Aos 20 anos de idade, em 2010, Rob Gronkowski foi recrutado na segunda rodada pelo New England Patriots. Com 1,98 m e mais de 120 kg, Gronk era o protótipo ideal na posição: robusto, competitivo e talentoso.
Recrutar o jogador na 42ª posição daquela classe foi um steal para os Patriots. Por que o tight end caiu? Pois, ao lado de uma produção e instinto absurdo como TE, os especialistas também apontavam que a parte física de Gronk preocupava. Eles estavam certos, em ambos os sentidos.
Adianto que, logicamente, incluo Rob Gronkowski na lista de jogadores que se aposentaram de forma precoce.
Falar de Gronk é falar do tight end mais dominante da NFL nos últimos dez anos, indiscutivelmente. Discutivelmente, contudo, podemos (e devemos) incluir o o ex-Pats nas conversas dos TEs mais dominantes da história da liga.
Dois números concretizados por Gronkowski durante sua carreira me chamam atenção, os quais foram reportados por George Chahrouri via Twitter. Tom Brady teve Rob Gronkowski como alvo de um lançamento 858 vezes e totalizou rating de 127,1 nessas situações. Além disso, quando a defesa adversária mandou blitz contra Brady e o camisa #12 passou para Gronk no lance, o rating é ainda melhor: 144,6.
Na National Football League, o rating máximo (portanto perfeito) é 158,3.
Entre os quarterbacks que disputaram pelo menos 14 partidas por ano, a melhor temporada da história nesse quesito foi protagonizada por Aaron Rodgers, em 2011, com 122,5.
127,1 é um valor absurdo. De fato, há divergências entre quando um recebedor é alvo ou não, mas qualquer valor em torno de 120 é magnífico. E que se torna ainda mais admirável se considerarmos algo que os números não mostram: na maioria dos casos, a defesa adversária sabia que Brady iria acionar Gronk. Em outras palavras, considerando as nuances de um jogo de futebol americano, o recebedor é praticamente imparável. Quer dizer, era.
Se fosse feita a média das estatísticas de Gronkowski por um período de 16 partidas (uma temporada completa), ele teria média de 72 recepções, 1.094 jardas e 11 touchdowns por ano. Ou seja, se ele tivesse atuado em todas as partidas desde que foi recrutado na segunda rodada de 2010, com tais números após nove temporadas, o total seria 648 passes recebidos, 9.846 jardas e 99 TDs.
Mas o “se” não entra em campo. O que não significa que o legado de Gronk não mereça ser destacado.
O tight end pendurou as chuteiras com 521 rec., 7.861 jardas e 79 TDs, em 115 jogos disputados, dos quais ele foi titular em 100, em temporada regular. Olhando apenas para os playoffs, Gronk é o número oito da história em recepções, o nono em jardas recebidas e o segundo em touchdowns, atrás apenas de Jerry Rice. Foram 12 pontuações em 16 partidas.
No entanto, no esporte, nada é caracterizado somente por glórias.
A carreira de Gronkowski ficou marcada por lesões. Joelho, cotovelo, costas… Enfim, desde os tempos na universidade de Arizona, a fragilidade física sempre preocupou para com o atleta.
Fico me perguntando qual seria o real limite para ele se as lesões não o perseguissem tanto, pois nos únicos três campeonatos em que se manteve totalmente saudável, pasmem, totalizou 39 touchdowns. Ademais, mesmo com somente três temporadas “inteiro”, Gronk marcou presença em cinco Pro Bowls e quatro All-Pro Team.
Ele encerra sua carreira como jogador profissional de futebol americano com média de 0,69 touchdown por confronto.
Rob Gronkowski se aposenta como o melhor tight end da história do New England Patriots. Como um dos melhores recebedores que a franquia já teve, idem. E ambas as afirmações podem ser feitas para a liga como um todo.
Sorte de quem viu Gronk jogar e sabe que, por incrível que pareça, os números não mostram de fato o quanto os defensores oponentes sofriam semana após semana quando ele estava em campo.
Para marcar Gronkowski na força, era preciso um linebacker. O problema é que um LB normalmente não tem a velocidade que o tight end tinha. Era preciso um safety, o qual igualava a agilidade, mas certamente perdia em força e estatura.
Saber como usar Rob em um sistema ofensivo era quase desleal, até por que ele sólido executando bloqueios também. O que explica parte do impacto que ele teve para sua geração.
Em 24 de março de 2019, Gronk anunciou sua aposentadoria. O motivo? Em geral, o mesmo que o limitou de “brincar” com os números adquiridos dentro de campo.
Sim, as lesões, o único marcador que o camisa #87 não conseguiu desbancar como jogador de futebol americano.
O velho ditado “Tudo que é bom dura pouco” faz sentido. Contudo, talvez mais sentido ainda faça “Tudo que é bom dura o tempo suficiente para ser inesquecível.”
Gronk não precisou nem de uma década para fazer tudo isso.