Draft da NFL, graduação, transferências entre universidades… A offseason do college football tira dezenas de jogadores de seus times na transição de uma temporada para outra. É o equivalente às trocas, contratações e até mesmo aposentadorias na NFL.
Enquanto a liga profissional tem o Draft e a free agency para suprir tais perdas, as universidades contam com um recrutamento a fim de complementar seus elencos.
Ao contrário do Draft da NFL, que os prospectos chamados não escolhem para onde vão (com uma ou outra exceção, claro), os jovens universitários costumam ter um leque de opções para definirem onde vão atuar.
Vamos falar mais sobre isso.
Como o recrutamento funciona
O processo de recrutamento pode ser diferente dependendo do esporte e divisão da universidade em questão, mas em geral a estrutura é a mesma. É o processo em que treinadores buscam jovens estudantes/atletas durante a offseason, os quais estão jogando futebol americano a nível de high school.
O contato entre a comissão técnica das faculdades e os estudantes podem e costumam acontecer quando esses estão terminando o segundo ano (dos quatro) de high school, o qual é chamado de sophomore year, introduzindo o junior year. Em outras palavras, as universidades podem aproximar de um estudante pouco mais de dois anos antes de esse se formarem no ensino médio.
Assim sendo, de um lado, os times universitários tentam reforçar os planteis. Do outro, jovens estudantes ganham a oportunidade de irem à uma faculdade com bolsa acadêmica integral.
Uma vez selada essa “parceria” entre estudante e escola, os jovens vão em busca de traçar uma carreira de sucesso, seja no futebol americano (ou outro esporte), seja no profissão estudada durante os anos universitários. Ao mesmo tempo, as universidades ganham com o rendimento desses dentro de campo.
O limite no recrutamento
Para as faculdades, é sempre interessante ter os melhores prospectos no elenco. Isso significa competitividade, melhor público nos jogos, melhores contratos televisivos (mediado pela instituição, conferência ou independentemente) e, no fim do dia, mais lucro. Tenha em mente que as faculdades arrecadam milhões anualmente. Aliás, isso é um dos pontos centrais do debate sobre se os jogadores universitários deveriam ou não ser pagos. Assunto para outrora, contudo.
Portanto, essas fazem “de tudo” para conseguirem ficar com os melhores atletas. Contudo, a NCAA estipulou um limite para isso.
A instituição define como recrutamento “qualquer solicitação de futuros estudantes/atletas ou seus pais por um membro da equipe institucional (da universidade) ou representante dos interesses atléticos da universidade para propósitos de assegurar a matrícula aos futuros estudantes/atletas e participação final no programa de atletismo intercolegial da instituição.”
Os estudantes/atletas devem se interessar por uma faculdade/universidade pelas condições internas que essa oferece a eles. Qualquer aproximação da faculdade que seja essencialmente diferente da definição acima é contra as regras.
Basicamente, é permitido que os profissionais ligados à parte esportiva da universidade contatem os estudantes/atletas, e mostrem, informem e apresentem tudo que eles terão acesso se decidirem se vincular à instituição. É isso.
A rotina dos treinadores
Nick Saban, Dabo Swinney, e todos os head coaches do college football são os principais responsáveis por reforçar seus times de futebol americano. Em geral, eles estão para as universidades assim como os general managers estão para as franquias da NFL.
Ao término de cada campeonato, os treinadores visitam high schools a fim de avaliar os jovens que mais o agradam, ou solicitam que esses visitem às próprias universidades. Neste caso, existem dois tipos de visitação à instituição, oficial e não oficial, sendo o primeiro caso totalmente pago pela organização. Aqui, sim, isso é permitido pela NCAA.
Mas o enorme leque de opções complicam as coisas neste caso.
Existem dezenas de centenas de escolas espalhadas pelos Estados Unidos que precisam estar no radar dos head coaches universitários. Estar atento à maioria delas é chave para buscar nomes de destaque.
Como eles ficam sabendo de todos eles? Bom… Claro, várias high schools já fazem parte da lista dos treinadores. A St. Thomas Aquinas High School em Fort Lauderdale, Florida, certamente é uma delas. Essa é a escola que atualmente tem mais jogadores atuando na NFL. Entre os principais que já passaram por lá estão Michael Irvin e Joey Bosa.
Em termos de história, a Long Beach Polytechnic High School (Long Beach, CA) é referência. Com um departamento esportivo maior até que algumas faculdades de divisões menores, a escola soma quase 60 ex-alunos que chegaram à NFL.
Além de seguir algumas “vitrines”, os head coaches universitários têm contatos. Contatos esses que na maioria das vezes são técnicos do time de futebol americano do high school. Importante ressaltar que esses técnicos são de suma importância para os estudantes/atletas, já que são responsáveis pela índicação sobre o aluno.
Se os treinadores não se conhecerem e a escola não estiver na lista “das mais conhecidas”, enviar vídeos é a alternativa mais conveniente. Isso mesmo, ter as imagens de um lance impressionante em um jogo de high school e enviar para os técnicos universitários pode despertar interesse desses. O filme “Um Sonho Possível” mostra isso muito bem, diga-se de passagem.
Isso acontece para praticamente todos os técnicos. Quanto melhor for o estudante/atleta, mais ofertas de bolsa acadêmica aparecem. Então, resta a ele definir seu destino. Neste caso, a estrutura da universidade, elenco em questão, projeto apresentado pelo treinador, questões geográficas, entram em pauta para a decisão final do estudante/atleta.
Como as expectativas high school-NFL se concretizam
Hoje em dia está cada vez mais fácil de descobrir “aquele jogador que recebeu a bola ‘de cabeça para baixo”. Ou o autor do tackle que tirou o capacete do adversário. Uma vez descoberto, todos querem saber mais sobre aquele jogador, até onde ele pode chegar e qual será a trajetória até o profissional.
O futebol americano praticado em high school também conta com avaliações, projeções e análises sobre a carreira. Algo parecido com o que se vê antes do Draft da NFL. Steals, boosts, o melhor da classe… Coisas deste tipo. Mas no high school os estudantes/atletas são avaliados por meio de estrelas, sendo o de melhor potencial com cinco dessas.
Quem avalia? Vários sites fazem isso; os principais são: Rivals, 247Sports e ESPN. Eles oferecem, além das avaliações, highlights e notícias, incluindo a linha do tempo das faculdades que ofereceram bolsas cada estudante/atleta.
Consequentemente, a offseason do college football no sentido de qual universidade melhor se reforçou passa pela quantidade de estudantes/atletas com muitas estrelas que essa recrutou.
Nas faculdades da primeira divisão do futebol americano universitário, a NCAA permite que hajam até 85 estudantes/atletas no time por meio de bolsa acadêmica (63 bolsas para segunda div.), sendo que uma instituição não pode ultrapassar 25 dessas fechadas por ano acadêmico.
Para 2019, por exemplo, a universidade de Alabama perdeu 21 jogadores, sendo sete no Draft. Com isso, reforçou bastante seu elenco por meio do recrutamento na offseason, adquirindo um total de 27 estudantes/atletas. Desses, três jogadores foram avaliados como Top 10 da classe por todos os sites citados acima. Eles incluem o offensive lineman Evan Neal, concensualmente cinco estrelas para todos. Mais de 30 instituições ofereceram bolsa acadêmica a Neal.
Esse caso, contudo, não é exceção — pelo contrário.
Ao longo dos anos, vimos vários estudantes/atletas despertando o interesse de dezenas de universidades. Isso é algo normal. Mas saiba que cometer erros entre um prospecto e outro já aconteceu muito no recrutamento do futebol americano universitário. De um atleta fracassar, idem.
Os diferentes tipos de carreira
Entre os casos de bust, nenhum tem enorme repercussão como é visto na transição universitário-profissional já que os estudantes/atletas nunca estabeleceram um legado. No entanto, a lista conta com várias situações.
O linebacker Willie Williams foi avaliado acima de nomes como Calvin Johnson e Marshawn Lynch em 2004, mas nunca conseguiu manter uma carreira em Louisville por problemas fora de campo, incluindo prisão por posse de drogas.
Um ano depois, o wide receiver Fred Rouse foi avaliado como o segundo melhor jovem prospecto e decidiu defender Florida State. Contudo, sua carreira universitária durou apenas seis recepções, 116 jardas e um touchdown. Ele testou positivo várias vezes para substâncias ilegais pelos Seminoles, assim como em suas tentativas em UTEP e Texas Southern. O legado “profissional” de Rouse ficou resumido à uma curta passagem pela CFL.
Por outro lado, podemos lembrar de outros eventos, como o de Peyton Manning e Jimmy Clausen.
Manning despertou interesse em mais de 60 universidades, das quais escolheu Tennessee. Clausen, por sua vez, foi visto por muitos como o melhor quarterback de high school de todos os tempos. Vários treinadores universitários o descreveram como “uma vez por década” nas avaliações.
Todavia, há outra grande diferença nessas narrativas.
Enquanto Manning prosperou pelos Volunteers e acabou vencendo dois Super Bowls e se tornou um dos principais QBs da história da liga, Clausen foi perdendo valor durante sua passagem por Notre Dame. O desenvolvimento abaixo do esperado e a personalidade do quarterback fizeram com que ele caísse para a segunda rodada em 2010. Mais que isso, a carreira de Clausen ficou marcada por 14 jogos como titular, com somente uma vitória.
Falando em Manning, o sobrinho de Peyton, filho de Cooper, o irmão mais velho da casa, fez sua estreia por Isidore Newman School há algumas semanas — e muito bem por sinal. Essa é a mesma escola que os três irmãos Manning defenderam, e que pode produzir mais um talento under center.
Arch Manning fará parte do recrutamento em breve.