Enfim chegamos à década de 1990 da NFL. Assim como na década de 1970 (e ao contrário da década de 1980), os anos 90 ficaram conhecidos pelos vários grandes momentos de alguns times, e não apenas de um ou outro. Certamente que do mesmo modo que os Steelers dominaram os anos 70 e os 49ers foram soberanos nos anos 80, a década de 1990 teve aquela equipe que mais se destacou – e finalmente o Dallas Cowboys entra na história; contudo, a paridade daquele período faz dele um dos mais marcantes da história da National Football League.
Falar da década de 1990, continuando, é falar de uma época em que quatro times diferentes disputaram dois Super Bowls consecutivos (Buffalo Bills, Dallas Cowboys, Green Bay Packers e Denver Broncos), sendo que isso inclui quatro decisões em sequência dos Bills, e três em um intervalo de quatro temporadas dos Cowboys. Repare ainda que são duas equipes da Conferência Americana e duas da Nacional, o que tornou as coisas ainda mais interessantes.
Antes de qualquer outra coisa, lembre-se que estamos numa época em que os ataques estão sobressaindo – impulsionados pelo “West Coast Offense” implantado nos anos 80. Talvez por isso, tanto jogadores de ataque excelentes apareceram na década de 1990 – destaque aqui para os running backs, que talvez nunca estiveram tão bem representados na liga quanto neste tempo. Por exemplo, estou falando de Troy Aikman, Emmitt Smith, Michael Irvin, Brett Favre, Kurt Warner, Marshall Faulk… Enfim, são dezenas de Hall of Famers que encantaram os olhos dos fãs da NFL por muito tempo.
Em meio à tanta qualidade, a década de 1990 da NFL ficou ainda mais interessante pelas “redenções” que nela aconteceram. Dois times, afinal, voltaram ao topo do futebol americano; um quarterback “amarelão” deu a volta por cima e garantiu logo dois anéis; o mundo viu um dos melhores ataques de todos os tempos. Em contrapartida, não pense que apenas as glórias reinaram neste período. O Buffalo Bills sabe bem disso.
Veja mais: “História da NFL”
– (Cap. I) Como tudo começou
– (Cap. II) A grande depressão, a quebra de uma padrão e o surgimento das primeiras lendas
– (Cap. III) 2ª Guerra Mundial, a cultura do jogo e o fim da barreira racial
– (Cap. IV) O maior jogo de todos os tempos e o fim da AAFC
– (Cap. V) Vince Lombardi faz história e a AFL entra em pauta
– (Cap. VI) Defesas dominantes e uma temporada perfeita
– (Cap. VII) “West Coast Offense” e o destino adverso para alguns times
Os ataques continuam aparecendo, e as redenções acontecem
Pela primeira vez em sua história, a NFL via uma abundância de grandes ataques. Acredito que podemos dizer que pela primeira vez também, as discussões sobre o melhor quarterback da liga não ficavam restritas apenas à dois ou três nomes aproximadamente. Por exemplo, o Dallas Cowboys tinha seu trio, com Troy Aikman, Emmitt Smith e Michael Irvin. O Buffalo Bills era comandado pelo ótimo braço de Jim Kelly em seu “Red Gun Offense”. Já o San Francisco 49ers, contava com Steve Young passando a bola para Jerry Rice. O Green Bay Packers, por sua vez, tinha o talento de um novo em folha Brett Favre. E não se esqueça nem do Denver Broncos de John Elway e Terrell Davis, nem do St. Louis Rams de Kurt Warner, Marshall Faulk, Torry Holt e Isaac Bruce.
Saiba ainda que Dan Marino continuava fazendo mágica no Miami Dolphins, Drew Bledsoe era o titular absoluto do New England Patriots, Warren Moon doutrinava pelos Oilers, Vikings ou Seahawks, e Randall Cunningham e Steve McNair encantavam o mundo com suas corridas.
Coincidência ou não, tenha mente que dos 11 quartebacks citados nos parágrados acima, sete estiveram em pelo menos um Super Bowl, sendo que cinco deles foram campeões – por algum momento, acredite, os ataques já ganharam troféus na NFL.
Especificamente falando, tais poderios ofensivos, entre outras coisas, serviram para mostrar ao mundo do futebol americano que algumas equipes estavam de volta – duas principalmente. Além disso, foi responsável pelo momento mais glorioso da carreira de John Elway, quando todos menos esperavam. No caso do Dallas Cowboys, por exemplo, o time amargou sete temporadas de baixa, período em que esteve na pós-temporada apenas uma vez (sendo derrotado pelos Rams por 20-0). Neste tempo, Dallas chegou a ter campanha 4-28 se contados os anos de 1988 e 1989. Este cenário só começou a mudar quando Jimmy Johnson (na época muito criticado) se tornou head coach da equipe, e as péssimas campanhas resultaram em ótimos Drafts (entre 1988 e 1990, a primeira escolha dos Cowboys em cada ano foi Irvin, Aikman e Smith, nesta ordem). O resultado de tudo isso foi um dos períodos mais gloriosos da história da franquia.
LEIA TAMBÉM: Aikman-Smith-Irvin: o trio mais marcante da história da NFL
Processo parecido com o dos Cowboys também aconteceu com o Green Bay Packers. Aquele ótimo time da década de 1960, não conseguia se impor mais na NFL. Para se ter uma noção, entre 1973 e 1992, Green Bay esteve nos playoffs apenas uma vez, tendo alcançado apenas quatro campanha com mais vitórias do que derrotas neste período. Justamente em 92, o treinador Mike Holmgren foi contratado, assim com Brett Favre. Um ano mais tarde, Reggie White se juntou ao time, dando o equilíbrio necessário para que a equipe prosperasse. E aconteceu: os Packers estiveram na pós-temporada em seis temporadas consecutivas, incluindo duas aparições em Super Bowl, e um título.
Como mostrado, os Packs acabaram sendo derrotas em um dos dois Super Bowls que disputaram. E é justamente este revés que deu à década de 1990 da NFL sua grande história da redenção.
No capítulo VII desta série, foi mostrado que o Denver Broncos, já comandado por John Elway, foi capaz de aparecer em três Super Bowls (num intervalo de quatro anos), mas acabou não vencendo nenhum. Elway, na época, era considerado um grande “amarelão” e seu legado na NFL, mesmo que muito bom, estava longe de ser o que vemos atualmente. O camisa #7 planejava se aposentar no fim dos anos 90 e o cenário não era favorável para que ele voltasse a um Grande Jogo. Contudo, “os deuses do futebol americano” colocaram dois Super Bowls nos dois últimos anos da carreira profissional de Elway – e o desfecho de tudo isso é brilhante. John comandou os Broncos de uma maneira espetacular nos dois confrontos e enfim deu o primeiro (e segundo) Troféu Vince Lombardi ao Colorado.
Por outro lado…
Quem é torcedor sabe: ver seu time perdendo em uma decisão talvez seja a pior coisa quando o assunto é esporte. Ainda mais se esta final for uma daquelas que não acontece sempre. No basebol, temos a World Series. No basquete, as finais da NBA. No futebol, a Libertadores e a UEFA Champions League. No futebol americano, o Super Bowl.
É extremamente complicado prosperar no football e só quem acompanha o esporte sabe os obstáculos existentes para as equipes ao longo dos anos. Isso faz com que uma aparição em Super Bowl seja algo memorável, e uma eventual derrota seja lamentada por alguns meses. Agora imagine ver seu time sendo derrotado quatro vezes em Super Bowl, sendo elas de forma consecutiva? Pode parecer algo meramente imaginário, mas não; isso aconteceu com o Buffalo Bills entre as temporadas de 1990 e 1993.
Pode ser estranho ouvir isso, mas Buffalo é o único time da história da NFL a disputar quatro Super Bowls consecutivos; porém é também uma das 13 franquias da liga que nunca conquistou um anel.
Para piorar ainda mais as coisas (ou não), pode-se dizer que cada um desses reveses aconteceu “de um tipo”. Teve aquele “normal” (que o melhor time da noite venceu), que foi o Super Bowl XXVIII, para os Cowboys. Teve também o inexplicável, quando os Bills sofreram nove (!) turnovers e saíram de campo derrotados por 52-17. Claro, não poderia faltar, o inacreditável – e a história desse todos já sabem. O Buffalo Bills perdia por um ponto a oito segundos do fim e o time tinha um field goal de 47 jardas pela frente. Sim, Scott Norwood errou e os Giants foram campeões naquele ano.
É difícil – e injusto – apontar culpados para estes quatro anos do Buffalo Bills. Os turnovers castigaram aquele time, o field goal poderia ter entrado, Jim Kelly não esteve em seus melhores dias em alguns deles… Enfim. A verdade é que desde então, Buffalo nunca mais disputou um Grande Jogo. Pior: nem sequer chegou à final da Conferência Americana novamente.
LEIA MAIS: Buffalo Bills, uma vítima na arte de perder Super Bowls
Fatos/curiosidades da época
- Após vencer e ter sido nomeado o MVP do Super Bowl XXXIII, John Elway se aposentou, tornando-se o único jogador da história da NFL a ter vencido o MVP da decisão no último jogo de sua carreira;
- Ao longo do texto, foi falado que em 1992 os Packers contrataram Brett Favre, um fato que pode ter gerado estranheza para muita gente, que pensava que o camisa #4 fora Draftado por Green Bay, onde atuou por 15 anos. Mas não. Favre foi uma escolha de segunda rodada do Atlanta Falcons em 1991. Contudo, em Atlanta, ele tentou apenas quatro passes até ser trocado para os Packers – Veja mais fatos sobre a carreira de Brett Favre clicando aqui.
Fontes: Wikipedia, Pro Football Hall of Fame, History.com, The Official Treasures of the NFL.
(Capítulo VIX) National Football League (NFL): A década de 2000 – no site em 24/03
Gostou do texto? Não se esqueça de compartilhá-lo! Entre em contato conosco pelas nossas redes sociais, deixando seu comentário e opinião sobre o assunto.
–
Siga-nos no Twitter @ShotgunFA
Curta no facebook.com/shotgunfootball