em geral, saiba que Lock tem o potencial para ser o melhor quarterback da classe 2019. Braço forte, mecânica ideal, bom entendimento de jogo, confortável com diferentes playbooks e habilidade atlética acima da média. E ele ainda vem em plena ascensão do college football. A maior preocupação quanto a Lock é que o toque na bola e precisão carecem de mais consistência. E pior: quando pressionado e contra os principais adversários universitários, Lock decepcionou. Ah, e o rendimento do quarterback fora de um ataque essencialmente vertical é questionável. Como citado, ele tem armas para ser o melhor da classe, porém parece ser um dos que mais precisa de tempo e/ou circunstâncias ideais para atingir o ponto máximo.
Jones (Duke, 21, 1,96m, 100kg), deste G4 de quarterbacks, é o que tem mais incógnitas. O trabalho dos pés oscila. A leitura de jogo e comportamento sob pocket povoado também. E ele é mais um quarterback que pode ter sido “vítima de um sistema ofensivo” no college. Contudo, a precisão de Jones, bem como a firmeza em seus lançamentos, especialmente de curta e média distância, e o toque na bola, são muito acima da média. A mobilidade também merece crítica positiva. Quando Jones percebe o alvo correto na jogada, dificilmente ele erra o lançamento — o problema pode ser encontrar tal opção ou o quão rápido ele faz isso.
Além desses quarterbacks, os quais têm características que fazem deles reais candidatos a titulares em algum momento da carreira, outros nomes merecem destaque. Ryan Finley (NC State) talvez seja o principal deles — ele tem atributos para se firmar como um sólido backup e, dependendo do esquema ofensivo inserido, até um titular. Finley se assemelha bastante a Ryan Tannehill, ex-Dolphins.
No mais, Will Grier (West Virginia), Tyree Jackson (Buffalo), Brett Rypien (Boise State), Easton Stick (North Dakota State) e Clayton Thorson (Northwestern), todos relativamente um nível abaixo de Finley, têm chances reais de se tornarem o QB nº 2 de alguma franquia eventualmente.
Gardner Minshew (Vanderbilt), Jarrett Stidham (Auburn) e Kyle Shurmur (Washington State)
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Pelo menos dois quarterbacks do Draft 2019 têm potencial para se tornarem sólidos titulares e, por que não, firmarem-se under center por uma década. A diferença é que, para isso, diferentemente do ano passado por exemplo, esses jogadores precisão estar em situações perfeitas após recrutados ou algo próximo disso.
Em outras palavras, a classe de quarterbacks do Draft 2019 não impressiona e nem é tão certa quanto a do ano passado. Entretanto, seria errado afirmar que não há talento e/ou chances de tais prospectos desenharem uma carreira próspera. Pelo contrário. A questão para o recrutamento deste ano é que todos os nomes da posição mais importante do jogo são “enigmas a serem decifrados”.
Adicionalmente, menos franquias precisam desesperadamente de quarterbacks neste ano, o que deve diminuir o valor desses também. A discussão sobre quais times recrutarão QBs nas primeiras duas rodadas é interessante, vale ressaltar.
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Voltando no tempo, nas guardadas proporções, os quarterbacks no Draft 2019 me lembra a classe de 2016. Naquele ano, Jared Goff e Carson Wentz foram os primeiros recrutados, em especial devido à necessidade e momento de Rams e Eagles, respectivamente, e Dak Prescott foi um “achado” na quarta rodada. De resto, os outros QBs daquele ano se tornaram essencialmente reservas, um ou outro interessante, como Jacoby Brissett, por exemplo.
É difícil afirmar que o classe 2019 terá o sucesso que Goff e Wentz têm neste momento, verdade seja dita. Ambos encontraram ótimos head coaches, consequentemente sistemas ofensivos propícios, e já protagonizaram sólidas temporadas.
Porém os QBs de 2019 provavelmente prosperarão mais do que os recrutados em 2013, talvez a pior classe na última década. Daquele ano, nenhum vingou como titular.
Para esta temporada, o Arizona Cardinals tem a primeira escolha. Mas a equipe, a qual recrutou Josh Rosen em 2018, não precisa de quarterback no momento. Certo? E quantos times estarão à procura de QBs na primeira rodada? Até que ponto vale arriscar nos nomes desta classe? Teremos um ano marcado por futuros backups?
É preciso ter em mente que o draft é um “jogo de apostas”, há riscos, portanto. Em 2019, isso talvez seja ainda maior.