Uma das principais histórias ao longo do Draft 2019 não estava inserida no recrutamento em si. Afinal, com o Arizona Cardinals escolhendo Kyler Murray, o destino de Rosh Rosen entrou em pauta de uma vez por todas.
O Miami Dolphins, então, adquiriu Rosen em uma troca que mandou duas escolhas (2ª rod. 2019 e 5ª rod. 2020) aos Cardinals. A decisão de Miami se configura como uma das melhores que a franquia tomou nos últimos anos. Quem sabe até em sua história.
Os Dolphins trocaram por Rosen uma escolha da parte final do segundo round e outra do terceiro dia do recrutamento. O quarterback foi selecionado no ano passado na 10ª posição geral depois de Arizona se envolver em uma transação de três escolhas para subir no Draft 2018.
O motivo do esforço dos Cardinals para selecionarem Rosen foi principalmente pois o QB estava entre os melhores avaliados do draft. Era sensato apostar nele. Melhor dizendo, é sensato fazer isso. Para muitos scouts, Rosen era o quarterback que estava mais preparado para chegar à NFL na classe do ano passado.
Portanto, Miami adquire um valor incrível no QB.
Valor esse que a equipe nem precisará pagar muito pelas próximas temporadas. O bônus do contrato de calouro de Rosen ficará sob responsabilidade dos Cardinals, o que dará ao time de Phoenix um dead cap de US$ 8,2 milhões. Ou seja, os Dolphins terão que pagar somente o salário do quarterback, que será de US$ 1,3, US$ 2,1 e US$ 2,9 milhões nas próximas três temporadas, respectivamente.
O cap hit de Rosen em 2019 será apenas 52º maior dentre todos os QBs da NFL.
É difícil imaginar um cenário melhor do que esse para os Dolphins na posição de quarterback na atualidade. O plano com Ryan Tannehill falhou e o QB agora está em Tennessee. Meses depois, Miami agora tem um promissor QB de 22 anos, o qual fora adquirido por um sólido valor e tem um dos salários mais baixos da liga na função.
Claro, existe uma preocupação em torno de Rosen. Afinal, ele foi muito mal como calouro. Entre os 33 quarterbacks que tentaram pelo menos 200 passes em 2018, Rosen foi o pior da NFL em rating (66,7), jardas por tentativas (5,8) e porcentagem de touchdown por tentativa (2,8%), além de penúltimo em porcentagem de passes certos (55,2%).
Todavia, vários fatores devem ser levados em consideração quando analisados tais números. O ataque dos Cardinals estava desregulado fora das quatro linhas. Steve Wilks não se encontrou no cargo de treinador acabou demitido logo após o campeonato. O coordenador ofensivo de Rosen na temporada foi ainda pior: Mike McCoy perdeu o emprego na metade do campeonato. Aliás, foi o terceiro ano seguido que McCoy é demitido.
Ademais, a linha ofensiva de Arizona, devastada por lesões, permitiu pressão ao seu QB em mais de 40% dos snaps. E o grupo de recebedores, que também teve vários jogadores no departamento médico, carecia de alvos mais sólidos e versáteis.
Desta maneira, a adaptação/transição de Rosen para a NFL levanta questões. Entretanto, até mesmo que Miami considere que Rosen precise ficar algumas partidas no banco de reservas o cenário é favorável para a equipe. Ryan Fitzpatrick seria o titular nessa conjuntura.
É preciso lembrar que juntamente à mudança under center, Miami também renova a comissão técnica. Brian Flores foi contratado para head coach, naquela que será sua primeira experiência como treinador principal depois de bons trabalhos como técnico de linebackers, coordenador defensivo e chamando jogadas defensivas do New England Patriots.
Do outro lado da bola, Chad O’Shea, ex-técnico de wide receivers dos Patriots, foi contratado como coordenador ofensivo. E ele terá na comissão técnica Jim Caldwell como técnico de quarterbacks, o qual trabalhou pela última vez em 2017 como treinador do Detroit Lions.
Todos eles tentarão mostrar que a curta aparição de Rosen na NFL até agora foi “um acidente de percurso”. E a história da liga mostra que isso já aconteceu em outras ocasiões. O outro desfecho da história, contudo, também não pode ser descartado.
O exemplo mais recente é Jared Goff
O caso mais fácil de comparação para os Dolphins aqui, por ter acontecido justamente nas últimas duas temporadas, é o de Jared Goff no Los Angeles Rams. Goff foi recrutado como primeira escolha geral do Draft 2016 após grande troca dos Rams pela posição.
Como calouro, todavia, sob o comando do head coach Jeff Fisher, fracassou. Ele foi derrotado em todos os setes jogos que foi titular, totalizando 54,6% de aproveitamento, menos de 200 jardas por confronto, cinco touchdowns e sete interceptações.
E não foi apenas Goff: o ataque dos Rams em 2016 foi o pior da NFL em pontos por partida. Assim como o dos Cardinals com Rosen em 2018.
Fisher acabou demitido na semana 14 daquele ano. Rob Boras, coordenador ofensivo de Los Angeles na época, idem. Então, a aposta para substituto de ambos foi a mentalidade ofensiva de Sean McVay.
Bingo!
McVay soube extrair o melhor de basicamente todos os jogadores do sistema ofensivo dos Rams. Todd Gurley voltou a produzir, a linha ofensiva ganhou consistência, jovens wide receivers se destacaram e, claro, Goff se firmou como quarterback. O resultado foi imediato: um ano depois, L. A. terminou o campeonato com o melhor ataque da liga.
Mesmo que inserido em um contexto diferente de Goff em termos de comissão técnica, e também de armas ofensivas, o objetivo de Rosen nos Dolphins é o mesmo: dar a volta por cima após ter decepcionado como calouro e evitar um bust histórico (mais um) na NFL.
Outros casos
Rosen e Goff não são os únicos QBs da história da NFL a atravessarem temporadas como novatos instáveis e estarem sob grande pressão para o decorrer da carreira.
Os três casos principais provavelmente são Terry Bradshaw, Troy Aikman e Eli Manning.
Bradshaw participou de 13 confrontos (titular em oito deles, 3-5), como calouro em 1970. Ao todo, ele teve 38,1% de aproveitamento nos passes, seis touchdowns e 24 interceptações. Todas elas as piores marcas de sua carreira em cada um dos quesitos.
Ademais, enquanto Aikman terminou 0-11 com nove TDs e 18 INTs em sua primeira temporada profissional (1989), Manning só venceu um dos sete jogos que começou e, com participação ao todo em nove partidas, completou menos de 50% dos lançamentos, com seis touchdowns e nove interceptações.
Hoje, Bradshaw (4), Aikman (3) e Manning (2) combinam para nove Super Bowls na carreira.
Vale lembrar ainda que Matthew Stafford (2009), Donovan McNabb (1999), Bert Jones (1973) e Alex Smith (2005), todos eles levantaram preocupações por atuações ruins como novatos. Smith, por exemplo, obteve apenas um TD (e 11 INTs) nas nove partidas que esteve em campo em seu primeiro ano. E todos eles acabram se tornando titulares absolutos na carreira, ganharam grandes contratos e participaram de momentos marcantes para suas respectivas franquias.
Em contrapartida, o outro extremo dessa narrativa não pode ser descartado — e os casos são muitos.
O maior exemplo é Ryan Leaf. Segunda escolha geral do Draft 1998, Leaf encheu os torcedores do San Diego Chargers de esperança. No entanto, depois de obter dois touchdowns e 15 interceptações em 45% de aproveitamento nas tentativas como calouro, teve somente outras duas temporadas jogadas na NFL.
Tim Couch foi o primeiro nome chamado no Draft 1999. Apesar de ter conseguido encaminhar o Cleveland Browns aos playoffs em 2002 vencendo oito das 14 partidas que foi titular, ele se aposentou cinco temporadas após ter sido recrutado e com mais interceptações do que touchdowns.
Matt Leinart foi a 10ª escolha geral de 2006 e se aposentou com 15 TDs e 21 INTs após sete temporadas. Cinco anos depois, a última pick do Top 10 foi Blaine Gabbert, o qual totalizou 4-10 e 50% de aproveitamento como calouro. Depois disso, Gabbert ainda atuou sete temporadas na NFL, tendo vencido apenas nove dos 34 jogos em que foi titular.
E essa lista continua. Cade McNown, Heath Shuler, Brandon Weeden, EJ Manuel, Patrick Ramsey, John Reaves, Kyle Boller, Steve Fuller, Rick Mirer, Joey Harrington, entre outros.
Todos esses quarterbacks tiveram temporadas estreantes decepcionantes e hoje são vistos como grandes busts.
Há também os casos em que o QB não é um grande fracasso, mas nem aquele jogador que muitos esperavam. Eles conseguiram ter certa instabilidade como titular, apesar de nunca correspondido às altas expectativas quando recrutados.
Nesta lista, inclua Jim Everrett, Tommy Kramer, Jay Cutler, Michael Vick, Archie Manning, Mark Sanchez e até mesmo Doug Williams, o qual venceu um Super Bowl com o Washington Redskins apesar de jamais ter totalizado uma campanha com mais vitórias do que derrotas na franquia.