Peyton Manning e Tom Brady protagonizaram uma das maiores rivalidades individuais da história do esporte. Mesmo nunca tendo se enfrentado em um Super Bowl (logicamente, por sempre estarem na mesma conferência), os legados do camisa #18 e #12 criaram confrontos inesquecíveis entre Indianapolis Colts/Denver Broncos-New England Patriots.
Manning e Brady foram os quarterbacks mais marcantes de suas gerações e dominaram a NFL por quase duas décadas. Mas o quanto melhor que os outros eles foram?
O gráfico abaixo é o primeiro dos três apresentados neste texto, e compara o total de jardas aéreas de Manning e Brady por temporada desde 1998 com a média dos titulares da liga em cada um dos campeonatos. Considerei titulares aqueles QBs que começaram pelo menos 12 confrontos em cada ano.
Tenha em mente que Brady não foi titular de fato em New England até 2001, e ainda está em atividade. A única temporada que o camisa #12 não atuou, como mostrado abaixo, foi em 2008.
Já Manning, repare que as estatísticas são marcadas a partir de 1998, quando ele foi recrutado. A carreira do camisa #18 durou até 2015, tendo também um ano ausente (2011) por conta de lesão.
Em termos de jardas, tanto Manning quanto Brady foram muito acima da média. 2016 foi a exceção para o QB dos Pats neste caso pois foi o ano em que ele perdeu quatro partidas por suspensão. No caso do ex-Colts e Broncos, o único ponto fora da curva foi em seu último ano profissional, quando fisicamente já não era o mesmo.
Curiosamente, os melhores anos de Manning nunca corresponderam aos melhores anos de Brady, estatisticamente, e vice-versa. No caso de Peyton em específico, chama atenção que em anos que a média da NFL teve considerável queda, ele ainda assim prosperou (2006 e 2010).
Em 2011, ano com maior média de jardas aéreas por quarterback titular de todos os tempos, Manning não atuou. Por outro lado, Brady teve o melhor ano da carreira no quesito.
O ponto alto do gráfico acima pertence a Manning, que lançou 5.477 jardas em 2013. Marca que ainda permanece como a maior da história da NFL em uma temporada.
Ademais, entre 2001 e 2015 (período em que Manning e Brady foram titulares ao mesmo tempo), um deles liderou a liga em jardas aéreas quatro vezes, duas para cada. O QB dos Patriots conseguiu o feito em 2005 e 2007, enquanto o ex-quarterback alcançou tais marcas em 2003 e 2013.
Outro ponto interessante a ser observado: a média da NFL vem em uma crescente. A temporada de 2017 foge deste “novo padrão”, mas em geral a evolução dos ataques aéreas é perceptível no gráfico. Leia mais sobre isso.
É hora de colocar mais informação no gráfico.
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Ao invés das jardas, o assunto em questão são os passes para touchdown e interceptações (eixo Y) em cada temporada (eixo X).
Vamos
Em geral, as linhas nos mostram algo parecido com o primeiro gráfico: Manning (PM no gráfico) e Brady (TB) sobressaem novamente. Com a exceção do último ano de PM, nenhum dos dois quarterbacks jamais esteve abaixo da média da liga em passes para TD.
Vemos três “explosões” no gráfioco, as quais correspondem à marcas recordes em suas épocas. Em 2004, Manning lançou 49 touchdowns, quebrando o recorde estabelecido por Dan Marino (48) 20 anos antes. Três temporadas depois, Brady obteve 50 lançamentos na endzone — um novo recorde. Esta marca voltaria a ser quebrada por Manning, que passou para 55 TDs em 2013, recorde que permanece até hoje.
Em 2016, embora tenha perdido quatro jogos (suspenso), Brady ainda assim ficou consideravelmente acima da média.
Manning e Brady nunca terminaram um campeonato com o mesmo número de touchdowns. O ano mais próximo disso foi 2002: 28 para Tom, 27 para Peyton. Naquele ano, como mostrado aqui, Brady liderou a liga em passes para touchdown — ele foi o último quarterback a conseguir isso tendo lançado menos de 30 TDs.
Falando nisso, o camisa #18 (2000, 2004, 2006, 2013) e o #12 (2002, 2007, 2010, 2015) lideraram a NFL em touchdowns em uma temporada o mesmo número de vezes, quatro. Já liderar em jardas e TDs no mesmo ano, Manning conseguiu duas vezes (2000 e 2013), contra uma de Brady (2007).
Quando o assunto é interceptações, é “ridículo” o fato de Brady já ter terminado um campeonato abaixo de 10 INTs sete vezes, sendo duas dessas com marcas inferiores a cinco picks. 2016 foi uma dessas temporadas e, por mais que a quantidade de partidas possa ter inferido nisso (lembre-se da suspensão, Brady liderou a liga com apenas 0,5% de seus passes sendo interceptados na ocasião.
Para Manning, o que chama mais atenção talvez seja a forma como o quarterback conseguiu diminuir os passes interceptados ao longo dos anos. Ele liderou a NFL em INTs como calouro, e jamais esteve abaixo da média da liga até 2001. Mas depois disso as linhas mudam de direção. E sim, como novato Peyton teve mais INTs (28) do que TDs (26).
Nas linhas que mostram a média da liga em interceptações, o pico acontece, surpreendentemente, em 2003. Naquele ano, repare, Manning e Brady vão muito bem. Os outros quarterbacks titulares, todavia, nem tanto. Há 16 anos, cinco QBs terminaram o campeonato com 20/+ interceptações. Foram eles: Joey Harrington, Marc Bulger, Brad Johnson, Quincy Carter e Brett Favre.
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As estatísticas básicas de um jogo certamente foram diferenciais de Manning e Brady. Porém, eles não foram os únicos a conseguirem isso no período retratado. Drew Brees, por exemplo, foi muito acima da média também. Aliás (ALERTA DE SPOILER), esses gráficos, no entanto com as estatísticas de Brees (e quem sabe de algum outro QB) também inseridas será o assunto do meu próximo texto no Shotgun.
E outros quarterbacks, em níveis drasticamente abaixo de Manning/Brady, conseguiram temporadas impressionantes, estatisticamente (jardas e/ou TDs) falando. Em 2004, Marc Bulger totalizou mais de 3.900 jardas. Matt Schaub, por exemplo, liderou a liga em jardas aéreas em 2009, com ainda 29 touchdowns no ano. Ryan Tannehill ultrapassou as 4.000 jardas em 2011. Naquela mesma temporada, Matthew Stafford se tornou parte da história: mais de 5.000 jardas e 40 TDs. 2011 foi o “Ano Dourado” para os quarterbacks.
Dito isso, tenha em mente que o que diferenciou Manning e Brady dos demais não foram necessariamente as jardas e touchdowns. Esses foram, digamos, consequências. Consequências daquilo que podemos chamar de “máquina de vitórias”.
Em outras palavras, o que fez/faz desses quarterbacks diferentes — e elevou a rivalidade entre eles — foi a capacidade de vencer jogos.
Repare como ter Manning ou Brady praticamente garante, no mínimo, 10 vitórias por ano.
O gráfico também mostra momentos interessantes.
O ponto máximo, na campanha 16-0 dos Patriots em 2007, talvez seja o principal deles. Além disso, as linhas retas de Brady (em vermelho) mostram uma consistência que jamais foi vista na história da NFL. E mais: repare que o camisa #12 jamais venceu menos jogos do que a média da liga por temporada.
No caso de Manning, a evolução desde quando calouro fica evidente mais uma vez. As inconstâncias no começo deram lugar a triunfos certos. Os mais impressionantes desses foram possivelmente em Denver (a partir de 2012). Afinal, Manning teve uma queda de produção de 2009 para 2010, não jogou em 2011, mas emplacou 38 vitórias em três temporadas no Colorado.
Ironicamente, a linha mais alta do gráfico de vitórias não foi coroado com um Super Bowl para Brady. E Manning, em seu pior ano profissional (o único que todos os gráficos apontam para uma queda brusca), levantou o Troféu Vince Lombardi.
Algum outro fato lhe chamou atenção nos gráficos?