No dia 06 de fevereiro de 2005, o Alltel Stadium (atualmente conhecido como EverBank Field, em Jacksonville, Florida) recebeu o Super Bowl XXXIX entre New England Patriots e Philadelphia Eagles.
De um lado, os Patriots tentavam defender seu título e, por se tratar do terceiro Super Bowl disputado em um intervalo de quatro temporadas do time, instaurar um legado na NFL. Do outro, depois de ter “batido na trave” várias vezes, os Eagles estavam de volta à decisão do futebol americano, e em busca do primeiro anel.
Ficha técnica
#2 New England Patriots 24 x 21 #1 Philadelphia Eagles
06 de fevereiro de 2005
Alltel Stadium, Jacksonville (FL)
Público: 78.120 pessoas
MVP: Deion Branch, WR, New England Patriots
Show do Invervalo: Paul McCartney
Audiência na TV (EUA; de acordo com o Nielsen): aproximadamente 86 milhões de telespectadores
Preço de 30 segundos de comercial durante o jogo: US$ 2,3 milhões
Contexto
#1 Philadelphia Eagles (13-3)
Para o Philadelphia Eagles, ter chegado até o Super Bowl XXXIX foi um marco no processo de reformulação da franquia. Isso porque entre 1995 e 1998, quando os Eagles eram comandados por Ray Rhodes, apesar de um começo de trabalho próspero do treinador (ida à pós-temporada em seu primeiro ano por lá), de uma maneira geral não foi um período positivo para o time. Em quatro anos de Rhodes em Philly, foram 29 vitórias, 34 derrotas e 1 empate em temporada regular, juntamente com um retrospecto 1-2 nos playoffs.
Em 1999, então, Andy Reid foi contratado por Philadelphia como substituto de Rhodes, que havia terminado 1998 com apenas três triunfos – importante ressaltar aqui que Donovan McNabb também fora recrutado neste ano. Reid e McNabb, apesar de não terem conseguido muitas vitórias em suas temporadas de estreia nos Eagles, acabaram fazendo o time se tornar um dos mais vencedores da Conferência Nacional na época. Tanto que entre 2000 e 2004, o Philadelphia Eagles esteve em quatro finais de conferência e teve como pior campanha neste período um 11-5 em 2000 e 2001. Entretanto, a “pedra no sapato” dos Eagles de Andy Reid era justamente a decisão da NFC: nas três primeiras aparições do time, ele foi derrotado em todas elas. Esse tabu chegou ao fim justamente na temporada de 2004, quando o Philadelphia Eagles conseguiu derrotar os Falcons na final de conferência e retornar ao Super Bowl pela primeira vez desde 1980.
Em 2004, o já talentoso e competitivo elenco dos Eagles ficou ainda mais reforçado. Para o ataque, depois de oito temporadas em San Francisco, Terrell Owens foi contratado pelo time. Na época, Owens, apesar de questões fora das quatro linhas, era um dos wide receivers mais produtivos da NFL. Portanto, o ataque de Philly era um dos mais dinâmicos e explosivos da liga, pois já contava com McNabb e Brian Westbrook.
Para a defesa, além disso, o defensive end Jevon Kearse e o linebacker Jeremiah Trotter chegaram para se juntar a um grupo que produziu quatro Pro Bowlers naquele ano: Trotter, Brian Dawkins, Lito Sheppard e Michael Lewis.
Assim sendo, mediado pela melhor temporada da carreira de Donovan McNabb, o Philadelphia Eagles concretizou aquela que foi possivelmente a melhor campanha da história da franquia. Os Eagles começaram o ano com sete vitórias seguidas e só foram parados pelos Steelers, time de melhor retrospecto em 2004 (15-1). Depois disso, Philly ainda chegou à semana 16 já com o título de divisão e melhor campanha na NFC garantidos, o que explica as duas derrotas finais do time, que atuou pela maior parte do tempo com seus reservas. Nos playoffs, então, após a folga na primeira rodada, Philadelphia não teve maiores dificuldades para derrotar Vikings e Falcons (marcando 27 pontos nos dois confrontos e não sofrendo mais de 15 tentos em nenhum deles) e se garantir no Super Bowl XXXIX.
#2 New England Patriots (14-2)
Enquanto os Eagles olhavam para o Super Bowl XXXIX como uma oportunidade de, enfim, coroar um elenco vitorioso, o New England Patriots tinha naquela decisão a sua terceira final em quatro temporadas. É isso mesmo: os Pats, que foram campeões em 2001 e 2003, tinham em 2004 uma ótima oportunidade de assegurar mais um anel e concretizar o time como a primeira grande dinastia dos anos 2000.
Esse novo (e vitorioso) New England Patriots começou a surgir quando Bill Belichick foi contratado para head coach da franquia, em 2000. Outro passo importante neste processo – talvez o mais importante deles, aliás – foi a surpreendente escolha por Tom Brady no Draft daquele mesmo ano. Brady, na temporada seguinte, depois de contar com a sorte de ter os outros dois quarterbacks do elenco lesionados, teve que assumir a titularidade dos Pats e o resto disso já sabemos como aconteceu. Em 2004, o camisa #12 jogava para conquistar seu terceiro Super Bowl, e se tornar o 2º QB mais campeão de todos os tempos até o momento.
Durante aquela temporada regular, os Patriots se viram reforçados pelo antigo running back dos Bengals Corey Dillon, que em seu primeiro ano em New England conseguiu quebrar o recorde de jardas terrestres da equipe. Além dele, nomes como o dos recebedores David Givens, Daniel Graham e David Patten foram de suma importância para que Tom Brady conseguisse fazer o sistema ofensivo dos Pats ser um dos melhores da NFL por mais um ano. Lembre-se aqui que o melhor wide receiver do time, Deion Branch, perdeu grande parte da primeira metade da temporada regular e só se recuperou de fato nos últimos meses de campeonato.
Do outro lado da bola, o sistema defensivo do New England Patriots cedia muitas jardas aos oponentes, mas sabia aparecer nos momentos importantes das partidas, principalmente para forçar turnovers e evitar pontos dos oponentes, mesmo sem poder contar com dois de seus defensive backs titulares, Tyrone Poole e Ty Law. Muito disso aconteceu, é claro, pelo talento individual que nomes daquela defesa tinham, como Teddy Bruschi, Richard Seymour, Willie McGinest e Mike Vrabel, que recentemente se tornou o novo técnico dos Titans. Importante destacar também o trabalho feito pelo time de especialistas do elenco, o qual era liderado pela melhor temporada da carreira do kicker Adam Vinatieri.
Do começo ao fim da temporada de 2004, o New England Patriots mostrou que era o time mais competitivo da liga. A franquia terminou aquele ano com campanha 14-2, ficando com o seed #2 da AFC, atrás apenas do Pittsburgh Steelers. Nos playoffs, então, New England foi capaz de derrotar os dois principais obstáculos da conferência: os Colts de Peyton Manning (que naquela temporada tiveram uma dos melhores desempenhos de todos os tempos) e os Steelers (time de melhor campanha em toda a National Football League). Definitivamente, como se ouviu em temporadas anteriores a essa, não havia como questionar a presença dos Patriots no Super Bowl XXXIX.
O jogo
Do começo ao fim do Super Bowl XXXIX, foi visto um confronto equilibrado, mas que favoreceu a equipe que errou menos. Não foi um dia brilhante para nenhum dos dois ataques – tanto é que nenhum deles ultrapassou as 370 jardas totais, por exemplo –, principalmente para o de Philly no que diz respeito a erros cometidos. A batalha dos turnovers ficou 4-1 para os Pats.
O primeiro período do confronto fora dominado pela defesa do Philadelphia Eagles de uma maneira geral. Entretanto, o desempenho sólido do sistema defensivo dos Eagles, que não havia cedido pontos aos Patriots até então, era ofuscado pelos vários erros do ataque da franquia, que também saiu zerado no primeiro quarto após ter cometido três (!) turnovers.
No começo do segundo período, a defesa de Philly continuava mantendo a equipe na partida apesar de todos os erros. O que mudou, contudo, foi que o ataque, enfim, apareceu. Após uma boa campanha liderada por McNabb, os Eagles inauguraram o marcador, com 10 minutos do segundo quarto, após TD de L. J. Smith. Aproximadamente cinco minutos mais tarde, os Patriots estavam na red zone, mas Tom Brady sofreu um fumble, o qual foi recuperado pelos Eagles. Era mais uma chance de Philly abrir 14 pontos de diferença no placar, fato que ilustraria como estava sendo o duelo até então. Todavia, a defesa do New England Patriots apareceu, forçou o three and out e, após um punt ruim de apenas 29 jardas de Dirk Johnson, Brady se viu em posição de pontuar ainda antes de ir para os vestiários. E ele conseguiu. Após bons passes, Tom encontrou Givens na endzone para igualar a decisão.
O terceiro quarto foi o mais equilibrado do Super Bowl XXXIX. Com os ajustes de Belichick no intervalo, a defesa de New England conseguiu pressionar McNabb algumas vezes, assim como Brady voltou a ter sucesso diante da defesa implantada por Andy Reid. Esse equilíbrio, aliás, ficou claro no placar da partida, que viu cada um dos times anotar um touchdown, e, portanto, irem para último e decisivo período empatados. Mike Vrabel (que se posicionou como tight end para receber um TD de 2 jardas) e Brian Westbrook marcaram para Pats e Eagles, respectivamente. Aquela foi a primeira vez na história da NFL que um Super Bowl foi para o último quarto empatado.
Nos 15 minutos finais da decisão, então, duas “tendências” que fizeram parte do Super Bowl em 2004/05 continuaram acontecendo. O Philadelphia Eagles voltou a ver seu ataque sofrendo turnover, e Tom Brady continuou encontrando espaços na defesa de Philly. Tanto que com menos de dois minutos jogados, Corey Dillon coorou a ótima campanha de New England com um TD terrestre. McNabb não teve resposta para isso e, antes da metade do período, contando com ótimas recepções de Deion Branch (que terminou a noite com 11 recepções para 133 jardas e foi eleito o melhor jogador da partida), Brady colocou mais 3 pontos no placar após field goal certeiro de Adam Vinatieri. O New England Patriots, então, liderava por 10 pontos restando pouco mais de 8 minutos para o fim do Super Bowl.
Na campanha seguinte, veio o lance que basicamente confirmou o título dos Patriots: Bruschi interceptou McNabb na linha de 24 jardas do campo de ataque e recuperou a posse da bola! Em seguida, os Pats até nem conseguiram pontuar. Porém, o time soube aproveitar a oportunidade, colocando os Eagles em sua própria linha de 21 jardas restando menos de 6 minutos para o apito final. Depois de algumas jogadas, Donovan McNabb até conseguiu completar ótimo TD de 30 jardas para Greg Lewis, porém já era tarde demais. Philadelphia não conseguiu recuperar o onside kick e New England precisou praticamente levar o cronômetro a zero. Com menos de 10 segundos, Rodney Harrison conseguiu a interceptação derradeira e concretizou o bicampeonato dos Patriots. Bastou Tom Brady ajoelhar na próxima jogada e cravar o New England Patriots como mais uma dinastia na história da NFL.
E depois disso?
Com a conquista do Super Bowl XXXIX, o New England Patriots se tornou na época o primeiro time desde o Denver Broncos 1997 e 1998 a conquistar dois Super Bowls consecutivos, e apenas o segundo time na história (Dallas Cowboys dos anos 90) a vencer três anéis em um período de quatro temporadas – lembrando que isso pode acontecer novamente agora.
De uma maneira geral, a situação dos Patriots continuou a mesma. A equipe se manteve no topo da Conferência Americana e, apesar de ter amargo um período sem conquistas de 2004 até 2014, foram cinco aparições em finais de AFC, com duas vitórias. Nas últimas quatro temporadas, então, New England voltou a erguer o Troféu Vince Lombardi algumas vezes e, especificamente nesta temporada 2017, pode fazer aquilo que conseguiu há 13 anos, diante do mesmo adversário na grande decisão.
Para o Philadelphia Eagles, inevitavelmente, o revés sofrido no Super Bowl XXXIX, naquela que foi a melhor campanha da história da franquia, apenas aumentou a decepção do torcedor – mal sabiam esses o que ainda estava por vir. A era Donovan McNabb durou até 2009 e, depois de 2004, levou os Eagles aos playoffs outras três vezes (chegando às finais da NFC uma vez), mas obteve apenas uma campanha 3-3 em pós-temporada. Andy Reid ainda permaneceu no time e fez parte daquele decepcionante Dream Team dos Eagles, que sequer conseguiu vencer uma partida de mata-mata em 2012. Aliás, esse foi o último ano de Reid no comando de Philly.
A verdade é que desde que a era Andy Reid e Donovan McNabb atingiu seu auge (mesmo não tendo conquistado o Super Bowl), o Philadelphia Eagles não tem tido sucesso em ter um time realmente competitivo novamente, de uma maneira geral. Mas tudo isso mudou nesta nova fase da franquia, a qual é protagonizada pelas presenças de Carson Wentz, Doug Pederson e, de certa forma, Nick Foles. Afinal, após todo o sucesso de Wentz durante a temporada regular, será Foles o mais novo responsável por tentar acabar com a seca de títulos dos Eagles. Novamente contra os Patriots.