Uma imagem com Josh Allen e Jim Kelly, como a de capa deste texto, coloca em pauta dois momentos marcantes para os torcedores Buffalo Bills, principalmente se for horas antes a um confronto contra o Philadelphia Eagles.
Bills e Eagles se enfrentam na semana 8 da NFL, em um confronto essencialmente diferente para ambos os times, devido aos distintos momentos desses na temporada. Mas enquanto a oitava rodada da liga é a pauta atual, os torcedores dos Bills têm justamente em um embate frente aos Eagles um marco para a era mais marcante da história da equipe.
Foi enfrentando Philadelphia na semana 13 da temporada de 1990, que Buffalo introduziu o chamado de K-Gun Offense. Naquele 12 de dezembro de 1990, pela primeira vez o sistema ofensivo do head coach Marv Levy passou a usar (e abusar) das chamadas em no-huddle desde o primeiro período dos jogos.
Para explicar mais o contexto da época, a diferença cultural entre os Bills da época e atualmente, e também o atual momento do time, o historiador do Shotgun Lucas Borges David conta uma das histórias daquele incrível elenco de Buffalo.
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O início de temporada na Conferência Americana guarda uma grande surpresa: o Buffalo Bills. Após o fim da sétima semana, a franquia acumula somente uma derrota, para o invicto New England Patriots. Otimismo não falta para a fanática torcida de Buffalo.
Por mais que a dinastia dos Bills nunca tenha adquirido a glória máxima de erguer o Troféu Vince Lombardi, o domínio do time no começo dos anos 90 foi algo sem precedentes.
A franquia é a única a conquistar quatro vezes seguidas a AFC, de 1991 a 1994. Isso mesmo, Buffalo apareceu quatro vezes consecutivas no Super Bowl. Enquanto isso carrega algo anormal e histórico para uma liga como a NFL, foi também ali que os Bills ficaram marcados por outra narrativa: ser vice-campeão quatro vezes seguidas do Super Bowl.
O que muitos não se lembram, contudo, é como aquele time dos Bills construiu um elenco competitivo. Tenha em mente que, assim como algumas das principais dinastias de todos os tempos, a franquia tinha “um ataque para se chamar de seu.”
Sob o comando do quarterback Jim Kelly, os Bills nomearam seu estilo ofensivo de K-Gun, que ficou marcado, de um modo geral, por ser um ataque rápido e dinâmico com passes de curta e média distância, os quais muitas vezes substituíam as corridas.
Em outras palavras, foi uma definição adotada pelos Bills para um esquema similar e interligado ao West Coast Offense. ***
Por que K-Gun, pode ser a pergunta que se vem em mente. Keith McKeller, tight end dos Bills na época, era considerado um dos mais rápidos da posição. Os treinadores diziam que ele tinha “Killer speed” (velocidade assassina, traduzindo), o que serviu referência para o K de K-Gun.
Começando no confronto diante dos Eagles em 1990, os Bills começaram a iniciar suas jogadas rapidamente, não dando tempo para os adversários substituírem jogadores de defesa ou pensar na estratégia para o lance seguinte.
Os torcedores de Buffalo até hoje se lembram de Kelly lançando a bola para Andre Reed, James Lofton e Don Beebe. Mais que isso, eles clamam por esses dias de volta.
O ataque de Buffalo geralmente apresentava três wides receivers e um running back, com Kelly no shotgun. Kelly projetou uma tática que durante anos foi considerada uma das mais perigosas da NFL: o quarterback chamava suas próprias jogadas e corria com o ataque sem o huddle (conferência).
O resultado foi um ataque ranqueado temido pelos adversários e que figurou como um dos sete melhores da liga seguidamente entre 1990 e 1993 (pontos por jogo), algo contrastrante para uma franquia que nos últimos 14 anos entrou no Top 10 desse quesito apenas uma vez (2016).
A criatividade ofensiva da franquia, contudo, não conseguiu “a cereja do bolo” e acabou derrotada consecutivamente em quatro Super Bowls. Sim, os Bills são uma vítima na arte e perder Super Bowls, podemos considerar assim, e a atual NFC Leste traz pesadelos à franquia.
Scott Norwood desperdiçou o field goal de 47 jardas no SBXXV perdendo por um ponto (20-19) contra o New York Giants, que tinha Bill Parcels como head coach e Bill Belichick como coordenador defensivo.
O segundo dos reveses veio para o Washington Redskins por 37 a 24, com a franquia de Buffalo não pontuando no primeiro tempo. Por fim, a terceira e quarta derrota vieram para os Dallas Cowboys por 52 a 17, em 1993, e 31 a 13, em 1994.
Das inacreditáveis quatro derrotas seguidas em Super Bowl dos Bills, todas aconteceram para equipes atualmente na NFC Leste. Três diferentes, com os Eagles sendo o único adversário que não faz parte desta lista.
Após os grandes momentos de protagonismo vivido no início da década de 1990, os Bills amargaram anos difíceis, acumulando o recorde de mais tempo sem se classificar para os playoffs; a franquia passou de 1999 até 2017 sem saber o que era disputar a pós-temporada.
Embora a seca de playoffs foi interrompida em 2017, os Bills não sabem o que é vencer um jogo de mata-mata desde 1995.
Após sete semanas disputadas em 2019, com campanha 5-1, a expectativa dos torcedores é que Buffalo chegue forte para os playoffs e que, desta vez, mais uma seca da equipe termine.
Melhor dizendo, encerrar a seca de triunfos na pós-temporada significaria sonhar um pouco mais, semana após semana, em terminar o jejum de Super Bowl mais dramático que a liga já viu.
Buscando chegar a 6-1 pela primeira vez desde 1993 (e em três dos quatro Super Bowls alcançados a franquia venceu seis dos primeiros sete confrontos que disputou), os Bills dos dias de hoje carregam uma defesa refinada e um ataque abaixo da média.
Nem sempre foi assim.