Se você começou a acompanhar a NFL nas últimas três temporadas, deve estar acostumado a um fato e por isso considerou um absurdo o questionamento no título desse texto. Nesse período referido, os Chargers têm sido um dos times mais inconstantes da liga, marcados por temporadas decepcionantes, que vão desde performances abaixo da média de seus jogadores até surpreendentes lesões. Entretanto, saiba que nem sempre foi assim – e não precisamos voltar tanto no tempo para relembrar isso.
O passado recente dos Chargers foi marcado por vitórias, boas caminhas à pós-temporada e renovou as esperanças de seus torcedores por algum tempo. Tudo isso começou em 2004, quando a franquia deixou aquele Draft com Philip Rivers de quarterback de primeira rodada. Desde que entrou à liga, Rivers se mostrou um dos quarterbacks mais produtivos de sua geração, estando sempre marcado por boas vitórias, e muitas jardas e touchdowns. Não à toa, se somarmos o período entre 2005 e 2009, o San Diego/Los Angeles Chargers é um dos seis times da NFL que mais venceu jogos. Nada disso, acredite, teria acontecido se não fosse por Philip Rivers.
A história do camisa #17 com os Chargers começou muito bem mas não acabou se desenvolvendo como deveria. Lesões, contratempos, decisões equivocadas da diretoria, erros inaceitáveis do QB e campanhas desapontadoras fizeram com que ele estivesse um passo atrás de representar a Conferência Americana em um Super Bowl, por mais que merecesse isso. Assim sendo, 13 anos depois, é possível nos depararmos com a situação e perguntar: até onde os Chargers atrapalharam Rivers na caminhada ao Troféu Vince Lombardi? O que ele mesmo poderia ter feito diferente (ou ainda pode, nunca se sabe)? Por fim, ele ainda tem gasolina no tanque para conquistar um anel?
Rivers sempre foi um quarterback realmente competitivo
Como falado, Philip Rivers chegou à NFL em 2004, como escolha de 4ª rodada. Muitas pessoas não sabem, mas o time que oficialmente draftou Rivers foi o New York Giants (enquanto o San Diego Chargers draftou Eli Manning). Logo após a escolha, então, as duas franquias decretaram uma troca que inverteu os destinos de cada um desses quarterbacks.
Apesar de ter sido recrutado em 2004, a história de Rivers nos Chargers começou de fato na temporada de 2006, após a ida de Brew Brees para os Saints. Logo de cara, os fãs em San Diego viram que o camisa #17 não seria só mais um quarterback para a franquia. Em três das primeiras quatro temporadas de Rivers como titular, ele venceu pelo menos 11 partidas, incluindo uma campanha 14-2 em 2006, a qual colocou o time em ótima posição nos playoffs, mas com o azar de enfrentar os Patriots na ocasião. Ademais, já em 2007 veio seu primeiro triunfo em pós-temporada, sobre os Titans, o qual encerrou um jejum de San Diego em mata-mata que durava desde 1994.
Ainda naqueles playoffs, como não lembrar a performance que Rivers teve diante dos Colts de Peyton Manning. Com um rating de 133,2, o camisa #17 desbancou o então favorito fora de casa, dando aos Chargers uma nova oportunidade de estar na final da AFC, algo que não havia acontecia há 13 anos naquela época. O problema, mais uma vez, foi que o adversário era comandado por um tal de Tom Brady.
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Tudo isso são apenas exemplos de situações que ilustram porquê muitas pessoas acreditam que Philip Rivers é um quarterback com cacife de vencedor. Ademais, estou falando de um QB que está em uma sequência de 176 partidas consecutivas como titular (4ª maior da história), tem campanha 97-79 na carreira, tem mais de 45 mil jardas e 300 TDs, já foi selecionado para o Pro Bowl seis vezes, venceu o Comeback Player of The Year em 2013 e totaliza um rating na carreira de 94,7, que é o 8º melhor da história da liga (pelo menos 1.500 tentativas).
Se esses não são fatos que compõem um franchise quarterback, capaz de vencer um campeonato, algo está muito errado. Saiba ainda que ele já disputou nove partidas de pós-temporada, tendo vencido quatro delas, o que não é de todo ruim se lembrarmos que ele competia (e ainda compete) em uma conferência com Manning, Brady, Rothlisberger.
O problema é que os Chargers não costumam ajudá-lo
Com tudo isso em mente, a impressão que fica para mim é que faltou mais apoio dentro de campo para que Philip Rivers pudesse liderar o San Diego Chargers à campanhas ainda melhores. Apoio do tipo que faltou no ano passado, por exemplo, quando Keenan Allen e Jason Verrett se lesionaram por quase toda a temporada. Você pode dizer que uma conquista de Super Bowl passa pelas mãos de um quarterback, e de fato isso é verdade. Contudo, não há um time que tenha vencido sem participação de todo o elenco durante a pós-temporada.
Às vezes, apenas um quarterback inteligente e capaz de chamar as jogadas certas nos momentos certos pode ser suficiente. Ou será que os Broncos venceram em 2015 com uma pós-temporada brilhante de Peyton Manning? Os Seahawks de 2013 e os Patriots de 2016, caso você não saiba, não cederam mais de 17 pontos aos seus adversários até chegarem ao Super Bowl, nos quais ambos saíram vencedores.
No mais, se comparamos o grupo de recebedores que Rivers teve em todo este tempo aos que seus grandes oponentes tiveram, essas diferenças ficam ainda mais evidentes. Esses grande oponentes que me referi ficam restritos à três nomes de destaque: os Colts (e mais tarde os Broncos) de Peyton Manning, os Patriots de Tom Brady e os Steelers de Ben Roethlisberger. Enquanto por muito tempo Indianapolis contou com Reggie Wayne, Marvin Harrison, Dallas Clark, e New England com Randy Moss, Wes Welker e companhia, San Diego tinha “apenas” Antonio Gates. Eu sei que Vincent Jackson também estava por lá, porém, por mais produtivo que Jackson fosse, ele estava atrás dos outros wide receivers citados.
Existe o argumento que Rivers tinha LaDaininan Tomlinson, um dos melhores running backs que já existiu. Todavia, saiba que o camisa #17 e L. T. jogaram juntos efetivamente por apenas três anos (tendo totalizado 33 vitórias em 48 jogos neste período). Além disso, centralizar todo o time apenas em uma dupla de QB-RB, por melhor que esses dois forem, sem um sólido apoio do restante do time não soa como uma boa ideia.
Já é tarde demais?
Esta será a 12ª temporada de Philip Rivers como titular do San Diego/Los Angeles Chargers. Ao término dela, ele completará 36 anos e, apesar do fato de não apresentar drásticos sinais de decadência, devemos reconhecer que ele já não é nenhum garoto. E isso, combinado com o fato dos Chargers apresentarem um elenco interessante (não excelente), abre as portas e me direciona para o questionamento: a essa altura do campeonato, é possível imaginar Rivers erguendo o Troféu Vince Lombardi?
Não tenho dúvidas que Rivers, se tudo acontecer dentro da normalidade, irá se aposentar como um dos melhores quarterbacks que nunca conquistou um anel – e não tenho dúvidas disso. Mas as coisas na NFL são assim mesmo. Como falado no primeiro parágrafo desse texto, não existe lógica e nem merecimento que garantam conquistas em uma situação desses. Se por um lado isso é ruim, por outro, mostra como Philip Rivers é (e foi) bom. Afinal, estamos falando dele entre os melhores que já existiram sendo que ele nunca esteve em uma real posição para vencer. O que os Chargers fizeram por Rivers, definitivamente, não reflete o que Rivers fez pelos Chargers.
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