A essência da primeira rodada do Draft 2020 da NFL não desperta muitas discussões.
Dois quarterbacks estão muito acima dos demais como prospectos, um outro signal-caller também se destaca, os dois jogadores mais preparados vindo do college football provavelmente são defensores e nenhum prospecto ganhou mais valor após o Combine do que o mais versátil defensor da classe.
Sabe-se também a ordem das escolhas de cada equipe atualmente e, mais importante, quais delas precisam desesperadamente de um novo jovem quarterback.
Tendo as últimas offseasons como base, algo que poderia mudar tudo isso é, por exemplo, o interesse “inesperado” de uma franquia em algum prospecto da posição mais importante do futebol americano.
Em uma classe teoricamente pouco profunda na posição, isso pode arruinar os planos de determinados elencos a curto prazo — e é por isso que o Washington Redskins hoje carrega a primeira incógnita do draft.
Em primeiro lugar, vamos comentar alguns fatos e prováveis acontecimentos do recrutamento. Começando pelas primeiras sete escolhas:
1- Cincinnati Bengals
2- Washington Redskins
3- Detroit Lions
4- New York Giants
5- Miami Dolphins
6- Los Angeles Chargers
7- Carolina Panthers
O que sabemos:
I- A menos que algo historicamente surpreendente aconteça até abril, os Bengals selecionarão Joe Burrow, quarterback que protagonizou possivelmente a melhor temporada da história do college football por LSU em 2019. E de fato é impossível argumentar contra Burrow neste momento: experiência, leitura de jogo, decisões, mobilidade, toque na bola, produção universitária… Em tese, ele é o prospecto ideal para uma equipe que precisa de um novo quarterback.
II- Aproveitando o assunto quarterbacks: se o melhor prospecto da posição em 2020 não for Burrow, Tua Tagovailoa será o nome mais forte. Um rápido resumo da carreira de Tagovailoa: antes da temporada 2019, ele era apontado como o favorito à primeira escolha geral por um estilo de jogo encantador em Alabama. Contudo, por mais que quando em campo os melhores momentos eram indiscutíveis, Tagovailoa sofreu com lesões ano passado, fato que, combinado à ascensão de Burrow, resultou em uma queda de valor do signal-caller. Vários exames foram feitos e todos eles apontaram para uma recuperação completa de Tagovailoa até abril.
III- Burrow e Tagovailoa lideram a classe de quarterbacks, no entanto, a maioria dos scouts parece ter Chase Young (edge, Ohio State) e Jeff Okudah (cornerback, Ohio State) talvez como os dois prospectos mais preparados do draft como um todo, como Young sendo referência.
IV- Isaiah Simmons, guarde este nome. Simmons teve uma brilhante carreira em Clemson, por onde fez de tudo. O prospecto encanta justamente pela capacidade de atuar em diversas posições: pass-rusher, linebacker, defensive back, não importa, Simmons já mostrou que dá conta do recado. E mais: após uma exuberante apresentação no Combine, ele tem especulação para ser escolhido ainda mais alto.
V- Três equipes do Top 7 acima não têm o quarterback titular (a longo e provavelmente curto prazo) no elenco atualmente, e a expectativa é que este venha do draft — Bengals, Dolphins e Chargers. Vale ressaltar ainda que os Panthers podem entrar neste grupo, dependendo do que for feito com Cam Newton (as últimas apurações indicam que a equipe deve seguir com o outrora MVP).
VI- Os Giants não escolherão um quarterback. Pelo contrário, a mentalidade de New York agora é reforçar as várias posições frágeis do elenco a fim de oferecer um elenco competitivo a Daniel Jones.
VII- Os Redskins podem fazer qualquer coisa — e é sobre isso que precisamos falar.
* * *
A maioria das simulações pré-Draft acreditam que os três primeiros selecionados serão:
1- Burrow, Bengals
2- Young, Redskins
3- Okudah, Lions
Burrow em Cincinnati dispensa maiores explicações, como citado. Young em Washington seria uma decisão pautada, acima de tudo, em “não deixar um talento como Young passar”. Mas tenha em mente que pass-rush não está nem entre as cinco principais necessidades dos Redskins. Finalmente, Okudah em Detroit combina um raro talento com um setor instável do elenco.
Contudo, os Redskins serão treinados agora por Ron Rivera, ex-Panthers que foi contratado em janeiro. E Rivera, naturalmente, quer começar o novo trabalho ao lado de um quarterback confiável, competitivo e vencedor. Ele estava na comissão técnica dos Panthers quando a franquia recrutou Newton em 2011, por exemplo.
Rivera, por outro lado, não fazia parte dos Redskins quando a organização escolheu Dwayne Haskins. E a relação Rivera-Haskins entra em cena neste caso, já que o quarterback protagonizou atuações abaixo da média nas sete vezes que foi titular como calouro depois de ter sido a 15ª escolha geral em 2019.
E há duas formas de analisar a situação de Haskins agora. Ele teve atuações abaixo da média pela falta de experiência, por estar com uma comissão técnica turbulenta e rodeado por um elenco abaixo da média, é a uma das opções. Ademais, é possível olhar para Haskins e temer que ele seja algo parecido com Josh Rosen: simplesmente não agrada e há questionamentos reais se ele algum dia será titular absoluto na liga.
O que sabemos é que Rivera disse durante o Combine que a posição de quarterback dos Redskins está em aberto, que Haskins precisará conquistá-la e que adicionar competição under center é sensato. Sabemos, além disso, que Washington fará treinamentos internos com Burrow e Tagovailoa, durante o processo de avaliação pré-Draft da equipe, quando essa se reunirá e treinará individualmente com vários prospectos.
E se os Redskins se encantarem por Tagovailoa após a reunião com o QB? Saudável, é plausível que o quarterback ex-Crimson Tide promova isso. E se Washington fizer algo similar ao Arizona Cardinals, que com um novo head coach tinha certeza que tinha em Kyler Murray o nome ideal para o novo ataque da franquia em 2019 e por isso o recrutou mesmo um ano após ter chamado Rosen no top 10?
Como prospecto, completada a recuperação, Tagovailoa está acima do que Haskins foi antes do Draft 2019 em todos os indicadores relevantes.
Se os Redskins selecionarem Tagovailoa…
Se Washington optar por um quarterback, que seria Tagovailoa, os Dolphins provavelmente seriam os maiores prejudicados. Miami mira Tagovailoa há algum tempo e, pelo momento de reconstrução da equipe, Justin Herbert — o terceiro principal QB deste draft — oferece consideravelmente menos do que Tagovailoa.
Recrutar um quarterback “por recrutar” não é o que os Dolphins querem, ao invés de “escolherem a dedo” quem será o novo líder de uma franquia que não vence um jogo de playoffs desde 2000.
Obviamente, rumores que os Dolphins irão trocar para cima no Draft 2020 para garantirem Tagovailoa existem e são sensatos. Todavia, se os Redskins estiverem determinados a buscarem o QB de Alabama, de nada mais adianta Miami subir para terceiro. E a ideia de subir para a primeiríssima colocação parece utópica.
Seria melhor recrutar Herbert, portanto? Ou a ideia continua reforçando o elenco à espera do adiado encontro do futuro franchise quarterback segue ativa? E detalhe: se os Dolphins decidirem escolher Herbert, ainda assim o time poderia ter que protagonizar uma troca, para evitar que um concorrente como os Chargers, por exemplo, não façam isso e tirem os três principais signal-callers do quadro.
Sobraria Jordan Love.
Burrow em primeiro, Tagovailoa em segundo e… O que os Lions fariam na terceira posição? Okudah e Young estariam disponíveis.
Young parece a opção óbvia aqui, mas o pass rush de Detroit, apesar da produção decepcionante em 2019, foi alvo de grande investimento na última offseason, com a contratação de Trey Flowers. Enquanto isso, Okudah “cairia como uma luva” na secundária dos Lions, em especial perante à inevitável saída de Darius Slay.
Ao mesmo tempo, deixar Young passar é deixar passar um talento único em uma posição crucial do elenco.
Se isso acontecer, os torcedores dos Giants teriam motivo para uma carreata. Se não, Okudah estaria disponível e New York teria que decidir entre um cornerback na primeira rodada pela segunda temporada consecutiva ou priorizaria outro setor, como a linha ofensiva.
Desta maneira, restariam no Top 7 Dolphins, Chargers e Panthers, com Simmons, Okudah, Herbert e Love disponíveis. Isso sem mencionar outros excelentes prospectos de linha ofensiva e defensiva, vale ressaltar.
Não seria o cenário ideal para Miami, aparentemente. Los Angeles acabaria com mais opções do que planeja. E Carolina dependeria de mais um rival escolher quarterback para ter dois grandes steals à disposição.
Na história da NFL, apenas duas vezes uma equipe recrutou quarterbacks em primeira rodada por dois anos consecutivos: o Indianapolis Colts no começo dos anos 80 e os Cardinals nos dois últimos drafts.
Vários times precisam estar preparados caso um terceiro nome seja adicionado à essa lista em abril.