Andrew Luck anunciou aposentadoria neste sábado, 24 de agosto. Aos 29 anos de idade e após seis temporadas jogadas (sete na liga), Luck surpreendeu a todos e entra para a história da NFL como mais um jogador que se aposentou cedo demais, talvez o mais surpreendente de todos do grupo, diga-se de passagem.
Há algum tempo, escrevi sobre ótimos atletas que penduraram as chuteiras surpreendentemente.
Mas o caso de Luck talvez seja diferente de todos os outros. De um modo geral, o lado físico pesou para todos. Todavia, essencialmente, tudo que estava ao redor de Luck nesta temporada faz a retirada do camisa #12 algo mais melancólico, digamos assim.
Com isso em mente, respondi abaixo todas as questões atreladas a Luck. Das mais básicas informações, passando pelos melhores momentos da carreira, até as consequências a curto e longo prazo que a aposentadoria pode ter, tudo isso foi abordado abaixo.
Por que Luck se aposentou?
As lesões, claro, são o motivo central do caso. Contudo, é preciso entender que não somente a quantidade de vezes que o jogador se lesionou, mas sim a forma como as coisas aconteceram, impactaram mais ainda na decisão do quarterback, que diz estar mentalmente desgastado agora.
Entre 2012 e 2014, os primeiros três anos profissionais, Luck pode estar em campo em todas as partidas, sem maiores problemas. Todavia, entre 2015 e 2018, diferentes tipos de lesões, muitas delas sem prazo de recuperação apurado, afetaram-no.
Costelas (rim), abdomen, cabeça (concussão), ombro e, mais recentemente, panturrilha/tornozelo, Luck ficou fora de atividade por questões físicas em todas essas áreas.
Como ele disse em entrevista coletiva (ver mais abaixo), provavelmente sua última como jogador, há quatro anos ele tem sofrido com dores e um intenso ciclo de lesão-tratamento-recuperação que parece não ter fim.
Em outras palavras, o corpo de Luck não o passa segurança alguma. As dores no ombro, por exemplo, acompanharam-no em 2015 e 2016, até forçarem o QB a ficar fora de toda a temporada 2017 após passar por cirurgia.
Um ano depois, Luck mostrou que ainda poderia atuar em alto nível, teve uma das melhores (se não a melhor) temporadas da carreira e fez os Colts competitivos novamente.
Logo, tudo pronto para uma preparação adequada visando o Super Bowl durante a offseason de 2019, certo? Não.
Luck participou de apenas três treinamentos desde abril pois tinha uma lesão na panturrilha. Esse problema, contudo, foi anunciado pelo proprietário da equipe de Indianapolis Jim Irsay como uma lesão em um pequeno osso entre a panturrilha e o tornozelo. Sem maiores detalhes.
O primeiro diagnóstico apontava para que Luck perdesse o começo do Training Camp, mas voltasse para a pré-temporada. Não aconteceu. Depois, ele perderia o primeiro, talvez o segundo, confronto de pré-temporada. Falho outra vez, já que mais tarde ficou confirmado que ele estava fora por todo o mês de agosto e possivelmente até da estreia da temporada regular.
Foram graves incertezas em sequência afetando Luck, que teve que pensar em si mesmo (digo, no lado humano) acima de tudo antes daquela que seria sua oitava temporada profissional apenas.
O que, e como, Luck falou sobre a situação
Transcrevi — e traduzi — alguns dos trechos mais marcantes da coletiva de imprensa de Luck após o confronto da semana 3 da pré-temporada entre Colts e Chicago Bears.
“Está não é uma decisão fácil. Sinceramente, esta é a decisão mais difícil da minha vida. Mas é a decisão certa para mim. Nos últimos quatro anos aproximadamente, eu estou neste ciclo de lesão, dor, recuperação; lesão dor, recuperação, e isso é contínuo, duro, tanto durante a temporada quanto na offseason, e eu me senti preso nele. A única maneira que eu vejo de sair é não jogando mais futebol americano.
“Eu estive preso nesse processo. Eu não tenho sido capaz de viver a vida que eu queria viver. (Foi) tirado o prazo do jogo e, depois de 2016, quando eu joguei com dores e estava incapaz de treinar regularmente, eu fiz uma promessa para mim mesmo que eu não passaria por aquele caminho de novo. Eu me encontrei em uma situação similar e a única saída para mim é me afasta do futebol americano e deste ciclo que eu estive inserido.”
“Eu e minha esposa somos orgulhosos quando as pessoas nos perguntam e nós respondemos Indianapolis. É a nossa casa; nós fizemos eternos amigos. Este tem sido um lugar incrível para viver e crescer fora dos gramados … Um muito obrigado a esta cidade. Ela sempre terá um lugar especial em meu coração.”
Essa situação tem precedentes?
Como visto, Luck não é o primeiro ótimo jogador a se aposentar com uma curta carreira no currículo. E provavelmente não será o último.
Porém, quando o assunto é quarterbacks selecionados na primeira escolha do Draft, o caso de Luck se junta a uma lista que, pelo menos recentemente, não tem muitos nomes.
Desde 1983, 21 QBs foram recrutados como primeiro geral. Mas vamos desconsiderar os últimos quatro nomes desta lista (Jameis Winston, Jared Goff, Baker Mayfield e Kyler Murray), já que eles são recentes demais.
Dentre os outros 17 jogadores, apenas Tim Couch (cinco, 1999-2003) e JaMarcus Russell (três, 2007-2009) estiveram oficialmente na NFL por menos temporadas que Luck (sete, 2012-2018). Diga-se de passagem, não que Luck entre nesta conversa, mas Couch e principalmente Russell são considerados dois dos maiores busts da história do futebol americano.
Outro fato interessante, que postei no Twitter do site mais cedo:
Como os Colts ficam agora?
Com Luck, os Colts sonhavam com uma campanha até o Super Bowl. Sem o quarterback, o time pode até ser apontado como o “patinho feio” da AFC Sul.
Ao que tudo indica, pelo menos para a semana 1, Jacoby Brissett será o titular. Brissett tem 17 partidas como começadas na carreira, das quais 15 aconteceram justamente substituindo Luck, em 2017.
Na ocasião, o quarterback de 26 anos venceu apenas quatro jogos, totalizando 3.098 jardas, 13 touchdowns e sete interceptações. Todavia, perante a esses números discretos, dois fatores precisam ser levado em consideração.
Primeiramente, Brissett ainda estava em processo de adaptação à NFL, visto que ele fora recrutado na terceira rodada em 2016 pelo New England Patriots, mas só teve dois jogos começados por lá. É perceptível que o quarterback está em melhor fase agora do que há dois anos.
Destaquei a atuação de Brissett na semana passada pela pré-temporada, e não por acaso já havia o ranqueado como um dos principais quarterbacks reservas imediatos da atualidade. A força nos lançamentos de Brissett é acima da média, bem como a mobilidade do jogador.
Se bem suportado pelo restante do elenco, o QB pode ser competitivo. E aparentemente ele terá esse apoio em Indy, que é o segundo fator a ser destacado neste tópico.
O time dos Colts de hoje é consideravelmente melhor do que aquele de 2017.
A começar pelo treinador, Frank Reich contra Chuck Pagano. Já a linha ofensiva, que permitiu 56 sacks naquela época, foi uma das melhores da NFL ao ceder apenas 18 ano passado.
Em 2017, Jabaal Sheard liderou Indianapolis em sacks, com 5,5. Em 2018, três jogadores atingiram tal marca, incluindo o líder do elenco no quesito Denico Autry, que teve nove, apesar de ainda longe do ideal.
Por fim, tenha em mente que há duas temporadas os Colts não tinham um playmaker e líder defensivo como Darius Leonard, calouro no campeonato passado. Leonard fez tudo mais fácil no sistema defensivo de Indy, incluindo na secundária liderada pelo também promissor Malik Hooker.
Resumindo: os Colts são mais fracos sem Luck, indiscutivelmente. Todavia, a atual crescente do elenco nos dois lados da bola, assim como na comissão técnica, torna possível uma campanha competitiva mesmo sem o melhor jogador, algo inimaginável há pouco mais de um ano.
Nas casas de apostas…
Com a retirada de Luck, naturalmente as odds para os Colts conquistando o Super Bowl foram alteradas. De 18 para 1, as chances do time foram para 40 para 1.
Além disso, o Tennessee Titans, que tinha 80 para 1 mas agora pode ter mais chances de vencer a AFC Sul, foi para 40-1.
Como isso afeta o mercado?
Por mais preparado que Brissett pareça estar agora, ainda é cedo demais para dizer que ele faz parte do planejamento dos Colts a longo prazo.
Pela forma como a aposentadoria de Luck aconteceu, duas semanas antes do campeonato regular, Indianapolis obviamente não teve tempo para buscar um substituto ao QB na free agency ou Draft.
Desta maneira, o cenário mais “fácil” e sensato para os Colts parece ser: manter Brissett como titular durante a temporada 2019 e tomar uma decisão mais pesada na posição a partir de 2020. Como dito, o jovem elenco abre um leque interessante de cenários para a franquia.
Se a opção da equipe for por meio do Draft, o quarterback de Alabama Tua Tagovailoa é considerado o melhor prospecto na posição e estará elegível para se declarar ao Draft 2020.
Além dele, Justin Herbert, de Oregon, é outro QB com altas expectativas no college football atualmente que pode ter ótimo valor no próximo recrutamento.
Indo ainda mais além, Trevor Lawrence terá seu primeiro ano de elegibilidade e é esperado para o recrutamento de 2021. O quarterback de Clemson, o qual brilhou em seu primeiro ano universitário em 2018, é considerado por muitos o prospecto mais completo/capacitado no Draft desde… Luck (2012), ou quem sabe até Peyton Manning (1998).
Seguindo entre nomes promissores que podem começar “do zero” uma era em Indianapolis, vale lembrar de Josh Rosen. O futuro de Rosen no futebol americano é promissor, porém incerto neste momento.
O Miami Dolphins adquiriu Rosen por um ótimo valor nesta offseason, mas o processo de reconstrução da equipe não garante que o jovem QB permanecerá na Florida. Até porque, dependendo do desenrolar da temporada 2019, os Dolphins podem estar de olho no Draft 2020, justamente em Tagovailoa, o que colocaria Rosen no mercado pelo segundo ano seguido.
Por outro lado…
Pela competitividade do elenco, é sensato imaginar que os Colts tentem ser realmente competitivos em 2019. Isso indica que é preciso ter um nome ao menos capaz under center, o que levanta a pergunta: e se Brissett não der conta do recado?
Neste caso, para Indy conseguir boas atuações, será preciso buscar ao menos um QB como plano a curto prazo, até que um projeto futuro entre em ação. Ou seja, pode ser o momento de buscar um veterano.
Qual veterano?
Ryan Fitzpatrick e Case Keenum, apesar de prováveis titulares na semana 1, são nomes passageiros em Miami e Washington, respectivamente. Afinal, enquanto os Dolphins têm Rosen e podem mirar o Draft pelo processo completo de reformulação, os Redskins precisam de tempo até lançarem Dwayne Haskins, escolhido na primeira rodada do Draft 2019.
Falando em primeira rodada, a chegada de Daniel Jones ao New York Giants mostra que os dias de Eli Manning com a franquia estão contados. Sim, você sabe o que vem por aí: dependendo de como as coisas acontecerem no começo da temporada, a ascensão de Jones pode significar o fim da era Manning antes do esperado.
Neste caso, Eli seria o melhor veterano disponível no mercado.
O que deve acontecer
Ficaria surpreso se os Colts fizessem algo diferente de manter Brissett pelo menos no primeiro mês da temporada regular a fim de avaliar até onde ele pode liderar o time.
Se Brissett corresponder às expectativas, a tendência deve ser mesmo manter o então backup pelo menos até a próxima offseason, quando uma decisão mais firme para com a posição seria tomada, seja no Draft ou free agency.
Como fica a AFC Sul?
A posição de quarterback segue sendo a posição em pauta na AFC Sul.
Marcus Mariota estará em busca de um novo contrato na próxima offseason e precisará impressionar o Tennessee Titans já que ele ainda não se manteve saudável em nenhuma temporada completa desde que foi recrutado.
Já o Jacksonville Jaguars, espera ter finalmente encontrado um titular confiável em Nick Foles.
O Houston Texans é a única exceção neste caso, já que Deshaun Watson se confirma cada vez mais como um dos melhores jovens quarterbacks da liga.
O último lançamento de Luck
Logo após a decisão de Luck, durante a cobertura quase que em tempo real do Shotgun nas redes sociais (Twitter, Instagram e Facebook), destacamos alguns lances/momentos marcantes de Luck com a camisa dos Colts. E aqui estão eles.
O primeiro da lista é o último passe para touchdown — e que passe! — do camisa #12:
A grande vitória
Em 2013, Luck venceu sua primeira partida nos playoffs. Mais que isso, aquela foi uma das grandes viradas da história da pós-temporada da NFL: 45×44 para Indianapolis contra Kansas City.
Provavelmente o melhor passe
Dentre todos os ótimos lançamentos feitos por Luck em sua (curta) carreira, nenhum talvez tenha sido tão complexo quanto este: