Houve uma época em que a National Football League teve o Tampa Bay Buccaneers como sua principal franquia – aliás, foi a primeira e única vez que os Bucs estiveram no topo da liga desde sua fundação. Sabendo disso, é fácil entender porquê todos os olhares estavam voltados para o Monday Night Football que aconteceu em 6 de outubro de 2003, afinal, além da força dos Buccaneers de um lado, do outro estava o Indianapolis Colts de Peyton Manning, o qual ainda começava sua carreira no futebol americano profissional.
Todas as expectativas para aquele confronto, uma vez em andamento, não só foram confirmadas como excederam: o histórico time de Tampa, combinado com todo o poderio antigos dos Colts, resultaram em um duelo que jamais será esquecido pelos fãs da NFL. Houve lances espetaculares, field goals decisivos, penalidade desconhecida e uma virada inimaginável. Arrisco a dizer que se esse Bucs vs. Colts de 2003 fosse tema de um filme, seria daquelas obras com o final que todos já sabemos, em que tudo conspira em favor do “time predestinado”, digamos assim. Acredite, nem mesmo o melhor roteirista poderia prever o que aconteceu no Raymond James Stadium naquela noite.
Contextualizando o confronto
Como adiantado, os Buccaneers eram o time do momento. A franquia tinha acabado de vencer o Super Bowl XXXVII e apresentava uma das melhores defesas da história da NFL. Com Warren Sapp, Derrick Brooks e cia., aquela equipe de Tampa permitiu apenas 12,2 pontos por jogo aos adversários, uma das cinco melhores marcas de todos os tempos. O quarterback da franquia da Florida era Brad Johnson, o qual atuou na liga entre 1994 e 2008, e neste período teve temporadas relativamente sólidas.
Do outro lado estava o Indianapolis Colts, que começava a apresentar ao mundo a soberania que aconteceria alguns anos depois. Peyton Manning estava em seu sexto ano na NFL e naquela temporada ele liderou o campeonato em passes completos, aproveitamento nos lançamentos e jardas. Vale lembrar ainda que Indianapolis contava com o ótimo Marvin Harrison e com os conhecidos Reggie Wayne e Dallas Clark. Além de tudo isso, o head coach de Indy era Tony Dungy, o qual havia comandado os Bucs até 2001, quando foi para Indianapolis.
Esse Tampa Bay Buccaneers vs. Indianapolis Colts foi válido pela semana 5 da temporada de 2003 e naquele momento os Bucs tinham campanha 2-1, enquanto os Colts ainda estavam invictos, 4-0.
“Luz, camera e… Peyton Manning em ação”
A partida começou totalmente a favor do Tampa Bay Buccaneers, que marcou antes dos dez minutos do primeiro período, com o wide receiver Keenan McCardell. McCardell, aliás, também marcou o segundo touchdown de TB no jogo, mas de uma meneira “inusitada”: os Colts interceptaram Brad Johnson com Mike Doss no meio do campo e o safety começou a correr para ganhar algumas jardas de retorno. Contudo, durante esse retorno, ele sofreu um fumble, que recuperado por McCardell, o qual levou a bola para a end zone. Depois disso, no segundo quarto, o domínio vermelho continuou e a equipe da casa foi para os vestiários vencendo por 21-0.
Essa diferença de 21 pontos se manteve ao término do terceiro período, com o placar 28-7, após Marvin Harrison e, novamente, Keenan McCardell, marcarem para cada lado. Desta forma, portanto, as equipes chegaram para o (incrível) quarto período.
(E agora a história começa a ficar interessante)
No começo do quarto, as esperanças de Indianapolis ficaram renovadas após o TD corrido de Ricky Williams com menos de três minutos jogados. Todavia, um começo de reação foi contido já que Indy não conseguiu pontuar mais até os cinco minutos finais do confronto e chegou a ser “cancelado” após a interceptação retornada para touchdown de Ronde Barber. Assim sendo, além de todo o momento da partida após um pick six, os Bucs tinham uma vantagem de 35-14 com o relógio marcando 5 minutos e 10 segundos para o término do duelo.
Na jogada seguinte, então, após o kickoff, Brad Pyatt conseguiu um ótimo retorno que colocou os Colts já dentro da red zoe adversária. Alguns segundos depois, Manning acrescentou mais sete tentos para Indianapolis, que perdia por 14 há 3:37 do fim, logo. E agora as coisas começam ficar realmente interessantes! Um lance mais tarde, Indianapolis tentou e conseguiu o onside kick, chutado por Mike Vanderjagt. Posteriormente, menos de um minuto mais tarde, a parceria mais produtiva da história da NFL (Manning-Harrison) voltou a aparecer em touchdown do camisa #88 após passe de 28 jardas, em uma quarta descida para seis jardas, que colocou a diferença em apenas uma posse com o cronômetro marcando pouco mais de dois minutos.
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Desta maneira, o Tampa Bay Buccaneers teve mais uma posse de bola para tentar gastar tempo e quem sabe até chutar um field goal, o qual concretizaria o triunfo dos mandantes. Todavia, isso não aconteceu e os Bucs fizeram aquilo que não era aconselhado: deram uma chance a Peyton Manning na partida. O camisa #18 precisou de apenas duas jogadas para acertar um passe de 52 jardas (novamente para Harrison) e posicionar o Indianapolis Colts na linha de cinco jardas do campo de ataque. Acredite ou não, mas ainda restava um minuto naquele momento e Manning teve que gastar tempo mesmo depois de tudo que havia acontecido no duelo. Em seguida, uma nova corrida de Williams deu mais sete pontos para Indy no placar e o jogo estava empatado em 35 – não me pergunte exatamente como. Teríamos uma prorrogação.
No overtime, Tampa Bay, voltando a animar seus torcedores, venceu no cara-ou-coroa, tendo assim a primeira posse – lembre-se que as regras ainda não havia sofrido alterações, portanto, ainda valia na prorrogação o “quem fizer primeiro vence.” O problema foi que os Buccaneers não fizeram nada em mais um ataque e Peyton teve a bola novamente. O “The Sheriff”, então, foi se esquivando da pressão defensiva dos Bucs e avançando com passes curtos e precisos. O avanço de Indianapolis foi até a linha de 22 jardas do campo de ataque e seria dali o snap para o field goal que poderia sacramentar a incrível virada do time azul.
O chute seria de 40 jardas e Vanderjagt já estava posicionado. O snap aconteceu, o chute foi feito e… Não foi bom!!! Mas…
Leaping (???)
Havia uma falta na jogada – e por mais que cometer uma infração em um field goal seja uma das coisas mais estúpidas de se fazer em uma partida de futebol americano, algumas ressalvas precisam ser feitas antes de tirarmos maiores conclusões. A penalidade marcada foi “Leaping”. Apesar de não ser muito comum, de um modo geral, a chamada de Leaping acontece quando um defensor que está uma ou mais jardas para trás da linha de scrimmage corre e pula tentando bloquear um chute (field goal ou extra point) e ao cair se apoia em outro jogador. Ela entra no grupo de regras em Condutas Antidesportivas. Além de 15 jardas, o time infrator também cede um first down automático ao adversário.
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“Como a NFL arruma tantas penalidades extremamente detalhistas?”. Essa também foi uma pergunta que passou pela minha mente e, por conta disso, não devemos “crucificar” Simeon Rice, o qual cometeu a penalidade. Voltando ao jogo: uma rara penalidade (que ninguém conhecia e muitos ainda não sabem o que é) deu uma sobrevida aos Colts, fazendo com que o novo field goal fosse de 29 jardas. Vanderjagt, então, fez o chute e um leve toque na trave antes dele ser confirmado parece ter servido apenas para resumir tudo que foi o confronto e levantar “Que jogo foi esse!”
No fim das contas, o placar de 38-35 representa uma das partidas mais espetaculares de todos os tempos! Saiba ainda que a defesa dos Bucs não havia sofrido 35 pontos em um jogo até então desde um encontro com os Rams no dia 18 de dezembro de 2000. Ademais, naquele 6 de outubro de 2003 ficou marcado pela primeira vez que um time conseguiu vencer um jogo após estar perdendo por 21 pontos ou mais com menos de quatro minutos no último período. No final, a mensagem que fica é que nós, fãs de futebol americano, devemos ter esse confronto para sempre em nossas lembranças – ele simplesmente não acontecerá novamente.
Tem algum outro jogo histórico em mente para relembrarmos aqui? Mande sua opinião para nós nos comentários ou pelas redes sociais!
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