Foi-se o tempo em que o Denver Broncos começou uma temporada regular preocupado somente em reforçar o que estava ao redor de seu quarterback. Afinal, isso acontece quando um time tem certeza sobre quem está under center.
Desde quando Peyton Manning, em 2015, jogou seu último snap vestindo a cor laranja, os Broncos não se acertaram na posição mais importante do futebol americano. Verdade seja dita, o próprio último ano profissional de Manning foi abaixo da média. Tanto que Brock Osweiler até o substituiu por parte do campeonato regular. Todavia, como um ótimo líder, mesmo não sendo genial, Manning era quem estava under center nos momentos mais importantes.
Felizmente para a equipe, o plano de reforçar o que estava ao redor do QB titular foi impecável para Denver em 2015. As más atuações de Manning — e Osweiler — foram sustentadas por uma das defesas mais sólidas que a liga viu na última década.
Adicionalmente, é preciso destacar que, desde que Manning foi contratado em 2012, os Broncos fizeram um excelente trabalho em ajustar o elenco para o camsia #18. O que explica o ótimo momento vivido, o melhor da equipe desde o fim da décade de 1990.
Mas agora o cenário é outro.
Nas últimas quatro temporadas, quatro quarterbacks diferentes foram titular. Trevor Siemian foi o sucessor imediato de Manning. No entanto, apesar de relativo sucesso ainda sob o comando de Gary Kubiak, Siemian não se beneficiou quando Vance Joseph foi contratado para head coach. Ele não se mostrou capaz de dar real competitividade ao elenco.
Outra tentativa dos Broncos foi Paxton Lynch. Lynch foi uma das grandes apostas do time na posição de QB nos últimos anos após ter sido recrutado na primeira rodada do Draft 2015. Mas a expectativa de que o ex-Memphis fosse atingir um alto nível ficando algumas partidas no banco de reservas ficou somente no papel.
Brock Osweiler também faz parte dessa lista. De ambas as listas, tanto as dos jogadores que receberam uma chance em Denver quanto daqueles que fracassaram com a titularidade em pauta.
Esses foram os três quarterbacks recrutados por Denver na era Manning.
Sem que nenhum deles vingasse, Elway e companhia foram ao mercado. A aposta então foi Case Keenum, que vinha de sólida temporada com o Minnesota Vikings em 2017. Todavia, o 2018 de Keenum acabou sendo a primeira e única temporada dele no Colorado. Ele foi trocado para o Washington Redskins após um campeonato abaixo do esperado, mais um.
As mudanças não param por aqui.
Joseph caiu, e Vic Fangio, o qual foi o coordenador defensivo da ótima defesa do Chicago Bears no ano passado, foi contratado.
Defesas comandadas por Fangio terminaram entre as cinco melhores da NFL em pontos por partida em sete das últimas 12 temporadas. E coordenadores com tamanho sucesso naturalmente ganham oportunidades como comandante principal de um elenco.
A era Fangio em Denver terá como titular imediato, ao que tudo indica, Joe Flacco. O ex-Baltimore Ravens foi adquirido nesta offseason como uma solução a curto prazo para os Broncos.
Ao começar na semana 1 (fora de casa contra o Oakland Raiders), Flacco será, então, o quinto quarterback titular — dos últimos cinco anos — a vestir a camisa dos Broncos. Mas o que está por trás do ex-Baltimore Ravens em Denver vai além de “só começar um jogo”.
Flacco também tem outra missão.
Além de manter os Broncos competitivos por pelo menos uma temporada, ele, preocupado ou não, será um “modelo” para Drew Lock. Lock, recrutado na segunda rodada do Draft 2019, é a mais nova tentativa dos Broncos de encontrar uma solução under center.
Lock foi avaliado como um dos principais quarterbacks da classe. Muitos especialistas esperavam que o ex-Missouri fosse até chamado no primeiro round. Entretanto, ele acabou caindo para o segundo dia do recrutamento, sendo o quarto QB chamado.
Os motivos de tal queda certamente não são força dos lançamentos, mecânica, entendimento de jogo, habilidade atlética… Tampouco compreendimento de playbooks e experiência universitária. Lock sobressai em todos esses quesitos. A maior preocupação quanto a Lock é que o toque na bola e precisão carecem de mais consistência. Além disso — e aqui talvez seja a grande preocupação —, Lock mostrou problemas sob pressão e quando enfrentou os melhores adversários no college football (Georgia e Alabama, por exemplo).
As armas para ser um sólido titular existem. O potencial de Lock é alto. A questão é que ele aparenta ser o quarterback da classe 2019 que mais precise de tempo para vingar. Experiência, adaptação e aprendizado serão cruciais para o sucesso do jovem QB.
E algumas peças dessa nova fase em Denver, parte do projeto a longo prazo da equipe também, possivelmente foram recrutadas neste ano da mesma forma.
Noah Fant é um dos tight ends com mais apurado instinto vertical dos últimos anos. Dalton Risner, chamado uma pick acima de Lock, foi mais um reforço para a linha ofensiva. Reforçar o grupo de bloqueadores é sempre uma ideia sensata, ainda mais neste caso. E o prospecto de terceira rodada Dre’Mont Jones foi recebido com ótimas expectativas. Jones despertou comparações com Malik Jackson, DT e peça fundamental no elenco dos Broncos que conquistou o Super Bowl 50.
Tais prospectos se juntam a um elenco que já tem uma dupla de pass rushers formada por Von Miller e Bradley Chubb na defesa. Chris Harris na secundária, idem (pelo menos é o que parece). E no ataque, uma das gratas surpresas da NFL em Phillip Lindsay.
A atual era na NFL, defensivamente, consiste em pressionar o quarterback adversário. Ser consistente no pass rush, portanto, é algo primordial. Os Broncos parecem melhorar cada vez mais nesse quesito.
Porém, nada adianta ter 50 sacks em uma temporada, se do outro lado da bola o quarterback titular sofre para beirar os 20 passes para touchdown.
Denver sabe bem disso. E já não vê a hora de deixar de saber.