Oito franquias da NFL trocaram de treinadores nesta offseason. A menos de três meses da temporada 2019, e com o Draft e free agency concluídos, é hora de explorar o contexto de cada um desses head coaches em seus novos times. Portanto, este é mais um texto (de oito) desta série – último artigo.
O jejum de playoffs do New York Jets agora dura oito temporadas. Pior que isso, desde 2011, a franquia só teve uma temporada com mais vitórias do que derrotas. A campanha 4-12 em 2018, combinada à nova era do time, fez com que as portas se fechassem para Todd Bowles. Foram 64 partidas no comando de New York e apenas 24 triunfos. Além disso, Bowles, especialista em sistemas defensivos, ia na contra-mão do que o jovem plantel dos Jets oferece. Consequentemente, o nome principal nas sidelines de NY a partir de agora tem o enfoque na nova prioridade do elenco: o ataque.
Por que os Jets contrataram Adam Gase?
A carreira de Adam Gase, seja como head coach, coordenador ofensivo ou técnico de quarterbacks, sempre esteve atrelada a sistemas ofensivos e, especificamente, à posição mais importante do futebol americano. Posição essa que é justamente o enfoque novaiorquino agora.
Gase teve, de longe, o melhor momento da carreira pelo Denver Broncos. No Colorado, foi técnico de QBs (2010-2012) e coordenador ofensivo (2013-2014). Portanto, ele esteve ao lado de Peyton Manning no ano em que o camisa #18 comandou um dos melhores ataques de todos os tempos, quebrando o recorde tanto de jardas quanto de TDs aéreos em uma temporada.
Depois disso, Gase teve uma breve passagem de um ano pelo Chicago Bears, como coordenador ofensivo, antes de se tornar treinador do Miami Dolphins. Por lá, permaneceu três temporadas (2016-2018), até ser demitido na última offseason e receber a proposta dos Jets.
Desafios
O segundo ano de Sam Darnold
De fato, a contratação de Gase divide opinião entre os torcedores dos Jets. Afinal, o último — e basicamente único — trabalho sólido do treinador foi há seis anos, pelos Broncos. Ainda assim, prosperar ofensivamente ao lado de Manning era sempre mais fácil.
Mas Gase, em seu maior desafio em New York, terá uma grande oportunidade de mudar seus status na NFL.
Isso porque Sam Darnold se prepara para seu segundo ano na liga. Os Jets selecionaram Darnold na terceira escolha geral do Draft 2018 e em alguns momentos da temporada passada viram que o ex-USC pode realmente se tornar o franchise quarterback que New York procura há algum tempo.
Como calouro, Darnold teve lampejos. A estreia profissional, contra o Detroit Lions, mesmo que marcada por uma pick six na primeira jogada, foi um dos jogos mais sólidos do quarterback. O mês de dezembro, período em que Darnold totalizou 64% de aproveitamento, 931 jardas, seis touchdowns e uma interceptação, foi repleto de boas notícias.
Por outro lado, em quatro dos 13 confrontos que foi titular, o camisa #14 teve 2/+ interceptações, incluindo dois jogos com três ou mais. Ademais, em outras quatro ocasiões, o aproveitamento do calouro ficou abaixo dos 50%.
Assim sendo, a experiência de Gase na posição de quarterback certamente foi um fator determinante para a decisão dos Jets de persuadir o treinador. O head coach precisa assegurar que o desenvolvimento de Darnold aconteça e que momentos positivos se tornem uma constante para ele.
Consistência no pass rush
Em ambos os lados da bola, os Jets deixaram a desejar na temporada passada. Não por acaso, o time foi apenas o 23º e 29º da NFL em pontos marcados e cedidos por partida, respectivamente. Desta maneira, enquanto o ataque tem Darnold como grande esperança, a defesa busca mais referências técnicas para se firmar. Referências essas que precisam estar justamente no ponto mais importante defensivamente na atualidade, o pass rush.
New York totalizou 39 sacks em 2018, a 16ª melhor marca da liga. Embora o total de sacks seja decente, faltou uma referência técnica entre os pass rushers. Alguém capaz de atrair bloqueios duplos, de mudar a narrativa de um jogo, ao invés de “somente” conseguir sacks. E não é de hoje que esse problema existe: o último jogador com mais de oito sacks em um ano pelos Jets foi Muhammad Wilkerson (12) em 2015.
Gase, então, ao lado do recém-contratado coodenador defensivo Gregg Williams, precisará fazer ajustes neste sentido.
Jordan Jenkins e Henry Anderson lideraram a equipe em sacks na temporada passada, com sete. Leonard Williams, talvez o nome de maior talento/potencial do front seven, terminou com apenas cinco.
Mas Williams agora deverá voltar atuar apenas aberto, onde rende mais. Isso porque Quinnen Williams, produto de Alabama, foi recrutado como terceira escolha do Draft 2019. Williams é um defensive lineman com potencial para mudar o pass rush de um time como um todo.
Além disso, os Jets recrutaram o defensive end Jachai Polite, que teve um Combine desastroso, mas teve uma sólida carreira universitária por Florida. Adquirí-lo na terceira rodada tem um valor interessante.
O pass rush, entretanto, não foi o único setor que adquiriu um potencial novo líder. Não com o grupo de linebackers sendo reforçado por C. J. Mosley. O ex-Baltimore Ravens chega a New York também para ocupar um setor defensivo que carece de um nome especial.
Com Jamal Adams na secundária, a expectativa é que Mosley e Williams se tornem duas referências defensivas e, além da contribuição nas estatísticas, consigam mudar o nível daqueles que estão ao redor.
O em torno de Darnold
Ajudar na evolução de Darnold talvez seja o principal desafio de Gase no primeiro ano do treinador com os Jets. Porém, por mais que ajustes diretos no jogo do QB devem ser feitos, o que estará ao redor dele em 2019 também precisa melhorar.
O principal ponto é possivelmente são os recebedores. Mais uma vez, estamos falando de um grupo que, em tese, carece de uma grande referência. Robby Anderson aparenta ser o principal recebedor de Darnold. Ele liderou New York em recepções (50), jardas (752) e touchdowns recebidos (6). Ainda assim, nada “de outro planeta”.
Anderson, bem como Quincy Enunwa, que deve ser um dos receivers titulares neste ano, sofreram com lesões. A expectativa é que eles se mantenham saudável e, ao lado de Jamison Crowder (contratado na offseason, elevem o nível dos alvos no sistema ofensivo.
Acidionalmente, Chris Herndon, calouro de quarta rodada em 2018, foi uma boa notícia para os Jets em uma posição também marcada por incertezas na equipe.
Uma posição que ao que tudo indica não será mais uma preocupação no time é a de running back. Isso pois o time contratou Le’Veon Bell nesta offseason.
Bell não atuou em 2018 por questões contratuais com o Pittsburgh Steelers, mas, antes disso, teve pelo menos 1.800 jardas de scrimmage em 2016 e 2017, e combinou para 20 touchdowns nesses anos.
O running back, com um ano inteiro descansado, parece ser a opção certa para um time com um jovem quarterback under center. Como Gase usará Bell será uma das grandes histórias da temporada.
Por fim, a linha ofensiva dos Jets também tem espaço para evolução. De fato, o jogo terrestre da franquia foi atrapalhado pelas lesões em 2018, porém esse fechou o campeonato com somente quatro jardas por corrida.
Ademais, Darnold, em 13 partidas que disputou, foi sackado 30 vezes. Josh McCown, titular em três confrontos, sofreu sete sacks.
Para corrigir tais pontos, Kelechi Osemele, outrora um dos melhores guards da NFL e adquirido por meio de troca, foi o principal reforço. Osemele chega para ser titular absoluto deste grupo de bloqueadores.
Darnold precisa evoluir, e Gase tem diversas maneiras de ajudar o QB. Diretamente, ele pode melhorar a tomada de decisões, chamadas de jogadas e comportamento no pocket do camisa #14. Indiretamente, envolver Bell no plano de jogo e garantir que mais de um wide receiver se destaque por jogada são outros desafios para o head coach.