Uma das grandes notícias da última offseason foi a aposentadoria de Rob Gronkowski. O tight end decidiu pendurar as chuteiras — pelo menos por enquanto — devido, aparentemente, às lesões, que tanto o acompanharam durante seus nove anos profissionais. Desta maneira, priorizar a integridade física foi o que pesou para Gronk.
Consequentemente, o New England Patriots ganhou uma grande baixa no elenco. Afinal, estamos falando de um possível jogador de talento inigualável até hoje na história da NFL em sua posição. Com o Draft 2019 ainda para acontecer na época, tight ends se tornaram alvos para os Patriots no recrutamento.
Quer dizer, o “normal” era que uma franquia priorizasse um tight end. Mas este Patriots, de Bill Belichick, não gosta do normal. Ou talvez tenham aprendido que no futebol americano profissional as coisas nem sempre funcionam assim.
O que todos consideram que “deve ser feito” nem sempre é o ideal. Há um plano. Ainda mais se tratando de draft, o valor das escolhas entra em cena. O futebol americano não é uma ciência exata. Existe sempre espaço para adaptações.
E talvez nenhuma mente na história da liga saiba adaptar, no sentido de ajustar, melhor que Belichick.
Como duvidar de um gênio, portanto?
A explicação para a opção dos Patriots de não chamar um tight end neste ano deve ser encontrada na capacidade de ajustes de Belichick e companhia.
Claro, o head coach mais dominante da NFL nos últimos 20 anos não viu um tight end brilhante disponível na 32ª posição geral. Com Noah Fant e principalmente T. J. Hockenson chamados, de fato, era difícil ao menos comparar algum TE da classe a Gronk no sentido de contribuir solidamente tanto bloqueando quanto recebendo a bola.
Então, ao invés de recrutar um tight end porque a função era uma necessidade, a estratégia foi outra.
Um potencial playmaker para Tom Brady foi o primeiro escolhido do time no draft. O wide receiver N’Keal Harry, uma vez adaptado ao plano de jogo dos Patriots, pode ser o fator X do sistema.
Harry se juntará a um arsenal ofensivo que já conta com Julian Edelman, Sony Michel, James White, além de uma linha ofensiva interessante. O grupo de bloqueadores de New England não conta mais com Trent Brown, o qual surpreendeu positivamente em 2018, mas contará com a volta de Isaiah Wynn. Como calouro, Wynn não entrou em campo por conta de lesão.
Para “substituir” Gronk, então, os Patriots terão que mudar, basicamente, a essência do sistema. Nada inédito para Belichick e companhia.
Quando Randy Moss deixou os Patriots em 2010, o ataque teve que ser reconfigurado e reformulado. Quando o caso de Aaron Hernandez, parceiro de Gronk, estourou, idem. Foram nessas horas que aquisições pontuais de veteranos foram feitas (Demaryius Thomas pode ser esse cara, por exemplo). Ou que slot receivers subiram de nível. Assim como running backs, tendência provável em 2019 pelo que o estilo de jogo dos Pats indicou nos últimos campeonatos.
Os Patriots, obviamente, não podem jogar sem nenhum tight end em campo. Por isso, Austin Seferian-Jenkins e Benjamin Watson foram contratados. Seferian-Jenkins nunca conseguiu ter consistência na liga por variadas razões, mas é um jogador que acrescenta verticalidade e velocidade acima da média na posição para o plantel atual campeão. E Watson é um veterano que já teve sólidas temporadas na carreira.
Lembrando que nomes como Matt LaCosse (contratado nesta offseason) e Ryan Rizzo (recrutado na sétima rodada do Draft 2018) acrescentam algo no que diz respeito a bloqueios.
Não é loucura afirmar que substituir Gronkowski é impossível. Tampouco que os Patriots devem prosperar sem o tight end.
Belichick já teve perdas consideráveis no elenco anteriormente e mostrou precisão nos ajustes. A forma como o sistema funciona talvez altere no ritmo. Brady talvez tenha que fazer alguns passes mais geniais. Um wide receiver que poucos conhecem pode ter que aparecer e surpreender a todos.
A base competitiva do time continua em New England.
E Belichick aparenta ser a resposta — ou a mais certa delas — para os Patriots não terem selecionado um tight end. O treinador provavelmente sabe algo que nós não sabemos, mais uma vez.