Como mostrado no fim do capítulo IV, havia nos Estados Unidos, além da NFL, a All-America Football Conference (AAFC), que tentava competir com a National Football League no ramo do futebol americano nacional. Contudo, se para uma liga de maior porte, com mais equipes, público, etc., já era complicado prosperar, imagine para uma que bem menor, Pois foi isso que aconteceu: a AAFC, a qual tinha times conhecidos, como San Francisco 49ers, Cleveland Browns e Baltimore Colts, acabou fechando as portas, fazendo com que praticamente todas as suas equipes fossem para a NFL.
A entrada de novas (e boas) franquias fez bem para a National Football League. Deu mais competitividade para a liga, levou ótimos jogadores e foi ponto chave na efetivação do futebol americano como o esporte favorito dos americanos. Vale a pena relembrar tempos em que Johnny Unitas e Otto Graham brilhavam pela NFL, e o Cleveland Browns foi considerado o time a ser batido.
“História da NFL”
– National Football League (NFL): Como tudo começou (1920)
– A grande depressão, a quebra de um padrão e o surgimento das primeiras lendas: A década de 1930 da NFL
– 2ª Guerra Mundial, a cultura do jogo e o fim da barreira racial: A década de 40 da NFL
AAFC vai abaixo e NFL prospera: as novas franquias brilham imediatamente
Paul Brown, head coach dos Browns na década de 1950, sabia que não seria fácil estar na NFL após alguns anos dominando a AAFC, dentro e fora de campo. Cleveland dominou a extinta liga, conquistando todos os títulos possíveis entre 1946 e 1949 (período em que a AAFC funcionou); tal fato, todavia, não era visto com bons olhos pela NFL, que, como definiu o defensive end Dante Lavelli, não gostava dos Browns. Além do desafio externo, dentro de campo Cleveland teria desafios melhores e maiores se comparado aos anos anteriores. A pergunta em questão era: conseguiria o Cleveland Browns manter o sucesso na NFL?
Logo de cara, Brown deu aos Browns algumas inovações, como novas funções aos guards, playbooks até então não vistos e sala de vídeo para estudos do adversário – lembre-se que um ano antes disso, Cleveland já tinha assinado com dois ótimos jogadores Afro-Americanos.
O resultado de tudo isso foi imediado na nova liga: logo na estreia, os Browns desbancaram os Eagles, bicampeão da NFL, por 35-10. Otto Graham, além de ter brilhado naquela tarde, mostrou a todos o que Cleveland era capaz de fazer. Nas próximas oito temporadas desde então, os Browns disputaram sete finais da NFL, vencendo três, sendo que o time parou nas semi-finais em 1958. Vale ressaltar que o Detroit Lions foi o grande obstáculo no caminho de Cleveland em termos de conquistas nesta época – Lions e Browns se encontraram em decisões quatro vezes entre 1952 e 1958, com a franquia de Detroit vencendo em três ocasiões (1952, 1953 e 1957) — diga-se de passagem, a temporada de 1957 foi a última vez que os Lions conquistaram um título, incluindo a era-Super Bowl.
Paralelamente ao sucesso do Cleveland Browns, vimos os outros dois times de maior consideração da AAFC com certo sucesso na NFL, o San Francisco 49ers e principalmente o Baltimore Colts. Os Niners na época, apesar de um elenco muito equilibrado, sentiam a ausência de grandes estrelas, fato que separava a equipe de campanhas boas e campanhas com título. Já os Colts, viram seu sucesso começar quando Johnny Unitas assumiu a titularidade da equipe em 1956.
A entrada de Unitas fez com que Baltimore dominasse o fim da década, tendo conquistado dois títulos (1958 e 1959), um deles conhecido como…
The Greatest Game Ever
É isso mesmo, há quase 60 anos aconteceu aquele que para muitos é considerado o melhor jogo de todos os tempos da NFL. De um lado, o Baltimore Colts, do outro, o New York Giants, valendo título. O palco da partida foi o Yankee Stadium, em Nova Iorque. Mas por que justo esta partida pode ser considerada a melhor da história? Bom, são necessários alguns aspectos para chegar a este tipo de conclusão e saiba que ela nunca será unânime. Todavia, o que o futebol americano se tornou depois daquela final, interna e externamente, é algo quase impossível de ser relatado.
O jogo em si – suponhamos que fosse a estreia da temporada ou um amistoso – já teria sido espetacular. Os Colts venciam por 14-3, liderados pela inteligência de Unitas, corridas de Alan Ameche e segurança de Raymond Berry. Porém os Giants, liderados por várias lendas como Frank Gifford, Emlen Tunnell e Roosevelt Brown, conseguiram virar o placar para 17-14. Em seguida, Baltimore teve forças para empatar o confronto em 17 tentos com apenas sete segundos restantes (esta campanha final dos Colts, aliás, foi a primeira vez que a liga teve um esboço do que chamamos hoje de Two-Minute Warning)… — Sim, sive que resumir o jogo aos pequenos detalhes porque, acredite, qualquer tentativa de explicar todas as jogadas daquela partida mereceria um livro.
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Continuando: algo inédito na história da NFL estava acontecendo. Uma partida de playoff nunca havia terminado empatada e, como se não bastasse, a primeira era uma decisão. A solução? Morte súbita; o primeiro a marcar vence. Então aquele esporte, que muitos questionavam ou ainda achavam sem graça, de repente coloca todos aqueles que estavam assistindo em casa (sim, o jogo estava sendo televisionado) ou no estádio como uma parte de tudo que estava ali.
No fim das contas, Johnny Unitas mostrou porquê é um dos maiores de todos os tempos, liderou uma nova campanha de 80 jardas que terminou em corrida de Ameche e deu o troféu aos Colts.
Consequências de tudo isso: o futebol americano nunca mais foi o mesmo. Sua imagem, finalmente, estava diferente; o Two-Minute Warning é uma peculiaridade do jogo e seu valor financeiro ultrapassou qualquer expectativa; a audiência dos americanos subiu assustadoramente nos anos seguintes, até que quatro anos após a decisão, a NFL assinou seu primeiro contrato de TV nacional. Contrato que atualmente dá mais de US$ 100 milhões à liga – sem aquele desfecho de 1958, qual seria este valor? O baseball viu que não era mais soberano nos Estados Unidos…
A história estava ali. O futebol americano profissional como vemos atualmente poderia (e deveria) não ser o mesmo se não fosse por aquela noite de 28 de dezembro. Nunca mais existirá uma partida com tamanha influência e impacto quanto o maior jogo de todos os tempos.
(Capítulo V) National Football League (NFL): A década de 1960 – no site em 17/03
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