O Jacksonville Jaguars tem um novo líder. Após a decepcionante campanha da franquia em 2018, Nick Foles é a nova aposta do time.
Foles já viveu altos e baixos na carreira. Tais momentos positivos são sujastamente a razão para ele ter conseguido mais uma chance como titular na carreira. Nenhum quarterback backup da NFL foi melhor que Foles nas duas últimas temporadas. Nem perto disso.
Mais que começar pela franquia da Flórida, Foles terá um contrato de gente grande: quatro anos, US$ 88 milhões, com US$ 50,1 mi garantidos. É o maior acordo de sua carreira, diga-se de passagem.
Tamanho contrato é explicado por dois motivos. O inflacionado mercado da liga, em especial na posição de QB, certamente é um deles. Além desse, claro, é preciso dar méritos a Foles.
Pelo Philadelphia Eagles, na segunda passagem pela equipe, Foles foi acionado na ausência de Carson Wentz. Isso aconteceu 12 vezes desde 2017, e em todas elas o QB deu conta do recado. Dos 12 jogos em que Foles foi titular quando Wentz estava lesionado (descartando a participação na semana 17 de 2017 contra Dallas), Philly venceu 10. O que inclui uma campanha 4-1 nos playoffs e, claro, uma conquista de Super Bowl, na qual Foles foi nomeado o MVP da decisão.
Portanto, os Jaguars contratam para 2019, não o Foles que passou por três equipes diferentes sem conseguir se firmar entre 2014 e 2016, mas sim o QB que foi um dos mais decisivos da NFL nos dois últimos campeonatos.
Mas Jacksonville precisa ter em mente o porquê do sucesso recente de Foles com os Eagles.
O quarterback não é um daqueles que chega, eleva o nível de todos que estão ao seu redor, e não precisa de um jogo corrido/grupo de recebedor/defesa de elite para isso.
Um dos grandes motivos do sucesso recente do QB em Philly foi a forma como Doug Pederson configurou seu ataque. Sem Wentz, que precisa de um sistema mas é mais talentoso que Foles, os Eagles precisaram se adaptar às limitações de Foles, deixando esse o mais confortável possível dentro do pocket. Por exemplo, não é como o Denver Broncos contratou Peyton Manning em 2012, que falhas ofensivas grotescas do elenco são camufladas pelo talento do quarterback.
Não é assim que as coisas funcionam quando Foles pilota seu time.
Foi pensando nisso que separei estatísticas chave do jogo de Foles nos Eagles em 2017 e 2018. Estatísticas que levam em conta somente os números ofensivos da participação de Foles na Philadelphia, sem contar o papel feito pelo sistema defensivo da franquia, portanto.
Adicionalmente, comparei tais valores às stats de Jacksonville nos mesmos questios. E tal comparação deixou algo claro: a equipe tem muito trabalho pela frente, ou deve correr um grande risco de investir milhões de dólares em vão mais uma vez.
Tudo começa pela linha ofensiva
O que mais chamou a atenção nos jogos dos Eagles em que Foles estava under center em 2017 e 2018, principalmente durante a pós-temporada, foi a forma como a linha ofensiva protegeu o agora camisa #7.
Nos 12 jogos em Philly neste período, Foles sofreu 5,41 hits e 0,94 sack por jogo em média. Na atual era da NFL, em que o pass rush se desenvolve cada vez mais, tais números são “de tirar o chapéu”.
Ainda no que diz respeito à pressão no QB, a OL de Philly ofereceu a Foles outro número interessante. O quarterback sofreu um sack em apenas 4,55% das tentativas de passe que teve. Isso, vale ressaltar, durante a temporada regular (sete partidas). Nos playoffs (cinco partidas), essa porcentagem cai para 1,65%. Exatamente isso: no mata-mata, Foles foi sackado em menos de 2% das vezes que tentou um lançamento.
Quando falei que os Jaguars têm muito trabalho pela frente, não foi por acaso.
Em 2018, Jacksonville permitiu 111 hits e 53 sacks em seus quarterbacks, o que dá médias de 6,9 e 3,3 por partida, respectivamente.
Além disso, o valor de sacks por tentativa de passe foi de 9%, mais que o dobro em compração aos Eagles. Sendo mais específico, 7,1% foi quando Blake Bortles estava under center, e 14,4% quando o encarregado foi Cody Kessler.
O grupo de recebedores
Uma das características do ataque dos Eagles com Foles, principalmente em 2017, foi que os wide receivers do time atravessaram possivelmente suas melhores fases justamente quando Philly foi obrigado a trocar de quarterback . Por outro lado, um dos maiores problemas do sistema ofensivo dos Jaguars na temporada passada vem justamente do grupo de recebedores.
Jacksonville foi o pior time da NFL no quesito drops. Recebedores do time droparam um passe 33 vezes ao longo do campeonato — foi a única equipe que atingiu a marca das três dezenas, de acordo com o rotowire.com. Isso resulta em uma média de 2,06 drops por confronto.
Já os recebedores de Philadelphia, mesmo que longe do ideal, também foram consideravelmente melhores neste quesito na temporada passada. Com 18 drops ao todo, Philly teve uma média de 1,1 por partida.
O jogo corrido
Por incrível que pareça, o jogo corrido dos Eagles nem teve uma consistência absurda com Foles under center. Esse teve uma média de 97,9 jardas terrestres por partida nos 12 jogos em questão, com uma média de 3,7 jardas por tentativa.
Neste caso, os Jaguars aparentam estar na posição adequada.
Em 2018, mesmo com Leonard Fournette sofrendo com lesões, Jacksonville teve 107,7 jardas corridas por confronto e de 4,1 jardas por corrida, em média.
Ter o apoio de um running back no patamar de Fournette, se saudável, é algo que Foles basicamente não presenciou na carreira, mas que deve melhorar ainda mais as coisas para ele.
Fechando a conta
Acima, foram abordados apenas quesitos ligados ao ataque dos Eagles sob o comando de Foles. O que deixou de lado outros pontos imprescindíveis para o sucesso do quarterback em Jacksonville.
Por exemplo, a posição que as campanhas ofensivas começam para cada um dos ataques pode fazer a diferença. Os Eagles foram um dos melhores times da NFL nos últimos anos no quesito, enquanto os Jaguars, um dos piores.
Na defesa, setor que Jacksonville se destaca, será importante que Calais Campbell, Jalen Ramsey e companhia pressionem o quarterback adversário. Algo similar ao que aconteceu em 2017 com este sistema defensivo. Que eles sejam sólidos em terceiras descidas, idem.
Sobre o que foi dito, a linha ofensiva é talvez o ponto de maior preocupação. Todavia, é preciso ressaltar que os melhores bloqueadores dos Jaguars (Andrew Norwell, Cam Robinson, Brandon Linder) sofreram lesões na temporada passada e em algum momento foram para a lista dos lesionados. A recuperação deles dá uma esperança à franquia, consequentemente.
Além disso, o que aumenta a confiança dos torcedores dos Jaguars é, certamente, a presença de John DeFilippo nas sidelines. Será o reencontro de DeFilippo e Foles, os quais se conhecem muito bem. DeFilippo estava na conquista dos Eagles em 2017, como técnico de QBs, justamente ao lado de Foles.
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O cenário ideal é que Foles tenha tempo para lançar a bola, permaneça dentro do pocket e tenha opções de curta distância. A média de de 5,4 e 7 jardas por tentativa em 2017 e 2018, nesta ordem, indica que o quarterback prefere “fazer o simples” e marchar seu ataque aos poucos. Isso resulta no controle do relógio, algo vital para os Jaguars a partir de agora também.
Se Foles estiver em posição de completar um passe curto na primeira descida, depois correr com a bola e chegar a third downs curtos, nos quais ele pode tanto chamar corrida (mesmo que o jogo corrido não seja excepcional) ou trabalhar com play action e, eventualmente, passe de curta e/ou média distância, as coisas devem fluir.
Pelo menos foi isso que aconteceu em Philadelphia.