Em setembro, se alguém dissesse que o Pittsburgh Steelers chegaria ao mês de dezembro ocupando uma das vagas de wild card, seria chamado de louco.
O time começou a temporada com uma vitória em cinco jogos e perdendo o quarterback titular — e futuro Hall of Fame — pelo restante do campeonato. Era raro encontrar uma super-estrela no elenco dos Steelers, principalmente no ataque, rendendo o esperado durante o primeiro mês do calendário da NFL.
Tanto que, quando a franquia usou uma escolha de primeira rodada na troca por Minkah Fitzpatrick, muitos rotularam a transação como burrice e cara demais.
“Por que não executar um processo de reformulação completo na posição de quarterback com aquela escolha já que o titular tem 37 anos de idade e carrega incertezas físicas?” E outra: “Fitzpatrick não é tudo aquilo que se falava no Draft 2018.”
Desde outubro, contudo, tudo simplesmente mudou e o grupo comandado por Mike Tomlin tem outra mentalidade.
Os Steelers aparecem em segundo na AFC Norte e, por mais que um título de divisão seja improvável, Pittsburgh terminou a semana 12 ocupando uma das vagas de Wild Card e agora saiu vitorioso em cinco das últimas seis vezes que entrou em campo.
Fitzpatrick finalmente se encontrou e já faz jogadas que mostram por que, para muitos especialistas, ele era o melhor prospecto de sua classe dentre os defensive backs. Ele agora é um dos líderes de uma defesa que conta com 11 escolhas de primeira rodada.
Cedendo 19,3 pontos por jogo (e menos de 321 jardas totais), esta defesa hoje é uma das 10 melhores da liga — e muito disso veio das mãos de Tomlin, ao lado de sua comissão técnica.
Apenas 27,8% das campanhas dos adversários de Pittsburgh terminam em pontuação. Para viés de comparação, apenas quatro times são melhores nesse quesito: Patriots, 49ers, Bills e Bears. E 20,3% das campanhas dos rivais acabam em turnovers contra os Steelers. Sabe quantas equipes são melhores que isso? Nenhuma.
A lista de façanhas defensivas de Tomlin e companhia continuam.
Só 887 jardas após recepção permitidas aos oponentes no ano é a segunda melhor marca da liga. E somente 57 tackles perdidos pelos defensores dos metaleiros, mais uma vez, ranqueiam o setor entre os seis em 2019.
Ademais, a equipe de Pittsburgh é a sétima, quarta e terceira, respectivamente, apressando QBs oponentes, derrubando-os e conseguindo sacks nesses.
A soma dos três itens acima resultam no que a NFL considera pressão ao quarterback adversário. Resultado: nenhum sistema defensivo pressionou mais vezes os QBs rivais do que o dos Steelers.
No entanto, Tomlin ainda não encontrou uma receita para impulsionar a produção ofensiva.
O ataque dos Steelers, em geral, está entre os 10 piores da NFL. Ele totaliza menos de 20 pontos e 300 jardas por partida, e é o segundo pior da NFL convertendo touchdown na red zone.
Então como os Steelers continuam vencendo jogos e — ainda mais impressionante — sonhando com os playoffs?
Plano de jogo.
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De fato, os adversários de Pittsburgh na atual sequência 5-1 do time foram Chargers, Dolphins, Colts, Rams, Browns e Bengals, em ordem. Alguns bons times, porém nenhum figurando entre as potências desta temporada.
Mas não deixe o clichê de lado: não existe jogo fácil na NFL. A narrativa muda para cada franquia semana após semana. As lesões, a preparação, o clima… Ao contrário de outros esportes, o futebol americano profissional exige, literalmente, um jogo de cada vez em mente.
O Cincinnati Bengals, único time sem vitória em 2019 e adversário dos Steelers na rodada anterior, está desesperado por um triunfo. Tanto que Zac Taylor e companhia flertaram com um triunfo, o qual possivelmente só não aconteceu pela decisão de Tomlin de sacar Mason Rudolph com o jogo em andamento, colocando Devlin Hodges em campo.
Isso mesmo, os Steelers encontraram uma maneira de vencer na semana 12 com um calouro não-draftado under center.
Não se esqueça que essa inadequada narrativa já tinha outros complementos ao redor, como o fato de Pittsburgh ter entrado em campo sem o melhor quarterback, running back e wide receiver do elenco. James Conner e Juju Smith-Schuster firam fora do duelo por lesões, além de Ben Roethlisberger.
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Tomlin construiu uma defesa sólida que, essencialmente, é a base dos Steelers em 2019. E cada um dos planos de jogo elaborados e passados pelo treinador parecem dar a Pittsburgh o necessário para vencer, adaptando-se a cada oponente em questão.
Não é o futebol americano mais vistoso do mundo, muito pelo contrário. Contudo, é uma superação que constrói uma das histórias mais interessantes deste campeonato, independentemente se a incrível possibilidade de pós-temporada for alcançada.
Muito dificilmente Tomlin será eleito o melhor técnico da temporada; a tendência é que o comandante de uma das três equipes de melhor campanha levam a honra. Todavia, talvez nenhum outro head coach esteja prosperando sob tantas adversidades quanto Tomlin em sua 13ª temporada como head coach.