Não é por acaso que a NFL só viu oito vezes um bicampeão consecutivo. Que somente um time venceu a Conferência Nacional mais de uma vez na última década. E que não é aconselhável cravar finalistas na liga desde antes da semana 1. Favoritos sempre existem, mas certezas raramente estão presentes na NFL no que diz respeito à prévias antes da temporada.
Em 2018, só uma “catástrofe” deixaria Yankees, Red Sox, Astros e Dodgers fora dos playoffs . E é improvável que algum time diferente desses vença a MLB agora. No mesmo ano, a NBA tem uma liga praticamente restrita à três times, com outros correndo (muito) por fora: Warriors, Rockets e Celtics. 79ers, Raptors, Oklahoma e Lakers, no melhor dos cenários, podem sonhar com uma eventual vaga na final. Não que essas duas ligas sejam ruins, muito pelo contrário. São espetaculares! A questão é que o texto trata de equilíbrio/competitividade – e a NFL é exemplo nesse quesito.
Com isso em mente, podemos destacar quatro fatores principais que, em conjunto, colocam o sistema da NFL como propício para que as equipes consigam ficar o mais equiparado possível dentro do esporte. Se um bom trabalho da diretoria for feito anualmente, como recrutar os jogadores certos, por exemplo, dificilmente não há competitividade. Vamos falar mais sobre eles!
Teto salarial
Uma das principais características da NFL neste sentido é o teto salarial. Importante salientar que o teto salarial do futebol americano profissional é do tipo hard, o qual implica que os times não podem exceder o limite imposto por ele. Diga-se de passagem, a MLS e a NHL também seguem esse padrão essencialmente. Os outros tipos de teto salarial mais conhecidos são o soft e o estilo luxury tax, que possibilitam que o teto máximo seja ultrapassado ou até mesmo não haja limite.
O salary cap da NFL em 2018 é de US$ 177,2 milhões. Esse valor vem subindo ao longo dos anos, caso você esteja se perguntando. De um modo geral, esses quase US$ 180 milhões implicam o montante que as franquias da NFL podem usar com seus jogadores anualmente. Esse “usar” diz respeito aos contratos estipulados entre equipe e atleta (os salários), levando em conta bônus, média por ano e incentivos.
Saiba que nem sempre a média de salária anual de cada jogador no contrato é o impacto dele no teto salarial de um time em determinada temporada. Existem variações, tanto para mais quanto para menos. Há também o dead money, o qual corresponde ao valor pago pelo time em consequência de jogadores que foram dispensados.
Essa série fatores que estipulam o teto salarial na NFL, então, não permite que o time mais rico gaste US$ 300 milhões por ano, para reforçar um elenco que já é mais forte e está em um mercado maior, por exemplo. E que a franquia mais pobre, de um mercado menor, não gaste nem metade disso. A logística de renovação de contratos na NFL para cada jogador, mediada pelo teto salarial, cria um desafio interessante para todas as franquias da liga e frequentemente coloca ótimos nomes disponíveis no mercado. Para todos.
LEIA MAIS: Qual é a importância do teto salarial na NFL?
O Draft
A questão de bons jogadores no elenco é vista ainda mais no draft. O Draft da NFL é o processo de recrutamento que as franquias fazem parte, no qual elas selecionam atletas universitários para o nível profissional. Em média, ele coloca de seis a oito jogadores em cada elenco anualmente, o que aumenta a possibilidade de nomes sólidos serem encontrados.
Vale ressaltar que a essência desse recrutamento é “fortalecer os mais fracos”. Isso pois o primeiro time a escolher um prospecto do college é aquele que teve a pior campanha na temporada anterior. Em outras palavras, a equipe vista como a pior da NFL em um ano, no campeonato seguinte, terá a oportunidade de escolher o primeiro/melhor/mais adequado jogador no draft. Essa ordem continua através das rodadas levando em conta as campanhas das franquias. Então sim, o campeão é o último a recrutar em cada rodada, teoricamente falando.
Teoricamente porque podem haver negociações durante o draft, nas quais as franquias negociam as escolhas que têm e acabam embaralhando a ordem geral de cada rodada. De qualquer maneira, a regra é essa: o pior tem a primeira escolha em mãos, e o melhor a última. As compensações com isso vêm depois.
LEIA MAIS: O que é o Draft da NFL?
As formas de transação
Agora que você tem os conceitos de salary cap e draft em mente, poderá entender como funcionam as transação na NFL. Ao contrário do futebol, por exemplo, você nunca pode comprar um jogador pagando seu passe ou multa rescisória. Os jogadores profissionais de futebol americano não têm preço, mas sim valor. Portanto, para adquirir um atleta com contrato ainda em vigor com outra equipe, é preciso oferecer algo em troca. Pode ser outro jogador (es) e/ou escolha (s) de draft. É por isso que você não costuma ver o termo buy nas transações da NFL, mas sim trade.
Esse método é interessante pois impede que o time mais rico ofereça milhões para o time mais pobre pelo melhor jogador que esse último tem no elenco. E que o segundo mais rico também faça isso. Nesse caso, a franquia mais pobre encheria os cofres, mas pela conjuntura não teria garantia alguma de um time competitivo. Pelo contrário. Em uma troca, se for um bom general manager arquitetando-a, é possível sair vencendo a curto e longo prazo. Isso para o time que aceitou a proposta. Quem a fez, obviamente, foi reforçado com o jogador em questão. Ou seja, ambos os lados ganham algo concreto, não apenas cifras.
Formato dos playoffs
Na NBA, MLB e NHL os playoffs são configurados em séries. A maioria – e mais importante, como finais – delas são estruturadas em melhor de sete confrontos. Quando não, é uma melhor de cinco partidas.
Em outras palavras, para termos uma zebra, o favorito precisa ser derrotado quatro vezes, e não apenas uma. E quem acompanha esportes sabe: sempre existe dias ruins, quando jogadas não encaixam e a sorte parece não estar do seu lado. Ver isso acontecendo mais de uma vez é mais complicado.
Na NFL, o mata-mata é apenas um confronto, fato que coloca a zebra com mais chances durante a pós-temporada. A questão do dia ruim fica mais em pauta para os favoritos. Um exemplo rápido: quais as chances dos Broncos eliminarem os Steelers em 2011 em uma série melhor de sete? Baixíssimas. Aquela partida histórica em Denver aconteceu porque Tim Tebow teve o melhor dia de sua carreira profissional – e foi espetacular.
Ganhar um jogo contra o atual Golden State Warriors é complicado, porém acontece. Derrotar a franquia quatro vezes em um intervalo de sete jogos, contudo, só aconteceu uma vez. Esse é o “x da questão” de uma pós-temporada que estrutura seus jogos em “vencer ou voltar para casa”, literalmente.
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Não tenha dúvidas que em todas as ligas, uma boa gestão dos times é essencial para que uma competitividade em geral seja mantida. Na NFL, de nada adianta todas esses possibilidades se a diretoria de uma franquia não recruta bem no draft. Ou assina contratos longos e caros com jogadores velhos e/ou com risco de lesão. Nem mesmo a divisão do lucro geral da liga (direitos de TV, por exemplo) em partes iguais para as 32 franquias salva isso. Aliás, esse é mais um fator de equilíbrio.
Definitivamente, a NFL não é o que é em termos de espetáculo por acaso – e olha que nem falamos diretamente sobre esse assunto aqui.