Na verdade, para chegarmos a uma resposta para a pergunta do título, seria melhor definir o que caracteriza um quarterback de elite na NFL. Seriam muitas jardas, touchdowns e prêmios individuais? Ou triunfos, campanhas vitoriosas e títulos? Talvez uma combinação das duas partes?
Sinceramente, diga-se de passagem, não questiono Joe Flacco quanto ao quesito franchise quarterback, como se pode ver algumas vezes na mídia. Essa definição é menos “rígida” do que a de ser inserido na elite da posição, e Flacco corresponde aos quesitos básicos de um bom QB, não dúvidas disso. Todavia, apesar de tudo isso, o que temos visto de Flacco após oito anos na NFL realmente nos faz refletir se ele se encontra no nível mais alto dos quarterbacks profissionais ou se ele é apenas um nome muito acima da média, mesmo sabendo que foi brilhante em uma conquista de Super Bowl.
A campanha do Super Bowl foi realmente incrível
Nas prévias da temporada de 2012, o Baltimore Ravens não era apontado como franco favorito ao Super Bowl, pelo contrário, todos sabiam do potencial que aquele time tinha (com Ray Lewis, Ray Rice, Joe Flacco, Ed Reed), mas haviam outros times melhores, com elencos e momentos superiores.
No decorrer daquela temporada, vimos o time de Baltimore estar bem equilibrado, com boa consistência defensiva e considerável produção de seu ataque, apesar de ambos os setores – numericamente falando – ficarem um pouco abaixo da média da liga naquele ano. Mantendo tal regularidade, os Ravens venceram a AFC North em 2012, tendo alcançado dez vitórias e seis derrotas.
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Nos playoffs, então, Baltimore teve como adversários, nesta ordem, Indianapolis Colts (casa), Denver Broncos (fora), New England Patriots (fora) e San Francisco 49ers no Super Bowl. A forma como os Ravens venceram seus adversários foi realmente incrível, e a performance de Joe Flacco nos confrontos beirou a perfeição.
Contra os Colts, o Baltimore Ravens teve um jogo relativamente tranquilo; depois venceu os Broncos em uma das partidas mais emocionantes da história da pós-temporada (e aqui lembrem-se do touchdown de 70 jardas de Jacoby Jones a 30 segundos do fim do jogo), até irem ao Gillette Stadium encarar Tom Brady e Bill Belichick. Não preciso dizer mais nada, isso basta. No Grande Jogo, os irmãos Harbaugh se encontraram, e vale lembrar como o time dos 49ers era bom, com uma defesa extremamente sólida e Colin Kaepernick aterrorizando os adversários.
Sim, os oponentes foram basicamente os mais complicados e nas piores circunstâncias possíveis e o time do Baltimore Ravens estará sempre na história por esta conquista. Contudo, o mais impressionante nisso foi como Flacco se portou ao longo dessa trajetória: ele terminou aquela pós-temporada completando praticamente 58% dos passes, e totalizou 1.140 jardas, 11 touchdowns e nenhuma interceptação, o que conferiu a ele um rating de 117.2. Além, é claro, de ter sido nomeado o MVP daquele Super Bowl. Fantástico! Raríssimas vezes se viu um quarterback decidir tanto e ser tão imponente em jogos de playoff como Joe Flacco foi em 2012.
Mas e as estatísticas em temporada regular
A campanha gloriosa da temporada 2012 dá um toque especial a carreira de Joe Flacco que, imagino eu, ele jamais havia esperado. E agora, muitos vão se perguntar como Flacco foi em outras pós-temporada que já disputou. Foi bem, diria que até muito bem em alguns anos. Ele chegou à NFL em 2008, e só não levou os Ravens aos playoffs nas temporadas 2013 e 2015 (nessa última ele perdeu seis jogos por lesão). Nas seis aparições em pós-temporada, chegou em três finais de conferência. Bastante competitivo.
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Por outro lado, o que para muitos não sela (e até distancia) a “permanência” de Joe Flacco na categoria “elite” (se ela realmente exista) é sua produção em temporada regular. No melhor ano do camisa #5, ele teve 3.986 jardas e 27 touchdowns. Em nenhuma temporada de sua carreira ele passou para mais de 30 touchdowns. E nem mesmo ultrapassou as 4.000 jardas aéreas.
Por exemplo, no aspecto consistência, ele pode ser muito questionado por ter feito uma pós-temporada brilhante em 2012, empolgando a todos, mas ter lançado 19 touchdowns e 22 interceptações no ano seguinte.
Não o subestime
O Super Bowl em si, como falado, não coloca diretamente Flacco na elite, pois se fosse assim, Dan Marino não poderia ser inserido neste grupo nos anos 80. A participação constante de Joe Flacco nos playoffs também não implica sua inserção na lista, porque Drew Brees, por exemplo, oscila bastante sua presença em pós-temporada, e até onde sei, não existe dúvidas se Brees, assim como Marino, é ou não da elite. O próprio fato do camisa #5 ter disputado 122 dos 128 jogos possíveis em sua carreira (todos como titular), solucionando grandes problemas do Baltimore Ravens, não pesa tanto assim neste debate, uma vez que Aaron Rodgers (outro que com certeza está nesta classe “mais nobre”) teve problemas com lesões recentemente.
Estar na elite não seria então aquele jogador que consegue liderar seu time e mantê-lo competitivo ano após ano, no nível mais alto da liga? Se o pensamento for esse, Flacco ganha um ponto.
Joe Flacco pode ou não ser considerado um nome na elite da NFL, para ele, isso pouco importa a esta altura. Vale sempre lembrar que Flacco já fora muito questionado e respondeu isso vencendo um Super Bowl de maneira espetacular. Não subestime o principal líder dos Ravens, a qualquer momento ele pode provar que você está errado, jogando (mais uma vez) como o melhor quarterback do mundo.
Por Caio Miari
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