O Draft é a forma mais conveniente para que um time construa um elenco vencedor na NFL. Mais que isso, o recrutamento é também uma das maneiras de uma equipe se manter em alta não apenas por um ou dois anos.
De fato, não existe uma receita para obter um “draft perfeito”. Surpresas, positivas e negativas, sempre acontecem no evento e mudam a narrativa de uma equipe. A questão é que, principalmente nos últimos anos, frente à uma nova era em termos de salários, valorização das posições, treinadores e estilo de jogo, tem sido comum ver times repetindo erros “infantis” no dia do draft. Isso sempre aconteceu é verdade, tendo em visto que o recrutamento é um grande “jogo de apostas”. A questão é que, quando um erro acontece, é preciso aprender com ele.
Assim sendo, foram separados três de alguns dos erros mais comuns (e importantes) cometidos pelas equipes no Draft da NFL. Estamos a poucos dias do Draft 2019 e isso pode ajudá-lo, leitor, a entender a avaliação final da classe do seu time nesta temporada.
Considerando que uma refinada avaliação sobre os prospectos por parte dos scouts foi feita e que todas as necessidades do elenco são conhecidas, é preciso evitar…
Supervalorizar os resultados do Combine
Em geral, o Combine da NFL configura uma série de atividades, separadas por posição, em que os prospectos participam a fim de impressionar os scouts das franquias. Ou seja, ele influencia diretamente na avaliação dos atletas universitários para com as equipes profissionais.
Acontece que muitos times superestimam a atuação de determinado jogador no Combine. Os casos mais comuns acontecem no “Tiro de 40 jardas”, talvez o exercício mais badalado do evento. De fato, os jogadores que executam a atividade com ótimo tempo mostram que são rápidos, algo relevante para a NFL. Contudo, é comum ver franquias “mudando de opinião” de acordo com o que é visto no Combine — e isso é um erro.
Ver um recebedor correr as 40 jardas em 4,30 segundos não significa que ele tem a noção de campo necessária para sobressair no futebol americano profissional. E nem que um defensor que teve 50 repetições no supino é instintivo o bastante para se firmar na liga. Tampouco que um quarterback que acerta todos os passes com bom toque durante o Combine repetirá o feito durante uma partida oficial.
Tom Brady é o grande exemplo após ter protagonizado uma apresentação ruim no Combine, o que contribuiu para que ele caísse até a sexta rodada em 2000. Três anos mais tarde, Terrell Suggs foi selecionado na 10ª escolha geral apesar de dividir opiniões entre uma carreira universitária impressionante e um Combine decepcionante. Os vídeos dentro de campo falaram mais alto.
Em contrapartida, naquele mesmo ano, a atuação ruim no Combine pesou mais do que as boas temporadas no college football para Anquan Boldin, o qual acabou caindo para a segunda rodada. O mesmo pode ser dito para Jarvis Landry em 2014, e principalmente para Antonio Brown em 2010.
Mais recentemente, em 2017, John Ross foi a nona escolha geral. Hoje, três anos depois de quebrar o recorde do “Tiro de 40 jardas”, ele acumula 21 recepções na NFL.
Há coisas que o Combine mostra. Contudo, existe fatores na NFL que vão além dessas atividades individuais (lesões, vestiário, liderança, instinto, competitividade). Ter esses dois conceitos em mente é crucial.
Desorganizar-se pelas necessidades do elenco
De um modo geral, analisando fora das quatro linhas, o draft é um “jogo de valor”. Na NFL, os jogadores não têm preço, mas sim valor. Portanto, um bom recrutamento para uma franquia é quando vários dos escolhidos adquirem um valor acima daquela posição em que foram recrutados. Num primeiro momento, isso é benéfico para o time em questão pelas questões contratuais. Eventualmente, em caso de troca, esse irá adquirir escolhas de valor superior. Ou, além disso, caso tal atleta vá para a free agency, a escolha compensatória também tende a ser mais valorizada.
Desta maneira, entender a necessidade do elenco e o valor tanto da escolha em mãos quanto dos prospectos disponíveis é imprescindível. O problema é que nem sempre as decisões das equipes levam isso em consideração.
Dois exemplos principais nos últimos anos podem ser destacados.
O primeiro deles foi em 2014, quando o Buffalo Bills chegou ao draft “desesperado” por um wide receiver. Para a felicidade da franquia, o evento estava repleto de promissores WRs.
Os Bills tinham a escolha nº 9 no Draft 2014, mas decidiram subir até a quarta posição geral e, em troca, deram aos Browns, além da pick de primeira rodada no ano, outras duas escolhas, de primeiro e quarto round na temporada seguinte. Assim, como quarto escolhido, Buffalo recrutou Sammy Watkins, o qual já teve lampejos porém jamais se firmou como um sólido recebedor na NFL. Para piorar, nomes como Mike Evans, Odell Beckham Jr. e Brandin Cooks foram recrutados posteriormente naquela mesma primeira rodada.
O ponto central aqui não é a opção dos Bills por Watkins, visto que as avaliações no prospecto ex-Clemson eram altas e o draft sempre carrega o risco do erro. A questão é que não era necessário ter esse “descontrole”, executando uma troca com duas escolhas de primeiro round, visando um jogador de uma posição que era abundante na classe.
O outro exemplo neste caso ocorreu em 2017, com o Chicago Bears.
Mitchell Trubisky, Deshaun Watson e Patrick Mahomes eram os quarterbacks melhores avaliados naquela classe e o melhor entre eles não era unanimidade. Os Bears tinham a terceira escolha geral, com Browns e 49ers à frente. Sabia-se que Cleveland iria selecionar Myles Garrett e que San Francisco estava aberto a QB, pass rusher (como aconteceu) ou até mesmo troca. Desesperados por um QB, os Bears se precipitaram para garantir que Trubisky fosse o escolhido e trocaram pela segunda pick com os Niners, dando ainda outras três picks à equipe californiana, além da terceira geral de 2017.
Pelo leque de opções, mesmo que fontes internas soubessem que outra equipe poderia subir e chamar Trubisky antes de Chicago, principalmente pelo nivelamento da classe, não era necessário ter feito a troca. Novamente, (muito) valor foi perdido.
Há também um caso pertinente do Draft 2003, novamente ligado aos Ravens. O time teve duas escolhas de primeira rodada (10ª e 19ª) naquele evento e tinha pass rush e quarterback como principais necessidades. Lembrando que na época, ainda mais do que hoje, o QB era de longe a posição mais valorizada do jogo.
A primeira escolha de Baltimore, então, como citado no exemplo anterior, foi Suggs. Por que não um QB? Pois, mesmo sabendo da importância da posição, os Ravens não supervalorizaram os quarterbacks prospectos da época (com Carson Palmer e Byron Leftwich escolhidos, Rex Grossman e Kyle Boller eram as principais opções). Mas nenhum deles valia de fato ser escolhido tão alto.
Desta maneira, os Ravens não se descontrolaram perante à uma necessidade, mesmo se tratando de uma posição mais importante, e chamaram Suggs. Nove escolhas mais tarde, Boller ainda estava livre e caiu para a equipe.
Sim, Baltimore perdeu valor ao ter chamado Boller na primeira rodada. Porém, foi consciente o bastante para encontrar dois candidatos à solução de problemas do elenco e acertar em um deles, o qual futuramente será um hall of famer. Tenha em mente que é algo utópico imaginar um “draft perfeito”. O mais comum é que uma franquia erre duas vezes em duas escolhas feitas.
Para as franquias, a ideia geral deve ser: tente recrutar o melhor jogador disponível, seja consciente das suas necessidades, e definitivamente queria recrutar o melhor valor.
Definitivamente, é mais fácil falar do que fazer.
É preciso tentar
As expectativas e teto potencial diminuem na medida em que o Draft da NFL acontece anualmente. Espera-se mais de uma escolha de primeira rodada do que uma de sexta. Adicionalmente, em tese, o potencial da primeira é superior ao da segunda.
Quando estamos falando de esportes, não existe algo exato. Todavia, pela logística citada e tendo em mente que o draft é um “jogo de apostas”, a matemática funciona: para acertar, você precisa arriscar mais vezes.
Por exemplo: o time A entra em um draft buscando reforços para a linha ofensiva, front seven, backfield e grupo de recebedores, nesta ordem. Primeiramente, o fator “melhor jogador disponível” entra em cena e ele deve determinar quem será o primeiro escolhido neste caso. Digamos que esse seja bloqueador. E que, na segunda rodada, os nomes disponíveis estejam favoráveis para linebacker.
A partir da terceira rodada, é preciso começar a pensar mais em repetir tentativas nas posições em enfoque.
Se o próximo selecionado for um running back, voltar à linha ofensiva ou front seven na escolha seguinte faz sentido. Na outra, um recebedor e, então, novamente um corredor ou bloqueador/defensor.
Em outras palavras, uma vez que os prospectos mais badalados já foram chamados, as chances de encontrar uma solução pontual para o elenco diminuem. Portanto, tentar mais prospectos para posições em pauta costuma ter resultado positivo.
O exemplo deste tópico foi baseado na classe do Indianapolis Colts em 2018. Verdade seja dita, por uma troca feita anteriormente com os Jets, Indy teve quatro escolhas de segunda rodada (e nenhuma na terceira), algo que muda a narrativa. De qualquer maneira, o que chamou atenção no ano passado foi a estratégia da franquia na classe.
Veja as posições escolhidas pelos Colts, respectivamente: G (o melhor nome disponível no momento, aliás), LB, G, DE, DE, RB, WR, RB, WR, LB e LB. Não seria preciso nem ressaltar quais eram as necessidades do time antes do Draft 2018.
Diga-se de passagem, muitas nelas já estão resolvidas.