Ano após ano na NFL, quando tratamos dos prêmios individuais da temporada, há uma pequena discussão. Por que dar o Jogador Ofensivo do Ano para um jogador e o MVP para outro, ambos de ataque neste caso? Algumas incoerências da liga no passado pioraram ainda mais essa situação. Piorou a ponto de considerarmos, de um modo geral, que o Jogador Ofensivo do Ano é dado como uma forma de consolação para um nome que brilhou na temporada, porém não venceu o MVP pois um quarterback em alta também estava na disputa.
Mas existe diferenças nos dois prêmios, essencialmente falando – e é sobre isso que opinei neste texto. Em 2018, pelo menos até agora (depois de oito semanas), há distinções básicas de Todd Gurley nos Rams e Patrick Mahomes nos Chiefs, as quais me convencem que o primeiro é o Jogador Ofensivo e o segundo o MVP de 2018 até agora.
Estamos falando de dois nomes que vêm em temporadas espetaculares, com chances reais de entrarem de fato para a história. E mais: estamos vendo dois dos melhores desempenhos de todos os tempos em duas posição diferentes de ataque e no mesmo ano, algo que não tem tantos precedentes.
O que merece mais crédito: uma temporada com 2.000 jardas de scrimmage de um RB ou uma com 5.000 jardas aéreas de um QB? Um ano com 30 TDs totais ou 52 TDs aéreos? Curiosamente, essas duas últimas marcas seriam as nº 2 na história da NFL nesses quesitos.
Os fatos perguntados acima correspondem ao dobro das médias de Gurley e Mahomes em oito semanas. Se eles mantiverem o nível, terminarão a temporada dessa forma. Mas entenda que o que merece mais crédito não necessariamente tem mais impacto no elenco. Vamos falar mais sobre isso!
Como foram as outras vezes que RBs se aproximaram de 30 TDs
Na história da NFL, três vezes running backs totalizaram 25/+ touchdowns em uma temporada. Foram eles: LaDainian Tomlinson (31, 2006), Shaun Alexander (28, 2005), Priest Holmes (27, 2003), Marshall Faulk (26, 2000) e Emmitt Smith (25, 1995). Desses, três venceram o MVP naquele ano, incluindo os dois primeiros (Holmes e Smith foram as exceções).
Perceba, portanto, que todas as vezes que um jogador obteve no mínimo 28 touchdowns totais, ele foi eleito o mais valioso da liga. Além disso, repare que atingir 30 TDs em um campeonato é algo raríssimo, tanto que ocorreu apenas uma vez até hoje.
Em 2006, o líder da NFL em passes para TD foi Peyton Manning, com 31. Um ano antes, quando Alexander foi o MVP, Carson Palmer liderou com 32. Já em 2000, Daunte Culpepper venceu essa disputa entre QBs ao lançar 33 TDs.
Por outro lado, em 1995, quando Smith não foi o MVP, Brett Favre totalizou 38 passes para touchdown. Oito anos depois, Holmes não levou o prêmio pois ele foi compartilhado entre Peyton Manning e Steve McNair. Curioso é que Manning e McNair tiveram 29 e 24 touchdowns aéreos, respectivamente. O líder do quesito naquela temporada foi Favre (32).
Como foram as outras vezes que QBs se aproximaram de 50 TDs aéreos
O Top 5 da história da NFL em passes para touchdown é formado por: Peyton Manning (55, 2013), Tom Brady (50, 2007), Peyton Manning (49, 2004), Dan Marino (48, 1984) e Drew Brees (46, 2011). Chama atenção que somente o último colocado desta lista não venceu o MVP no ano em que conseguiu tal feito. Pasmem, Brees não foi premiado apesar de totalizar 5.476 jardas aéreas e 46 TDs em 2011. O vencedor na ocasião foi Aaron Rodgers, o qual lançou 45 touchdowns e teve rating de 122,5.
É interessante ressaltar que, naquela temporada, Brees foi o Jogador Ofensivo do Ano, enquanto Rodgers, o MVP. A ideia desse texto explica isso também. Pode ser difícil entender, até porque estamos tratando de dois jogadores da mesma posição, contudo, há uma explicação sensata. Diga-se de passagem, o melhor RB em geral na época, como Gurley é em 2018, foi LeSean McCoy, com poucos mais de 1.600 jardas de scrimmage e 20 TDs totais. Ray Rice também se destacou com mais de 2.000 jardas totais e 15 touchdowns.
Nos anos em que as marcas próximas a 50 TDs aéreos foram alcançadas, apenas uma vez algum jogador totalizou 20/+ touchdowns – e foi um wide receiver. Randy Moss obteve 23 TDs em 2007. Naquele ano, entre os RBs, LaDainian Tomlinson foi o principal, com 1.900 jardas e 18 touchdowns.
Em 2013, Jamaal Charles liderou a NFL em touchdowns totais, 19. Dois anos antes, como citado, foi McCoy (20). No mais, em 1984 e 2004, Shaun Alexander e Marcus Allen terminaram no topo do quesito, com 18 e 20 pontuações marcadas, respectivamente.
Por que Todd Gurley é o Jogador Ofensivo do Ano, não Patrick Mahomes
Para Jogador Ofensivo do Ano você também leva em conta a posição em que ele atua. Porém, não a importância dela em si e o impacto para o elenco em geral, como no MVP. Mas sim como tal jogador se compara aos outros de sua posição, estatisticamente falando.
Patrick Mahomes lidera a NFL em jardas e TDs aéreos, e rating. Em aproveitamento nos passes e jardas por tentativa, por exemplo, Mahomes está consideravelmente abaixo de alguns QBs. Sem contar que correndo com a bola, o que é relevante neste prêmio, o camisa #15 não impressiona.
Já Todd Gurley, é o líder da liga em jardas totais (e corridas), touchdowns totais (e corridos) e toques na bola (200). Ou seja, em basicamente todos os quesitos possíveis para sua posição, Gurley é o melhor. Isso mostra que ele está exageradamente acima da média para sua posição em tudo e, de certa forma, não tem como ser melhor.
Há também algo que complementa o entendimento de tudo isso. Para o Jogador Ofensivo, faça esta pergunta: se você fosse começar um ataque se preocupando apenas (!) em marcar muitos pontos (e pudesse selecionar um atleta), qual jogador seria seu escolhido? Saiba que você não tem informação extra alguma sobre o restante elenco. O nome que vier a sua mente, leitor, é o Jogador Ofensivo do Ano.
Em outras palavras, imagine que você tem o time do Buffalo Bills (sem LeSean McCoy e Josh Allen) em mãos. Um elenco abaixo da média em linha ofensiva, comissão técnica e grupo de recebedores. Você escolheria Gurley ou Mahomes a fim apenas de terminar com o melhor ataque da NFL? Eu, Gurley. Contudo, se fosse para ter mais chances de vencer partidas com essas incertezas, a narrativa passa a ser outra outra.
Por que Patrick Mahomes é o MVP, não Todd Gurley
O conceito de MVP muitas vezes confunde os pensamentos dos fãs da NFL. Por mais parecido que seja no fim das contas, não estamos falando do melhor jogador necessariamente. Mas sim do jogador mais importante/valioso. Sim, quando alguém joga muito em um time e tem números altos, sendo o melhor, seu impacto em campo é maior e, portanto, sua importância é indiscutível.
Todavia, no caso do MVP, temos que levar em conta outras coisas. Posição do atleta, o que está ao redor, adversários, comissão técnica, temporadas anteriores, defesa… Aqui, a pergunta é outra: qual time perde mais se tal jogador for retirado do elenco e substituído por um outro apenas decente? A resposta será será seu voto para MVP. Por isso esse prêmio vai para quarterbacks na maioria das vezes.
Vamos ser mais objetivos. Qual seria a campanha dos Rams se Malcolm Brown (e não Todd Gurley) fosse o titular desde a semana 1? E qual seria a campanha dos Chiefs se Patrick Mahomes desse lugar a Chad Henne desde o início do ano? Considero Brown e Henne peças parecidas tecnicamente pelo sistema em que estão inseridos.
Para mim, não há dúvida que a campanha de Los Angeles seria melhor que a de Kansas City por umas três vitórias. Ou seja, os Chiefs perdem mais do que os Rams com a saída de seu líder.
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Não tenho dúvidas que running backs com 2.000 jardas de scrimmage e 30 touchdowns merecem mais crédito do que quarterbacks acima das 5.000 jardas e 50 TDs aéreos. A NFL hoje é uma liga pautada pelo jogo aéreo. Além disso, pelo que vimos no passado, fica claro também que um corredor atingir 30 TDs em 2018 é um enorme “desvio”. Portanto, as chances de MVP de Todd Gurley crescem assustadoramente neste ano, ainda mais em uma equipe que está invicta até então.
Para running backs, atingir os 30 touchdowns é algo “surreal” pelo estilo de jogo da NFL atualmente. Isso implica que é uma “regra”que esses corredores, então, sejam o MVP. O pensamento é basicamente esse. Mas toda regra tem sua exceção.
Nesse caso, a exceção é quando quarterbacks (naturalmente os jogadores mais importantes em campo) protagonizam anos históricos também. Não é que os números de Patrick Mahomes são mais impressionantes que os de Gurley. Porém, eles se equiparam se levados em conta a posição de ambos e o que a história mostra. A diferença é que um é o quarterback; o outro, o running back. E o primeiro caso é a peça mais importante (não a mais impressionante obrigatoriamente) de um elenco. Portanto, Mahomes é o MVP!