NFL

Por que Michael Thomas não vencerá o MVP — e nem ficará tão perto disso

O perfil no Twitter de Michael Thomas, wide receiver do New Orleans Saints, nunca fez tanto sentido quanto em 2019: @Cantguardmike — Can’t guard Mike; traduzindo para o português, significa “(Você) Não pode marcar o Mike (Michael Thomas).”

E os números indicam que não mesmo. 

Após 14 partidas disputadas, Thomas tem 159 passes lançados em sua direção e porcentagem de recepção de 83,6%, com apenas três drops (fonte: Washington Post). Isso dá ao recebedor 133 passes recebidos neste ano, marca que, não só lidera a NFL, como também ameaça diretamente o recorde da história da liga no quesito.

Dessa possível histórica marca, 78 recepções foram para first down

Thomas também é o melhor da temporada em jardas recebidas, com 1.552. 

Sim, ele tem sido o wide receiver mais seguro, produtivo e decisivo da NFL em 2019, quilômetros de distância à frente do segundo colocado, podemos assim colocar. Não por acaso, o camisa #13 tem entrado nas conversas de MVP da temporada. 

A questão é que, por mais que indiscutivelmente Thomas protagonize um campeonato histórico, como suas médias possibilitam, não tem como dar o prêmio de Jogador Mais Valioso do Ano para ele. Não em 2019.

Um pouco mais de contexto

Há algo que pesa diretamente para começarmos a imaginar Thomas entre os MVPs: ele produziu bem recebendo passes de diferentes quarterbacks

Tenha em mente que, se um wide receiver tem uma temporada nos padrões de Thomas, porém com o mesmo quarterback passando a bola em todos os jogos, muito provavelmente o passador terá números tão bons quanto o recebedor, para os padrões/médias de cada posição. E pela importância dentro de campo, o nome under center já estaria acima na corrida pelo prêmio. 

Mas Thomas, além de Drew Brees, teve Teddy Bridgewater como QB titular, e também jogou bem quando isso aconteceu. 

Embora Bridgewater seja um dos melhores backups da NFL, o fato de Thomas ter mantido os padrões de seu jogo em alta evidencia o quanto 2019 tem sido especial para ele. 

  • Thomas com Brees (oito jogos*): 83 recepções, 936 jardas e cinco TDs
  • Thomas com Bridgewater (cinco jogos*): 50 recepções, 616 jardas e três TDs

*Brees se lesionou depois de três passes completos (dois para Thomas) na semana 2, dando lugar a Bridgewater. Na contagem das partidas, esse confronto não foi incluído, apenas nas estatísticas. 

Além da questão de múltiplos quarterbacks (para um WR que almeja o MVP, “quanto mais, melhor” neste caso), o jogador mais valioso da temporada precisa estar em um time competitivo — exatamente como os Saints. 

O próximo passo, então, é a produção dentro de campo, com um enfoque específico: o quanto Thomas está acima dos rivais de posição estatisticamente.

Como citado, o ano do wide receiver ex-Ohio State é fabuloso. Entretanto, os números também carregam algo contra ele. Thomas em 2019:

  • Recepções (1º da NFL, 133); 2º — DeAndre Hopkins (99)

Isso mesmo: enquanto Thomas flerta com o recorde de mais passes recebidos em um campeonato na história, o segundo jogador com mais recepções não chegou a 100. 

  • Jardas (1º, 1.552); 2º — Chris Godwin (1.333)

A diferença, nas devidas proporções, é inferior neste caso, mas créditos a Godwin pela melhor temporada da sua carreira. Ambos estão isolados aqui, com o 3º melhor wide receiver contabilizando 1.174 jardas (D.J. Moore). E sabe quem é o 4º? Mike Evans, companheiro de Godwin no Tampa Bay Buccaneers. Thomas estar no topo — e sem nenhum companheiro de time próximo — acrescenta mais um ponto para ele.

  • Touchdowns (4º, 8); 1º — Kenny Golladay (10)

Um dos principais argumentos contra Thomas nas conversas de MVP é a quantidade de touchdowns. Como o jogador mais importante do campeonato tem só oito TDs? Detalhe: outros oito jogadores têm essa mesma quantidade. E verdade seja dita, para o prêmio de MVP, nem mesmo 11, para a liderança do quesito, estaria de bom tamanho. 

Quem assiste aos jogos dos Saints sabe que muitos dos touchdowns aéreos da equipe não são marcados por Thomas justamente pois o camisa #13 atrai atenção especial de mais de um marcador, abrindo espaço para os companheiros. Isso é fato. Todavia, para MVP raramente entra na conversa. 

O que mais vai contra Thomas 

Um wide receiver nunca venceu o prêmio de MVP. Nunca! 

Em 1987, Jerry Rice totalizou 22 touchdowns recebidos (em incríveis 12 jogos), um recorde para a época. No entanto, ele não foi o melhor recebedor em recepções e jardas. 

Dentre as outras várias campanhas magníficas de Rice, o qual — ressalto novamente — nunca venceu o MVP, ele liderou a liga em recepções, jardas e TDs recebidos uma vez, em 1990. 

O lendário wide receiver viu os quarterbacks John Elway e Randall Cunningham levando a premiação, respectivamente. E o quanto a posição importa neste caso? Bom, nem Elway, nem Cunningham lideraram a liga em nenhum quesito possível para QBs. 

Marvin Harrison em 2002 (situação quase idêntica à de Thomas), Randy Moss em 2007 (e o novo recorde de 23 touchdowns), Calvin Johnson em 2012, Antonio Brown em 2014, Julio Jones em 2015… Todos esses recebedores — entre vários outros — tiveram campeonatos iguais ou melhores do que o de Thomas em 2019. E nenhum venceu (quatro quarterbacks e um running back sim). 

Isso mostra um novo fator que precisaria estar ao lado de Thomas; algo quase utópico nos dias atuais.

Mais do que touchdowns, ao lado de tudo que Thomas já fez depois de 15 semanas disputadas na temporada 2019, ele precisaria contar com a sorte de nenhum quarterback ter uma temporada “de muito destaque”, ou algo do tipo. Não é o caso. 

Possivelmente nunca vai ser. 

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