Um dos momentos mais legais da temporada do college football chegou: é hora de acompanharmos os Bowls. Muitos deles já aconteceram e os mais interessantes ainda estão por vir. Você está preparado para ouvir aqueles nomes imensos das partidas? Algo do tipo “Coca-Cola Hamburguer Pão E Mais Alguma Coisa Bowl”… Certamente que os nomes não são tão sem sentido assim, e estão lá com um propósito: movimentar dinheiro – falaremos mais disso a medida que o texto for progredindo.
Mas ainda sobre os Bowls, o assunto que mais esteve em pauta recentemente, ao invés de como estavam sendo os jogos e tudo mais, foi a decisão de Leonard Fournette, running back de LSU (Citrus Bowl); Christian McCaffrey, runnning back de Stanford (Sun Bowl); e Shock Linwood, running back de Baylor (Cactus Bowl), os quais optaram por não disputarem seus respectivos Bowls. Segundo eles, essas determinações vieram com a intensão de se prepararem melhor para suas carreiras profissionais, uma vez um desfecho inesperado no Bowl pode custar caro na ida desses atletas para a NFL.
Desta forma, discussões acerca do tema começaram a surgir. Fãs, jogadores, jornalistas, enfim, todos começaram a dar seus pitacos sobre o assunto. Aparentemente, a maioria da imprensa apoiou o que fora definido pelos atletas. Para Ezekiel Elliott, o qual deixou o college football recentemente, Fournette e McCaffrey deveriam disputar os Bowls. Para mim, eles acertaram em pular seus jogos. De fato, encerrar suas carreiras universitárias conquistando um jogo simbólico para suas universidades seria algo marcante (e até mesmo gratificante), contudo, não se pode dizer que esses jogadores erraram ao pensar no melhor para eles.
Um olho e meio na carreira profissional
A opção dos prospectos de não disputarem seus Bowls passa por dois fatores principais e que estão atrelados entre si: um físico e outro econômico (citado abaixo). Fisicamente falando, só os próprios jogadores de futebol americano podem nos dizer o quanto uma lesão de ligamento no joelho arruína a carreira de um atleta. Especialmente na posição de running back, a qual expõe muito seus atletas, qualquer lance, por mais simples que seja, pode ter consequências enormes para os jogadores.
Um exemplo disso foi o que aconteceu com Jaylon Smith no Fiesta Bowl da temporada passada. Smith era visto como um dos principais prospectos de sua classe e uma escolha certa de primeira rodada. Contudo, após um ano brilhante por Notre Dame, ele viu seu valor de Draft cair consideravelmente quando rompeu os ligamentos cruzados do joelho em um infortuno lance do Bowl. Resultado disso: Jaylon Smith fora escolhido na 2ª rodada pelo Dallas Cowboys (e isso só aconteceu porque Jerry Jones é Jerry Jones) mas não pode atuar em seu primeiro ano devido à lesão. Ele agora espera que em 2017 sua recuperação seja aprovada e que todo seu talento demonstrado no college football seja transferido para a NFL.
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Pela maioria do tempo, o futebol americano universitário funciona como uma vitrine para os olheiros da NFL. De fato, defender uma escola é algo que deve ser levado em consideração, contudo, essencialmente, o college football é o palco que os jovens jogadores têm para mostrarem que são capazes de atuar profissionalmente. Assim sendo, para que serviria um Bowl qualquer – digo qualquer para aqueles Bowls que não compõem as semi-finais do campeonato?
A grosso modo, podemos dizer que um Bowl seria a última chance do ano dos prospectos provarem seu valor, e ainda de uma maneira especial, já que vencer esse jogo vale um troféu a universidade. Mas então, o que Fournette e McCaffrey fariam respectivamente no Citrus e Sun Bowl? Não existem dúvidas quanto ao talento de cada um deles. Seria meramente por “cumprir um calendário”? Como ficaria a balança neste caso já que do outro lado existem as lesões? O fato dos jogadores universitários não receberem e nem terem contratos pesa neste caso, porém é assunto para outra hora.
Ainda, especialmente no caso de Leonard Fournette e Christian McCaffrey, estamos falando de dois jogadores que deram tudo às suas universidades por três anos, mantendo-as no patamar que nos acostumamos a ver. Mas o ano para LSU e Stanford (para Baylor nem se fala) foi decepcionante. Não é nenhum absurdo que esses dois jogadores pensem apenas em si (e no talento que têm) e decidam perder 60 minutos de um jogo.
Estamos falando de negócios
Se surge uma grave lesão que levará seis meses de recuperação, o atleta universitário perde valor para os olheiros da NFL, não consegue render como deveria no Combine, acaba sendo escolhido em rodadas tardias e eventualmente recebe salários menores das franquias da liga.
Pode parecer algo conspiratório demais, mas na verdade não é. Quando falamos em NFL e suas franquias, essencialmente, estamos nos referindo à uma empresa. Uma organização que, assim como todas as outras, visa acima de tudo o lucro. A National Football League está acostumada a gerar espetáculos e felizmente podemos ter acesso à ela. Contudo, não espere que isso aconteça caso algo não funcione como esperado para os cofres da liga. E não critique a NFL por isso, é algo natural.
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O fator universidade, para a maioria dos atletas funciona como um investimento. Investimento esse que terá sua recompensa com o sucesso de cada jogador na NFL. Desta forma, por mais que quando acompanhamos as transmissões da National Football League nada disso venha à tona, não devemos nos esquecer que cada jogador está dentro de campo sendo pago pelo que está fazendo, é a profissão de cada um deles, assim como qualquer outra. Neste caso, a liga é bem mais que seus espetáculos dentro das quatro linhas.
Em momento algum os executivos da NFL estão preocupados se seus futuros jogadores disputarão alguns Bowls. Os general managers se importam em proteger seu dinheiro, e isso passa por acertar em seus investimentos.
Voltando ao caso de Jaylon Smith, a lesão do defensor fez com que ele, ao invés de ser uma escolha Top 5, fosse selecionado no começo da 2ª rodada. Em outra perspectiva, essa queda de Smith refletiu diretamente no bolso do jogador: estar entre os dez primeiros escolhidos de um Draft, por exemplo, normalmente garante ao atleta algo entre US$ 15-20 milhões. Como 34ª escolha geral, Smith assinou um contrato que o assegurou US$ 4,5 milhões. Fazendo as contas, foram mais de dez milhões de dólares perdidos por Jaylo Smith por ter disputado um Bowl qualquer. E detalhe: Smith ainda não jogou na NFL e sua carreira segue sendo uma grande incógnita.
De modo geral, as decisões de McCaffrey e Fournette são consequências de um sistema falho do college football
Muito mais que uma última oportunidade na temporada para os prospectos mostrarem seu valor, os Bowls são eventos em que dezenas de patrocinadores expõe suas marcas para diversos países. Então, podemos definir os Bowls como jogos meramente simbólicos que são pequenas recompensas para um calendário subjetivo do futebol americano universitário? É difícil dizer que não.
Como um campeonato que envolve mais de 100 times cria um mata-mata significativo incluindo apenas quatro equipes? E o que dizer das universidades que já entram na temporada sabendo que não chegarão à final sem ao menos terem disputado uma partida sequer.
Para qualquer tipo de dúvida, o college football não é ruim, muito pelo contrário – em muitos casos, acredite, o universitário é superior ao profissional. As críticas acima em momento algum foram direcionadas à essência do futebol americano americano universitário. Elas devem ser vistas como uma das razões – talvez a principal delas – para o fato de grandes jogadores estarem pulando partidas que para a NCAA são importantes. Com isso, talvez haja a possibilidade de evitar que decisões como essas se repitam em um futuro próximo.
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Leonard Fournette e Christian McCaffrey foram espetaculares em suas carreiras universitárias e não têm mais nada para mostrar como prospecto. Dito isso, somado a tudo que fora falado anteriormente, qual o problema de não jogar um Bowl? No caso de Shock Linwood, o qual nem sabe ao certo se será escolhido no Draft e precisaria mostrar mais dentro de campo, pular seu último jogo universitário da carreira não foi o mais aconselhável, mas tampouco errado.
Se acontecer uma vez seja um incidente, duas vezes pode ser visto como coincidência e três vezes como uma tendência. Talvez seja hora do college football repensar a forma como seus campeonatos estão sendo estruturados. Para a posição de running back e para qualquer outra, uma partida pode ser “fatal”. Algo precisa ser feito, e algo muito efetivo, pois o futebol americano universitário é bom demais para que fatos como esses se repitam corriqueiramente.
Fournette e McCaffrey acertaram em suas decisões? Compartilhe-o e deixe sua opinião nos comentários ou pelas redes sociais.
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