Um vencedor do troféu Heisman hoje, vale menos do que há algumas décadas.
Antes de entrar em mais detalhes sobre o (não) sucesso profissional do jogadores que levaram o Heisman Trophy, tenha em mente que, para entender a importância e badalação deste prêmio está diretamente ligada às mudanças que que o jogo de futebol americano sofreu ao longo dos anos.
No college football e principalmente NFL, os planos de jogo aéreos atuai, com pocket quarterbacks muito valozirados, tight ends ágeis, running backs com 100 recepções e wide receivers “absurdos”, não eram imaginados antigamente.
Houve uma época em que os jogos eram ainda mais “truncados”, com os running backs robustos sendo arma super valiosa e um plano de jogo extremamente físico por meio das trincheiras.
Assim como um passe de 50 jardas nos dias de hoje vale menos do que há quarenta anos, um vencedor do Troféu Heisman atualmente é menos valiozo do que no passado.
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Ser o jogador mais impressionante do college football já foi sinônimo de sucesso na NFL. Todavia, recentemente, isso não vem acontecendo, pelo contrário. Aqueles jogadores que garantiram o Troféu Heisman nas últimas temporadas pouco fizeram quando chegaram à liga. Até hoje, apenas oito vencedores dos Heisman foram eleitos ao Hall da Fama, sendo Barry Sanders — vencedor do prêmio em 1988 — o último deles.
Peguemos desde 1999, período em que nos dá 17 vencedores do Heisman Trophy, com exceção de Lamar Jackson (2016) e agora Baker Mayfield. Desses 17 nomes em questão, eles apareceram apenas oito vezes no Pro Bowl, sendo que isso ficou restrito à apenas quatro jogadores diferentes; Carson Palmer (3), Cam Newton (3), Jameis Winston (1) e Mark Ingram (1). Além disso, vale dizer que neste período nenhum dos quase 20 nomes venceu o Super Bowl. Na verdade, eles quase nem chegaram a disputar o Grande Jogo, já que apenas Newton conseguiu este feito. Ser MVP da temporada é algo quase impossível nessa lista; assim como vitórias em pós-temporada.
O que é curioso nessa relação é que há cerca de 30, 40 anos, isso não acontecia, e os vencedores do Heisman Trophy marcaram a história da NFL. Barry Sanders, Roger Staubach, Marcus Allen, O. J. Simpson, Tony Dorsett, Earl Campbell. Temos ainda, em outras épocas, Paul Hornung, Charles Woodson, Tim Brown. Todos eles estão ou irão nos próximos cinco anos para o Hall da Fama.
“Ah, mas Cam Newton é um quarterback muito bom!” Newton é sim muito talentoso e existem argumentos que o colocam como muito bom, contudo, o impacto que teve para a época em que está inserido nem chega perto dequele que seus antepassados tiveram. De fato, comparando Newton a Eric Crouch, Matt Leinart, Tim Tebow, Sam Bradford, Robert Griffin III, Johnny Manziel, ele fica muito a frente dos demais; todavia, o que Cam Newton fez em sua época nem se compara ao que Staubach, Sanders, Allen, Simpson, representaram em outros tempos.
Falamos em mudanças no começo do texto, e são elas que deixam esses julgamentos do Heisman Trophy ainda mais complexos. Sabemos que a NFL viu seu estilo de jogo mudar de um conservadorismo que prezava o jogo corrido e passes curtos, para um que pensasse acima de tudo no passe. Entretanto, isso não aconteceu exatamente no college football. No nível universitário, esse padrão de jogo atual continua ainda abrangente demais, e por isso vemos constantemente jogadores muito diferentes aparecendo na NCAA.
Desta forma, o college football, que define o Heisman Trophy, não fica engessado ao estilo de jogo da NFL, o que explica porquê tantos quarterbacks corredores brilham nos tempos universitários, com números absurdos, campanhas praticamente perfeitas e premiações individuais. Mas talvez seja por isso (e outros fatores explicados abaixo) que acontece o chamado “baque da NFL”.
Ser bom no college football é uma coisa. Ser bom na NFL é outra, totalmente diferente. Na National Football League, primeiramente vale o trabalho, para depois entrar em campo o talento de cada jogador. Estudos, conhecimento do seu livro de jogadas, táticas do adversário, preparação física… Na prática da liga, tudo isso pesa mais a favor do sucesso do que o talento propriamente dito.
O estilo de jogo da liga, a velocidade dele e a maneira como as defesas se comportam já mostraram não ser indicadas para aqueles quarterbacks que acima de tudo pensam em correr. Aliás, podemos dizer que algo em torno de 80% dos casos são esses quarterbacks móveis que levam o Heisman. Para os running backs, a forma como eles avaliam sua linha ofensiva logo após o snap é o ponto-chave na ida ao nível profissional. Nos wide receivers, o trabalho dos pés e esforço nas recepções precisam ser triplicados. E isso segue para todas as posições.
Heisman Trophy: o premiado pelo destino
Como mostrado, existem várias explicações para o sucesso de certo atleta no college football e eventual fracasso dele na NFL. Já vimos, estamos vendo e ainda veremos muito disso acontecer no mundo do futebol americano. Mas por quê? Essa é uma pergunta que ainda perdura na mente de muitas pessoas.
Um dos fatores de maior consideração neste caso é na organização de um time do futebol americano universitário dentro de campo. Por que estamos acostumados a ver equipes com campanhas invictas em um ano e logo em seguida seu retrospecto despenca consideravelmente? Os elencos universitários são essencialmente instáveis, e não apenas pela ida de nomes ao Draft – acredite, isso é “o de menos” neste processo. E repare que esse exemplo de equipe citada, normalmente conta com um protagonista, o qual aparece nas discussões do Heisman no ano em que seu time vai bem. Porém, pouco tempo depois, quando as coisas pioram, ele já não é nem mais cotado.
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Normalmente, temos que bons jogadores atuam como titulares no college por dois ou três anos. Porém, na grande maioria das vezes apenas em uma temporada esse atleta irá se destacar absurdamente e ser um dos melhores do país. É raro ver um jogador brilhando em toda sua carreira universitária; tanto que até hoje apenas um nome desde 1935 venceu o Heisman duas vezes Archie Griffin (1974 e 1975). Em contrapartida, na NFL, Drew Brees acabou de garantir sua 11ª temporada consecutiva (!) com pelo menos 4.000 jardas aéreas.
Desta forma, podemos concluir que não basta ser o melhor jogador para ser de fato nomeado o melhor da competição (Heisman Trophy). Levar esse reconhecimento, na maioria das vezes (é claro que toda regra tem sua exceção e Lamar Jackson é a mais recente), passa pela necessidade de ser produto de um esquema de jogo certo em um ano certo; em outras palavras, um “fruto do destino”.
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