Se você não tivesse acompanhado o Draft 2017 da NFL (e nada sobre ele) e alguém lhe dissesse que dois quarterbacks foram selecionados nas dez primeiras escolhas, é natural que os nomes de Mitchell Trubisky e Deshaun Watson viessem à tona. Por mais que algumas análises mostrassem outra coisa, Trubisky e Watson eram os mais badalados da classe. Todavia, não foi isso que realmente aconteceu.
O nome de Trubisky até foi o primeiro chamado entre os quarterbacks (na segunda escolha geral, após o Chicago Bears surpreender a todos), entretanto, não foi Watson o segundo escolhido da posição. Lembra que falei sobre o equilíbrio (mesmo que nivelado por baixo) entre os quarterbacks da classe de 2017?Pois então, ele ficou evidente neste caso. O Kansas City Chiefs decidiu se envolver em uma troca com o Buffalo Bills para subir da 27ª posição geral até a 10ª. Todo este esforço, certamente, para tentar resolver o futuro da franquia: com a nova colocação, os Chiefs selecionaram Patrick Mahomes.
Se as especulações e questionamentos para jogadores que não são quarterbacks já são grandes, imagine para a posição mais importante do esporte? Ainda mais quando a decisão não é unânime, os debates e discussões sobre o fato se alastram consideravelmente. Desta forma, a partir do exato momento em que Mahomes foi chamado pelos Chiefs surgiram as perguntas. Kansas acertou na escolha? O ex-Texas Tech pode mesmo ser o novo líder dos Chiefs no futuro? Qual o tamanho deste desafio para Andy Reid?
É com isso em mente que decidi adentrar nesta discussão e analisá-la cautelosamente!
Afinal, quem é Patrick Mahomes?
Falar em Patrick Mahomes é falar em um quarterback de braço incrível. Com lançamentos que nos remetem a arremessos de beisebol (pela força; o pai de Pat foi arremessador profissional de beisebol também), Mahomes teve uma carreira no college football extremamente produtiva pela universidade de Texas Tech. Tanto que em seus últimos dois anos universitários, foram mais de 9.500 jardas aéreas e 77 touchdowns. Acredite ou não, mas em 2016 ele ultrapassou as 5.000 jardas de passe e os 40 TDs, tendo lançado apenas dez interceptações.
Além disso, é preciso destacar a mobilidade de Pat. Não, ele não é nenhum “Cam Newton da vida”, porém é móvel suficiente para prorrogar muitas jogadas – e isso é algo que o estilo de jogo da NFL vem solicitando. Tudo isso gerou comparações entre Mahomes e Brett Favre (pelo braço principalmente) e também com Aaron Rodgers (pela combinação braço-mobilidade).
Em contrapartida, é perceptível que Patrick Mahomes peca no trabalho dos pés. Ademais, suas leituras nas jogadas não são das melhores e muitas vezes ele não sabe lidar com o que a defesa apresenta. Em outras palavras, ainda falta um toque de improviso para Mahomes.
Por fim, é preciso dizer que a transição universitário-profissional pode ser mais complexa para o ex-Texas Tech. Isso acontece pois no college Patrick atuou no chamado “Spread Offense” (estilo de ataque voltado para o jogo vertical, em que o quarterback se posiciona apenas no shotgun e em raras ocasiões chama jogadas corridas convencionais). Na National Football League, naturalmente, Mahomes não trabalhará neste esquema majoritariamente. Será preciso entender o trabalho dos pés para as mais diversas formações, a utilização do ataque terrestre tradicional e o posicionamento de recebedores além das jogadas verticais.
Desta maneira, conclui-se que Patrick Mahomes tem pré-requisitos básicos e cruciais para um quarterback de sucesso na NFL e seu braço simboliza isso. Contudo, ao mesmo tempo, os problemas que rodeiam o calouro são alguns que não são sustentados no nível profissional.
Por isso, Kansas é a melhor opção disponível para Mahomes
Patrick Mahomes é um diamante que precisa ser lapidado, isto é claro. E para esse processo ser bem sucedido na NFL, dependerá principalmente do head coach responsável. Por isso (entre outros motivos) o Kansas City Chiefs aparenta ser de fato a melhor opção para Mahomes: poucos treinadores têm mais experiência e capacidade em trabalhar jovens talentos na liga quanto Andy Reid. Diga-se de passagem, este será o maior desafio de aprimorar um quarterback para Reid desde Michael Vick em 2010. Lembre-se ainda que em 1992, quando Brett Favre chegou aos Packers, Reid também era assistente técnico daquele time.
O que chama atenção nesses trabalhos de Andy Reid é que ele cria um sistema ofensivo em torno do quarterback em questão – se já é difícil para um calouro se adaptar à NFL e seus desafios, digamos que Reid tenta encurtar relativamente este caminho. Aliás, saiba que o atual ataque dos Chiefs só é tão dependente de Alex Smith devido a este estilo do head coach.
Falando em Alex Smith, ele é mais um motivo para o que foi cravado neste tópico. Alex Smith já não é nenhum menino, terá 33 anos na próxima temporada e seu contrato termina em dois anos. Apesar de algumas incertezas, ele será o titular da franquia enquanto estiver por lá, não há possibilidade dele perder seu cargo. Todavia, Smith não estará lá pela frente. Paralelamente a isso, lembro você que o elenco do Kansas City Chiefs está repleto de jovens talentos, o que deve manter o time competitivo por mais alguns anos. Assim sendo, se Alex Smith pendurar as chuteiras neste meio tempo, Patrick Mahomes estará lá. E a ideia dos Chiefs é que ele mantenha a franquia realmente competitiva.
Então, Patrick Mahomes será treinado por ótimo e experiente head coach, e em um bom time, o qual precisará de um novo líder em breve. Não poderia existir um cenário melhor para ele.
Mas Mahomes talvez não seja a melhor opção para Kansas
Particularmente falando, o fato do Kansas City Chiefs ter optado por Patrick Mahomes ao invés de Deshaun Watson não me agrada. Por tudo que vi até agora, Watson é um exímio vencedor e aparentar estar (bem) mais pronto para a NFL. Você pode até dizer que os Chiefs não precisem de um quarterback imediatamente, mas e se Alex Smith simplesmente não cumprir seu último ano de contrato pela franquia seja lá por qual motivo? Está claro que ter a melhor versão de Mahomes ou não, será questão de tempo para Kansas.
Kansas é uma daquelas equipes que não deveria estar à procura de um quarterback com um braço espetacular. Mas sim um grande competidor, que combine todo seu talento com a arte de vencer os jogos mais importantes – saiba que os Chiefs não vencem o Super Bowl desde 1969. Neste sentido, acredite, não tem como comparar Watson e Mahomes.
A última vez que o Kansas City Chiefs havia recrutado um quarterback na primeira rodada de um Draft foi em 1983, quando a franquia escolheu Todd Blackledge. Devemos lembrar ainda que os anos recentes, apesar de várias vitórias, não terminaram como esperado para os torcedores da franquia. Em meio à algumas decepções, a pressão para que a equipe volte aos seus anos de glória aumenta a cada temporada – e Patrick Mahomes agora faz parte deste contexto. A transição de Mahomes para a NFL, em meio a tudo isso, terá grandes obstáculos, os quais definitivamente colocam em xeque o futuro da franquia (e do quarterback, é claro).
Mahomes foi a melhor opção para os Chiefs? Mande sua opinião para nós nos comentários ou pelas redes sociais!
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