Em janeiro de 2016, nos playoffs da temporada 2015 da NFL, Carolina Panthers e Arizona Cardinals se enfrentaram na final da Conferência Nacional disputando uma vaga no Super Bowl 50. Era quase unanimidade que Panthers e Cardinals eram os dois melhores times da conferência, teoricamente falando. E na prática, como as campanhas de ambas as equipes mostraram, também.
Alguns meses se passaram e, na temporada 2016, as franquias também carregam algo em comum: após quatro semanas, as duas estão com campanha 1-3, não estão jogando bem e têm seus quarterbacks titulares sob cuidado médico devido ao protocolo de concussão da liga.
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Atuações ruins, derrotas inesperadas, desequilíbrio entre ataque e defesa… Enfim. Carolina e Arizona estão atípicos neste começo de ano. Deste modo, inevitavelmente, surge a pergunta: o que está acontecendo com essas duas potências da NFC?
Nos Panthers, o problema maior está na defesa
Na história da NFL, sete times venceram 15 jogos em uma temporada, porém o Carolina Panthers é a primeira equipe a vencer 15 partidas em um ano e ter aproveitamento de vitórias inferior a 50% nos quatro primeiros jogos do ano seguinte. E a principal razão disso está no sistema defensivo da franquia.
Aquele setor que foi tão bem no ano passado, simplesmente não demonstra mais a consistência de 2015. A secundária da franquia, principalmente, tem se mostrado uma das piores da NFL nas primeiras quatro semanas. Até agora, Carolina tem sua defesa ranqueada em 28ª no quesito pontos cedidos por partida, com 29,5. Além disso, em jardas aéreas permitidas por jogo, a franquia é a apenas a 14ª do ranking, cedendo 257,5 jardas. E fique claro que estamos falando de um grupo que teve a melhor campanha de toda a liga na temporada passada e chegou até o Super Bowl.
Na semana passada, contra o Atlanta Falcons, portanto, veio o fundo do poço para o Carolina Panthers: 571 jardas totais cedidas, sendo 503 aéreas lançadas por Matt Ryan. Julio Jones, aproveitando a fragilidade do setor, terminou o jogo com 300 jardas recebidas, a sexta melhor marca de todos os tempos.
Sim, a secundária é o fator principal. Mas o que mudou nela em relação ao ano passado?
Desde a pré-temporada, a secundária dos Panthers era o ponto mais debatido da franquia. Com a saída de Josh Norman, um dos melhores defensores da liga em 2015, o grupo de defensive backs de Carolina se viu composto por dois calouros e alguns antigos veteranos ocupando cargos importantes na posição de cornerback. Ademais, nenhum dos dois safeties – Kurt Coleman e Tre Boston – têm jogado bem, pelo contrário.
Na prática – e este talvez seja o principal ponto negativo do setor, a defesa dos Panthers parou de “roubar tantas bolas”, como fez em 2015: com 39 turnovers (sendo 24 interceptações) forçados na temporada passada, Carolina liderou a NFL neste quesito. Todavia, após as primeiras quatro semanas de 2016, a equipe viu esse número cair consideravelmente para oito, sendo apenas cinco interceptações. E tenha em mente que com o decorrer da temporada, pelo desgaste dos jogadores, lesões, dificuldade dos adversários, essas estatísticas defensivas tendem a piorar.
O ataque também não é exatamente o mesmo
O ataque dos Panthers em 2016 está um tanto quanto estranho. Cam Newton, o qual sofreu uma concussão e não sabe quando estará de volta, totaliza apenas oito touchdowns nesta temporada. Número que é assustador se comparado aos 45 touchdowns que ele correu/lançou em 2015. Além disso, o sistema ofensivo não vem cuidando bem da bola. Para se ter uma noção, os Panthers já acumulam dez turnovers sofridos em 2016 após quatro partidas disputadas. Na temporada passada, na qual a franquia teve um total de 19, Carolina só chegou ao seu décimo turnover na semana 8.
Em outras palavras, essa instabilidade do ataque, combinada com a fragilidade defensiva, tem dado um resultado de constantes altos e baixos na temporada de Carolina, e que podem ser vistos ao analisarmos as pontuações das partidas dos Panthers em 2016.
Dos quatro jogos que Carolina fez nesta temporada, a equipe cedeu, respectivamente, 21, 27, 22 e 48 pontos, para Broncos, 49ers, Vikings e Falcons. Por outro lado, marcou 20, 46, 10 e 33 tentos contra os mesmos adversários.
Repare que claramente o Carolina Panthers, de modo geral, não tem se mostrado tão competitivo como no ano passado. Diferentemente de 2015, os Panthers não estão encontrando respostas para seus adversários, e acabam sendo derrotados por eles. Por exemplo, contra Minnesota, que tem uma ótima defesa, Carolina marcou apenas dez pontos, sendo que Cam Newton foi interceptado três vezes. Ainda, contra Atlanta, que tem o melhor ataque da liga neste momento, os Panthers até anotaram 33 pontos, mas cederam quase 50. Novamente: contra os melhores adversários, o Carolina Panthers, de modo geral, não tem conseguido responder seus rivais à altura e acaba dominado por eles.
Lembrando que Carolina terá testes complicados até o fim de dezembro. O time ainda tem encontros marcados com Seahawks, Cardinals, Chargers, Falcons, Raiders e Chiefs, sendo que apenas dois serão fora de casa. Estão aí as oportunidades dos Panthers se imporem contra bons adversários e recuperarem seus melhores momentos.
Já nos Cardinals, é o ataque que tem se mostrado abaixo da média
Desde que Carson Palmer chegou ao Arizona Cardinals na temporada 2013, tudo parece ter mudado para a franquia. Tanto que uma campanha de apenas cinco vitórias em 2012 ficou para trás e se resumiu em três temporadas com pelo menos dez triunfos desde então. Contudo, para dar continuidade à essa sequência de 10, 11 e 13 vitórias respectivamente desde 2013, algo parece não ter saído como esperado para o time comandado por Bruce Arians.
O ataque do Arizona Cardinals está irreconhecível após os primeiros quatro jogos da temporada 2016. Aquele setor que foi tão bem no ano passado, começando 2015 com pelo menos 30 pontos em quatro dos primeiros cinco jogos, e ao mínimo 40 tentos em três das cinco primeiras partidas, não conseguiu engrenar na temporada atual e viu seus indicadores baixarem assustadoramente.
Em quatro partidas, os Cardinals não pontuaram (nem ao menos um field goal) em nenhum primeiro quarto. Isso, obviamente, teve impacto direto na pontuação final da equipe nos seus jogos, as quais foram: 21 pontos contra os Patriots, 40 contra os Buccaneers, 18 contra os Bills e 13 contra os Rams. Salvo a partida contra Tamba Bay, que, diga-se de passagem, tem média de 32 pontos cedidos por partida (2ª pior da NFL), claramente o Arizona Cardinals mostrou que tem dificuldades para pontuar. E detalhe: dos três reveses de Arizona até agora, dois aconteceram em casa.
Carson Palmer é um dos principais responsáveis por essa situação
Com certeza, a queda de produção dos Cardinals é proporcional às performances ruins de Carson Palmer. O camisa #3, além de uma vitória em quatro jogos, acumula 1.150 jardas, seis touchdowns e cinco interceptações. Números bem abaixo do esperado para um jogador que esteve na conversa para MVP de 2015 e terminou a temporada passada com 4.671 jardas, 35 touchdowns e apenas 11 interceptações. Aquele sistema ofensivo que, comandado pelo veterano quarterback, terminou o ano passado com 30,6 pontos por partida de média (2ª melhor marca da liga), é apenas o 14º da NFL neste momento, com 23 tentos por jogo.
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Ademais, seu aproveitamento nos passes, que foi de 63,7% em 2015 (o 3º maior de sua carreira), está em 58,8%, o segundo pior em 13 anos de Palmer na National Football League.
Outro fator que vem sendo diferencial no plano de jogo do Arizona Cardinals também é a quantidade de turnovers. Nas quatro primeiras semanas da temporada 2015, a franquia teve um total de sete turnovers. Em 2016, no mesmo período de jogos, foram dez, sendo que, desproporcionalmente, todos eles aconteceram nos dois últimos confrontos da franquia (cinco em cada).
O jogo corrido também teve uma queda
Neste momento, não é apenas o ataque aéreo de Arizona que vem tendo problemas. Certamente que o mau rendimento de Carson Palmer não é responsável direto pelas inconstantes atuações do ataque terrestre da franquia, contudo, ele tem alguma influência, visto a influência que os bons quarterbacks têm em um sistema ofensivo.
Nas quatro primeiras partidas da temporada, o jogo corrido dos Cardinals passou das 100 jardas apenas duas vezes (105 na semana 2 e 118 na semana 4). Novamente em comparação ao ano passado, nos quatro primeiros jogos de 2015, Arizona ultrapassou as 100 jardas terrestres em todos, sendo que a pior marca foi de 113 jardas. No mais, o grupo de corredores do time é apenas o 15º da NFL, com 100,8 jardas por partida em média (na temporada passada, essa média foi de 119,8).
Tendo isso em mente, é válido ressaltar que Arizona precisará, de qualquer maneira, melhorar seu ataque “dá água pro vinho”, visto que ainda enfrenta bons adversários e algumas fortes defesas. Por exemplo, Jets, Seahawks (duas vezes), Panthers e Falcons, todos eles estarão no caminho de recuperação dos Cardinals.
Então agora…
A impressão que fica é que tanto Carolina quanto Arizona estão sem identidade neste momento. Assim sendo, dois dos melhores elencos da NFL estão com problemas e já vêm suas chances de playoffs realmente ameaçadas. Está na hora de Carson Palmer, Cam Newton, ou qualquer outro grande jogador dessas equipes, fazerem a diferença para salvar a temporada de Cardinals e Panthers. Antes que seja tarde demais.
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