Kyler Murray tem medidas físicas melhores do que aparentava. Ele foi listado com 1,79m e 94kg no Combine. Isso, combinado aos ótimos anos do quarterback em Oklahoma (principalmente em 2018) e à uma habilidade atlética especial, fez com que Murray ganhasse ainda mais status de primeira escolha geral no Draft 2019.
Essa primeira pick pertence ao Arizona Cardinals. Ao Arizona Cardinals de Josh Rosen, quarterback recrutado na primeira rodada (10ª escolha geral) em 2018. Surgiu assim rumores de que os Cardinals, agora comandados pelo estreante head coach na NFL Kliff Kingsbury, poderiam trocar Rosen para então recrutarem Murray como primeiríssima escolha neste ano.
Faz sentido?
Para quem gosta de “franchise mode” no Madden, sim. Para Murray, o qual teria a oportunidade de atuar sob o comando de um treinador de mentalidade ofensiva, idem. E também para Kingsbury, que gosta de Murray e começaria a era em Phoenix “da sua forma”. Mas não para o Arizona Cardinals. Não para um time que acabou de começar um novo plano.
Entenda que o draft é um “jogo de valor”, no qual você precisa pagar algo (sua escolha) para recrutar determinado prospecto.
Os Cardinals pagaram caro por Josh Rosen em 2018. Foi visando subir para a 10ª colocação da classe que Arizona deu a Oakland três escolhas (15ª, 79ª e 152ª gerais). Em outras palavras, Rosen custou três jogadores à equipe.
Trocar o camisa #3 agora significa que muito provavelmente Arizona perderá valor na escolha que fez no ano passado. Afinal, nenhuma equipe pagará uma escolha de primeira rodada (muito menos Top 10) aos Cardinals por um jogador que não foi bem como novato e sabendo que a franquia em questão quer trocá-lo. É um pensamento lógico: se alguém precisa vender algo “desesperadamente”, não conseguirá o valor ideal (mas sim o melhor disponível) por tal.
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Vamos supor, então, que o Arizona Cardinals, caso coloque Josh Rosen no trade block, receba uma oferta com escolha de segunda rodada. Giants e Jaguars, por exemplo, têm as picks 37 e 38 de 2019, respectivamente. Neste caso, os Cardinals estariam “jogando fora” o esforço feito pela 10ª escolha geral de 2018. Em menos de 16 jogos como experimento, a equipe estaria se desfazendo de um QB promissor e Top 10 no draft por escolhas inferiores a fim de recrutar um prospecto que também é uma aposta.
Em 2018, Josh Rosen participou de 14 jogos, sendo titular em 13. Ao todo, obteve 55% de aproveitamento, 2.278 jardas, 11 touchdowns e 14 interceptações. O primeiro anista venceu apenas três confrontos.
Kyler Murray, em sua última temporada no college football, totalizou 69% de aproveitamento, 4.361 jardas, 42 TDs e sete INTs. Além disso, correu para 1.001 jardas e 12 TDs. Não por acaso, ele venceu o Troféu Heisman após o campeonato.
Mas Murray não é um prospecto perfeito. Tampouco um com mínimo potencial para bust. Ele não é “o melhor quarterback disponível desde Peyton Manning”, como aconteceu em 2012 com Andrew Luck. Aliás, Murray não é nem o melhor prospecto na posição desde 2012.
Sim, a habilidade atlética, instinto, visão de jogo e talento nato de Kyler Murray impressionam. Atletas como ele raramente são vistos na posição mais importante do futebol americano. Todavia, não justificam tal medida para os Cardinals sob o atual contexto do time.
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Por outro lado, o rendimento de Josh Rosen na temporada passada piora as coisas. O ex-UCLA decepcionou — os números destacados acima deixam isso claro. Ele foi atípico, demonstrou pouca liderança e pouco pode fazer na pífia campanha de Arizona. Mas é cedo demais para chamá-lo de bust.
Em 2018, Rosen atuou sob o comando de um head coach estreante e de mentalidade defensiva em Steve Wilks. Seu coordenador ofensivo, Mike McCoy, amarga três demissões diferentes (uma como técnico e duas como coordenador) desde 2016. Ou seja, uma por ano — e uma delas foi com a temporada passada em andamento.
O mesmo sistema ofensivo do Arizona Cardinals que fez Rosen ruim, fez o mesmo para com David Johnson, um dos melhores running backs da atualidade. Claro, são posições e circunstâncias diferentes, mas a desorganização e disfunção em torno de ambos os jogadores foi a mesma.
Ademais, o ataque dos Cardinals teve uma das piores linhas ofensiva da NFL. E um grupo de recebedores limitado, comandado principalmente por Larry Fitzgerald (35 anos), e que viu Christian Kirk, escolha de segunda rodada em 2018, lesionar-se durante o campeonato.
O resultado de tudo isso foram três triunfos em 16 duelos.
Definitivamente, não podemos tirar conclusões sobre a primeira temporada de Rosen na liga. Se formos concluir algo, é preciso levar em consideração tais circunstâncias. O que implica que o resultado final não justificará a ideia de não tê-lo mais no elenco.
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Uma troca blockbuster que faria sentido para o Arizona Cardinals é uma envolvendo a primeira escolha geral.
Claro, se o general manager Steve Keim definir que um pass rusher será a primeira opção, ir com Nick Bosa de primeiro geral na classe é a decisão certeira.
Todavia, se os Cardinals enxergarem maior valor para a segunda metade da primeira rodada, ou até mesmo começo da segunda rodada, trocar a primeira pick pode fazer sentido. Tudo depende do que for colocado em troca. Imagina-se aqui que pelo menos duas escolhas de primeira rodada serão oferecidas. Ou uma de primeira e três de segunda, algo parecido com o que os Jets fizeram com os Colts no ano passado.
O elenco de Arizona precisa de muitas peças para ter real competitividade, ainda mais na disputada Conferência Nacional. Nesses cenários, a equipe poderia até se encontrar em posição de ter cinco das primeiras 40 escolhas da classe. Ou três das primeiras 33. Algo do tipo.
Isso seria ótimo para Kingsbury “dar suas cartas” e reforçar um elenco que tem um jovem líder que merece e carece de sólidos reforços em torno dele.
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Se os Cardinals receberem uma oferta por Josh Rosen entre a segunda e 15ª escolha geral neste ano (é justo colocar uma flexibilidade/margem aqui), faz sentido trocar Josh Rosen.
Mas isso configuraria, por parte do outro time envolvido, uma das decisões mais questionáveis/malucas que a NFL já viu. Não vai acontecer.
Desta maneira, Arizona deve se preocupar em seguir com seu plano A. E não abandoná-lo para outro planejamento. Seria uma temporada, a de 2018, perdida, juntamente à escolhas de draft e valor em jogadores. Isso em um momento que a franquia precisa estar focada em ganhar. Acrescentar. Progredir.
Rosen é uma aposta, assim como Murray será.
Ainda não há razões em Rosen para drásticas decisões como essa.