Por um momento da temporada passada, uma das vagas para os playoffs da Conferência Nacional era dada como certa para o Carolina Panthers. Afinal, o time tinha campanha 6-2 após metade do campeonato e vinha fazendo boas atuações. Contudo, Cam Newton e companhia caíram de produção, a defesa não estava preparada/ajustada para manter o nível que o sistema ofensivo havia atingido, e os Panthers saíram derrotados em sete dos últimos oito jogos disputados. Fora da pós-temporada, consequentemente.
De fato, o principal fator para a decadência de Carolina na segunda metade de 2018 foi o rendimento do sistema ofensivo comandado por Newton. Todavia, na campanha da equipe como um todo, o sistema defensivo se mostrou apático. Nada parecido com outros setores que já passaram pelas mãos de Ron Rivera em Charlotte.
Os Panthers foram abaixo da média em vários quesitos. O principal deles foi na pressão aos quarterbacks adversários: os 35 sacks totais do time foram apenas a 27ª melhor marca da NFL. Os 71 hits em QBs também não impressionam. Como comparação, as duas franquias que lideraram a liga em sacks tiveram 52 cada (Chiefs e Steelers).
A narrativa do pass rush ficou ainda mais complicada com a aposentadoria de Julius Peppers, nº 2 do elenco em sacks em 2018 com cinco.
Outro ponto vulnerável da defesa dos Panthers foi o combate ao jogo corrido. As 1.804 jardas terrestres cedidas em toda a temporada (112,7 por confronto, 12ª melhor da NFL) camuflam parte do problema neste caso. Afinal, as 4,7 jardas permitidas por corrida configuraram a oitava pior marca da liga.
Vale lembrar que o sistema defensivo dos Panthers está em transição para um novo esquema 3-4, no segundo ano sob o coordenador de defesa Eric Washington, que essencialmente terá uma formação híbrida e mais dinâmica. A versatilidade é um ponto chave a partir de agora para Carolina, portanto.
Dito (tudo) isso, não há dúvidas sobre o porquê de os Panthers terem ajustado US$ 9 milhões no teto salarial (corte oficial de Matt Kalil e reestruturação contratual de Torrey Smith) buscado ficar em posição de persuadir Gerald McCoy.
Dispensado pelo Tampa Bay Buccaneers após nove temporadas defendendo a franquia, McCoy optou por assinar com os Panthers por um ano, US$ 8,4 milhões, podendo chegar aos US$ 10,3 milhões através dos incentivos.
McCoy se tornou um dos melhores defensive tackles da NFL desde 2010, quando foi recrutado como terceira escolha geral daquela classe. O ex-Oklahoma soma seis Pro Bowls e três All-Pro Teams, além de 53,5 sacks na carreira, desde então.
A expectativa em Charlotte é que a chegada do veterano tenha impacto pontual no sistema defensivo da franquia, direta e indiretamente. Parece ser apenas questão de tempo até isso acontecer.
O que McCoy acrescenta para a defesa do Carolina Panthers
McCoy parece ser o nome ideal neste momento para um elenco que precise de tempo para desenvolver jovens defensores, enquanto ainda atuando a nível de um Pro Bowler.
Assim sendo, o DT entra em 2019 com pelo menos cinco sacks por temporada desde 2012. Foram seis em 2018 (12 desde 2017) e tais números, mesmo que não tão sólidos como outrora o atleta obteve, acrescentam para o plantel de Carolina. Lembrando: Peppers foi o segundo jogador da equipe em sacks no ano passado com cinco.
Ao todo, além dos sacks, McCoy teve 21 hits em quarterbacks e seis tackles para perda de jardas nas 14 ocasiões em que foi titular durante 2018.
O fato de McCoy ser DT de origem não impede que ele “caia como uma luva” no novo (e versátil) sistema defensivo de Rivera. Isso pois ele tem o tamanho e agilidade para atuar como defensive end, apesar de ter sido posicionado no interior da linha defensiva durante grande parte de sua carreira.
Imaginando o novo esquema 3-4 dos Panthers agora, McCoy pode — e deve — facilmente ser um dos DLs posicionados na ponta da linha, com Kawann Short na outra extremidade e Dontari Poe centralizado. Lembrando ainda que Mario Addison, o qual liderou o time em sacks na temporada passada (9), pode atuar tanto como um defensive end nesta formação quanto como por fora, agindo como um outside linebacker.
Escolha de primeira rodada em 2016, e ainda buscando se provar na NFL, Vernon Butler faz parte desse plantel de interior defensive linementambém.
Entre os OLBs, os Panthers também contam com Bruce Irvin, contratado neste ano, e Brian Burns, 16ª escolha geral do Draft 2019. Importante ressaltar que Burns é listado como defensive end. No entanto, a velocidade/agilidade do ex-Florida State faz dele uma arma peça adequada para ambas as funções. Porém Burns não é único calouro nesta conversa: o time recrutou o OLB Christian Miller, de Alabama, na quarta rodada.
Tudo isso para um arsenal defensivo liderado pelos linebackers Luke Kuechly e Shaq Thompson. Nada mal.
Em geral, é possível imaginar os Panthers como uma formação parecida com esta:
Importante ressaltar que a imagem acima deve ser refletida principalmente em primeiras e segundas descidas “normais”. Em situações óbvias de passe, todavia, McCoy tende a ser posicionado em sua função natural, por dentro. Algo parecido com isto:
Além de tal versatilidade e variação em situações específicas das partidas, McCoy dá aos Panthers uma referência/liderança no primeiro nível da defesa. Mais que isso: Burns e, principalmente, Miller precisarão de tempo para se adaptarem ao futebol americano profissional, ainda mais em um sistema defensivo em transição. Sem McCoy, Carolina provavelmente não teria outra saída a não ser colocar Burns de titular “a qualquer custo”, aumentando o risco de “queimar” o prospecto.
No entanto, este não é o caso agora.
Claro, ainda pode acontecer. Porém a chegada do veterano faz com que Rivera tenha mais tempo para lançar os jovens pass rushers apropriadamente.
Por fim, não se esqueça que Poe, o qual deve começar o campeonato 2019 como nose tackle titular, vem de um dos piores anos de sua carreira. Além disso, ele recorrentemente tem problemas quanto ao seu peso, a ponto até que condições/cláusulas quanto a isso estão impostas no atual contrato do jogador. Caso ele falhe nesse sentido, McCoy seria uma sólida opção para substituto.
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Os Panthers sabiam que precisavam reforçar o sistema defensivo, especificamente o front seven, para 2019. O time já havia feito isso no começo da free agency e, em especial, durante o draft. Mas nada é tão bom que não possa melhorar.
Adquirir McCoy impacta a curto e longo prazo neste elenco.
A única maneira de parar um QB de elite é pressionando-o. E uma das poucas alternativas de parar um pass rusher em alta é executando bloqueios duplos.
Pelo que foi visto, se o novo esquadrão de frente de Carolina engrenar, as linhas ofensivas adversárias terão problemas a partir de setembro.
A menos que até lá essas consigam ter, pelo menos, oito bloqueadores em campo.