Antes de começar a leitura deste texto, é preciso saber que ele foi escrito em março de 2016, no aniversário de Peyton Manning, poucos dias após sua aposentadoria ter sido oficializada. Especificamente hoje (24/03/2018), Manning completa seu terceiro aniversário fora da National Football League, e decidimos relembrar o texto de dois anos atrás, fazendo algumas adaptações. Contudo, lembre-se que o contexto em que ele fora escrito não é o que estamos vivenciado agora; portanto, não pense que o texto está “desatualizado” em alguns momentos.
Além disso, não aconselho nenhuma pessoa que não seja fã de Peyton Manning a ler este texto. O artigo relembra fatos específicos de sua carreira, jogadas, lances, conquistas… Fatos que, ao meu ver, não seriam bem recebidos por quem não apreciou o camisa #18.
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Falar em Peyton Manning, para mim, é me lembrar da primeira partida da NFL que assisti: Indianapolis Colts contra Chicago Bears, Super Bowl XLI. O primeiro anel de Manning. Ali começava oficialmente minha “jornada” com o futebol americano da melhor maneira possível, e com um enorme ícone definido. Não, não comecei a acompanhar futebol americano por causa do P. Manning. Mesmo que ele não jogasse aquele Super Bowl eu teria me apaixonado por este esporte espetacular; o que talvez mudaria, é que eu não teria uma referência tão grande para motivação de estudos, pesquisas e aprofundamento pela área, a qual me trouxe ao cenário em que estou atualmente.
Foi descobrindo mais sobre Peyton Manning, que me deparei com outros jogadores, times, escalações, estatísticas, recordes… Enfim, tudo que sei e ainda irei aprender sobre o futebol americano. Foi Manning que “trouxe” a minha segunda referência nesse esporte, Tom Brady. E meu tight end predileto também, Dallas Clark. O pequeno grande Marvin Harrison, o explosivo Joseph Addai…
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Ver Peyton Manning fazendo mais um aniversário longe dos gramados desperta inúmeras emoções e sentimentos em mim (e acredito que em todos aqueles que admiram o bom futebol americano também). Tristeza, gratidão, felicidade, admiração… As dez temporadas completas que acompanhei Manning intensivamente “voaram”, como os belíssimos passes do quarterback para Harrison, seu melhor amigo sob minha perspectiva. O Peyton Manning que me acostumei a ver parecia não ter fim. Talvez por isso será tão difícil em acostumar com um campeonato sem ele.
Mas o tempo passa. O esporte, aliás, torna isso ainda mais severo. E hoje, quando Peyton completa seu aniversário de 42 anos (o segundo fora da NFL desde março de 1998), falo dele mais uma vez como um ex-jogador. Não foi apenas a figura de Manning que deixou a liga. O impacto desta retirada vai além de seu simples fato. Ele introduziu e marcou uma nova era da NFL, e desde que pendurou as chuteiras, iniciou o fim dessa.
Gostei bastante de como a última temporada de Manning se processou, ela provou muita coisa que não poderia passar em sua carreira, especialmente em termos de críticas. É fato que cada um tem uma opinião, mas como alguém pode questionar tão criticamente alguém que tenha lançado 539 touchdowns, 71.940 jardas; venceu cinco (!) MVPs; formou duas (!) das melhores duplas quarterback–wide receiver da história (com Harrison e Reggie Wayne); e tenha quebrado tantos recordes de passe, alguns que acreditávamos serem “impossíveis” de alcançar? Isso pelo fato que ele tinha apenas um anel de Super Bowl e alguns fracassos (por “n” razões distintas) em pós-temporada? Ironicamente, na pior temporada da brilhante carreira de Manning, ele venceu mais um campeonato.
Por outro lado, podemos ver a conquista do Super Bowl 50 e a quebra de alguns recordes, como o de jardas contra os Chiefs na semana 10 de 2016, por exemplo, como algo que nos lembra quem ele realmente é e sua importância na história do futebol americano. Foi em seu pior ano profissional que ele alcançou a glória máxima para um quarterback várias vezes.
Os domingos (segundas e quintas) não serão mais os mesmos. Sem mais aquela grande expectativa de assistir à história sendo escrita semanalmente, uma vez que Manning, em sua época, passava a certeza que os recordes importantes de passe da National Football League seriam alcançados por ele. Agora, tudo isso está estático, esperando outro alguém para reescrever a história do esporte.
Sem mais passes para touchown. E, diga-se de passagem, foram muitos, como falado (539). Tudo isso, para 49 jogadores diferentes. 49 predestinados que tiveram a honra de jogar, treinar e serem treinados (literalmente) por Peyton Manning.
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Sem mais viradas emocionantes em 4º período. Ah, e não, essas não poderiam passar batidas aqui.
Entre as principais reviravoltas que Manning alcançou em sua carreira, tive a honra (e sorte também) de poder assistir ao vivo à várias delas, e as que não estive acompanhando, fiz questão de assisti-las de alguma maneira. Não costumo dar dicas aos longos dos textos, mas aqui fica uma de caráter bem especial: assistam todas elas! Se você gosta do Peyton em si, ou do futebol americano, de esporte, emoção… Enfim, assistam.
A primeira delas é Colts contra Buccaneers em 2003, uma das maiores viradas da história da NFL. Rápida sinopse: os Bucs defendiam seu título naquele ano, comandados por Tony Dungy (que mais tarde fora o técnico de Manning no SB XLI) e com uma defesa que está entre as melhores de todos os tempos. A partida era disputada em Tampa e os Colts perdiam por 21 pontos com apenas cinco minutos restantes para o fim da partida. Não vou “contar o final do filme” aqui, mas garanto que ninguém se arrependerá de assisti-lo.
A próxima indicação foi, para mim, um dos jogos mais “entregados” da NFL. Ano de 2008, Indianapolis Colts visitando o Houston Texans, time que, diga-se de passagem, foi o que mais sofreu com Manning: 17 derrotas em 20 jogos. O time mandante liderava por 21 tentos no último quarto e perdeu essa vantagem em pouco mais de dois minutos. Resultado: Colts 31 x 27 Texans.
O próximo capítulo de destaque aqui talvez seja o mais marcante da carreira de Peyton. Quero acreditar que todos os assíduos fãs da NFL já ouviram falar desta partida, pelo menos. Colts 38, Patriots 34, na final da Conferência Americana. Ali, Manning, além de garantir sua primeira participação em Super Bowl, derrotou – de forma incrível – seu maior desafio individual, Tom Brady. Naquela ocasião, os Colts foram para os vestiários do RCA Dome ao fim do segundo quarto sendo derrotados por 21 a 3.
E foi em um Thursday Night Football de outubro de 2012 que aconteceu a última virada de Manning que, para mim, merece ser destacada aqui, contando que só cabem as mais surreais neste espaço. Já em Denver, com os Broncos, P. Manning via “o mundo caindo sobre ele”, após errar inúmeras vezes na primeira metade da partida, e seu time perdia por 24 a 0 para os Chargers no intervalo. Pretendo não contar muito aqui mais uma vez, mas digo que sim (!), ele conseguiu virar o jogo e, além disso, fez um dos passes mais perfeitos que já vi de um quarterback.
Aproveitando o gancho de “partidas espetaculares”, não deixarei passar aquela que foi, para mim, a atuação mais dominante de PM#18 na National Football League. No Lucas Oil Stadium, os Colts receberam os Jets, nos playoffs da temporada 2009/10. Para quem não se lembra, aquele New York Jets tinha a melhor defesa da época, a qual também está entre as melhores que já existiram, liderada por Derrelle Revis e Rex Ryan. Então, contra uma das grandes defesas da liga, Manning passou para 375 jardas e três touchdowns, dominando o adversário em cada jogada, como se ele soubesse o que os jogadores novaiorquinos iriam fazer.
Prometo não falar mais nada sobre Peyton Manning em jogos após isso, mas não deixe de assistir ao vídeo da segunda corrida mais longa da carreira dele (a primeira foi contra os Bills, em 2001): 27 jardas em 2010 contra o Oakland Raiders, após dissecar brilhantemente o que o sistema defensivo adversário iria fazer. Vale (muito) a pena!
Então, o que mais tenho para falar de Manning?
Esta pergunta não é muito apropriada para a situação, é fato. O melhor aqui seria “O que falar dele agora?”. Se fosse abordar tudo de sua carreira, seria melhor (e mais justo) escrever um livro – que eu ainda pretendo escrever, aliás.
Fica difícil definir Manning. O mais adequado aqui seria explicitar cada frase que lendas da NFL já disseram sobre ele. Mas não cabe, são muitas.
O que podemos garantir sobre Peyton é que ele marcou uma época na NFL. Isso de uma forma que poucos já conseguiram no esporte. Todo o trabalho, inteligência, técnica, habilidade, treinos, interceptações, touchdowns, jardas, sacks e fumbles colocaram Peyton Williams Manning no caminho mais curto e direcionado para a perfeição. Essa, diga-se de passagem, nunca fora reconhecida por ele mesmo. Mas, pensando bem, ela só é alcançada por aqueles que “nunca” pensam nela. Aqueles que encaram cada partida da mesma forma, pensando apenas em vencer. Peyton Manning, com certeza, foi um vitorioso, em todos os sentidos. Porém, nós (que pudemos acompanhá-lo semanalmente), de certa forma, também somos.
A aposentadoria de Manning, além de ser algo marcante na história do futebol americano, pode ter outro impacto para os fãs de algumas gerações: “There will be no other Peyton Manning”, assim disse Jim Irsay. E é verdade: não haverá outro Peyton Manning, e estamos sujeitos a grande falta que isso fará. Manning não é, nem será, um bom modelo de quarterback; pouquíssimos são ou serão como ele.
Mas essa é a NFL. Esse é o esporte. Atletas chegam e saem a cada temporada. Sucesso e glória são alcançados a todo momento; e sempre abrem a possibilidade para que um lado pelo menos saia decepcionado. Não tem como evitar. Sortudos são aqueles que puderam pegar uma “boa safra” de atletas, que trazem fatos e conquistas inesquecíveis. Sortudos são aqueles que puderam acompanhar Peyton Manning!
Obrigado, Manning, por tudo!
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