Do momento em que a hail mary derradeira do Super Bowl LII não foi completada até pouco menos de 24 horas da conquista do Philadelphia Eagles, busquei uma maneira de descrever este time, algo que tenho costume de fazer em homenagem à cada franquia campeã ano após ano. Mas confesso que no caso deste Eagles, especificamente, não foi uma tarefa fácil. A verdade é que descrever o atual time de Philly requer uma série de análises, as quais ultrapassam desde a mudança de quarterbacks que o grupo teve na reta final da temporada, até os 41 pontos anotados no Grande Jogo.
Os Eagles de 2017 concretizaram o modelo ideal e mais eficiente de formação de um elenco competitivo no futebol americano profissional. Afinal, aquele time que após a temporada de 2015 estava sem um quarterback ideal e fez loucuras por uma posição alta de Draft no ano seguinte, dois anos mais tarde, chegou ao lugar mais alto da National Football League.
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O processo deste novo – e histórico – Philadelphia Eagles começou há apenas dois anos, mais precisamente na offseason de 2016. Naquele momento, a equipe buscou com exímia precisão os seus dois principais líderes: Doug Pederson e Carson Wentz. Pederson fora contratado para o lugar de Chip Kelly depois de três temporadas como coordenador ofensivo dos Chiefs. Wentz, por sua vez, foi a segunda escolha geral do Draft daquele ano. Ainda em 2016, Halapoulivaati Vaitai e Jalen Mills foram recrutados – e fato de ambos terem sido titulares no Super Bowl LII mostra o quanto a franquia foi feliz nessas surpreendentes escolhas.
O desempenho de Philly na temporada de estreia da era Pederson foi novamente uma campanha 7-9, ficando fora dos playoffs pelo terceiro ano seguido na época. Todavia, mesmo sem chegar à pós-temporada, os Eagles viram bons sinais no time que tinha em mãos. Por exemplo, a posição mais delicada, enfim, encontrou um dono: Carson Wentz se mostrou um QB (mais que) confiável! Portanto, para a temporada 2017, o GM do time Howie Roseman sabia que, se o camisa #11 tivesse bons jogadores ao seu redor, bons resultados poderia surgir – e foi exatamente isso que aconteceu.
A diretoria do Philadelphia Eagles se preocupou, primeiramente, em reunir talentos no sistema ofensivo. Para isso, Alshon Jeffery, LeGarrette Blount, Torrey Smith, Trey Burton, Stefen Wisniewski e Corey Clement foram contratados como free agents. Desses cinco nomes, todos tiveram excelente participação no SB LII, tendo combinado para quatro touchdowns, um deles lançado por Burton, o qual havia sido quarterback enquanto estava no high school. E por favor não se esqueça das duas “cerejas do bolo” que complementou ainda mais o arsenal de Carson Wentz: no último dia de trocas da NFL, Jay Ajayi foi contratado pelos Eagles, e Nick Foles, que esteve dois anos longe do Lincoln Financial Field, acertou seu retorno meses antes disso.
Defensivamente, o já talentoso grupo de Philadelphia se preocupou basicamente em buscar nomes pontuais, para incrementar ainda mais o talento das rotações do setor. Tal fato explica as chegadas de Chris Long, Patrick Robinson, Timmy Jerningan, Ronald Darby e, principalmente, Derek Barnett, escolha de primeira rodada do Draft 2017. A combinação desses contratados juntamente aos já consagrados Fletcher Cox, Nigel Bradham, Brandon Graham fez a defesa dos Eagles se tornar uma das mais dinâmicas e versáteis da liga, diga-se de passagem.
Se, em tese, as duas últimas offseasons já parecem ter sido muito boas para Philly, na prática, os resultados são ainda mais impressionantes. Wentz atingiu um patamar de MVP apenas em seu segundo ano na liga, Jeffery voltou aos seus melhores dias (e parece ter feito muito bem para Nelson Agholor), Blount, Ajayi e Clement formaram um grupo ideal de running backs em termos de corridas e passes, a linha defensiva do time talvez tenha sido a melhor da NFL, a secundária se mostrou capaz de decidir jogos mesmo tendo permitido muitas jardas… Enfim, o time do Philadelphia Eagles, depois de mais de uma década, havia encaixado. Não à toa, venceu 10 dos primeiros 11 jogos que disputou, teve o melhor futebol americano do planeta e, depois de muitos anos, recolocou Philadelphia no mapa da bola oval.
Mas nem tudo são flores. Se fosse, certamente Carson Wentz não teria se lesionado no último mês de temporada regular. E o mesmo pode ser dito para Jason Peters, que também perdeu o ano por conta de lesão. No caso de Wentz, quando foi oficializado que o camisa #11 só poderá retornar para a temporada 2018, tudo parecia acabado para os Eagles. Afinal, o surpreendente time de Philly, que até então tinha a melhor campanha da NFL, acabara de perder seu melhor jogador no ano. Como superar tal perda? A partir da semana 15 do campeonato regular, a equipe de Philadelphia teria que encontrar uma maneira de triunfar na conferência mais complicada da liga e ainda conquistar o Super Bowl sob o comando do quarterback reserva. Era algo quase “utópico”, digamos assim.
Mas no momento em que Nick Foles foi forçado a começar sua segunda passagem pelos Eagles, além do bom rendimento do QB, Doug Pederson mostrou porquê merecia estar ali. Além de tudo que Pederson tinha feito (resgatar o bom futebol americano de Jeffery e Agholor, combinar as corridas entre Ajayi e Blount, encontrar um substituto para Peters, corrigir a secundária do time), era hora de disputar a primeira pós-temporada de sua carreira com um QB reserva under center. O resultado disso foi brilhante.
De fato, algumas estatísticas dos Eagles pioraram, como porcentagem de conversão de terceiras descidas e aproveitamento na red zone, por exemplo. Contudo, estranho seria se isso não tivesse acontecido, afinal, como citado, o time tinha acabado de perder o provável MVP da temporada. Mas Pederson já foi um bom quarterback reserva quando atuava na National Football League, e não tenho dúvidas que isso foi crucial para que ele entendesse o que Nick Foles passou no último mês de janeiro. Aqui, vale o destaque mais uma vez para os executivos dos Eagles, que pagaram relativamente muito para ter Foles (2 anos, US$ 12 milhões), algo não muito comum para backup quarterbacks.
Nas três últimas rodadas da temporada regular, Nick Foles não teve grandes desafios, mas conseguiu manter o Philadelphia Eagles com a melhor campanha da NFC, garantindo o mando de campo nos playoffs. No mata-mata, o primeiro obstáculo foi o Atlanta Falcons. Após um primeiro tempo tenso no Lincoln Financial Field, os ajustes feitos por Pederson, especialmente no sistema defensivo dos Eagles, “mataram” o plano de jogo dos Falcons e resultaram na primeira vitória de pós-temporada de Philly desde 2008. O segundo rival, na final da NFC, foi o temido Minnesota Vikings e, acredite, poucas pessoas conseguiam encontrar uma maneira de Foles vencer aquele confronto, contra a melhor defesa da NFL na atualidade. O resultado disso? O camisa #9 teve um rating acima de 144, protagonizou uma das melhores performances da história dos playoffs e levou Philadelphia à vitória por uma diferença de 31 pontos.
O último adversário, então, era o New England Patriots, que poderia igualar o Pittsburgh Steelers em conquistas de Super Bowl, com seis. Tom Brady, Bill Belichick, Rob Gronkowski… Aqueles oponentes que basicamente todas as franquias da NFL pretendem evitar estavam diante do Philadelphia Eagles – pela segunda vez na história, é verdade. Não foi um jogo fácil, muito pelo contrário. Imagino que os torcedores dos Eagles tenham sofrido bastante, afinal, o que estava em jogo era a concretização de um título de uma das cidades que mais merecia isso entre todos os esportes americanos. Era a vontade, a expectativa da primeira conquista, a “libertação” e cautela dos Eagles diante dos atuais campeões.
Interessante (agora interessante, porém durante o SB LII muito desesperados para os fãs de Philly) que a final do futebol americano da temporada 2017 se desenhou como a maioria daquelas que os Pats conseguiram vencer e, por inúmeros motivos, Tom Brady parecia ter o jogo na forma com que esteve acostumado a conquistar a maioria de seus anéis. Mas o Philadelphia Eagles se mostrou diferente de qualquer outro desafio que New England teve na era Brady-Belichick (o que Philly fez na decisão foi até mesmo diferente dos títulos que os Giants asseguraram contra os Pats, por exemplo).
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Os Eagles conseguiram fazer aquilo que Rams, Panthers, Seahawks e Falcons não conseguiram quando enfrentaram os Patriots em Super Bowl: evitar com que Tom Brady prosperasse na campanha vitoriosa do confronto – e, convenhamos, tudo indicava que o camisa #12 iria conseguir isso mais uma vez. E mais: Doug Pederson se mostrou o head coach mais ousado que Belichick enfrentou em todas as finais de sua carreira. Afinal, a conversão de dois pontos no primeiro tempo, as duas conversões de quarta descida (uma delas terminando no TD Nick Foles), os play actions… Pederson foi um dos grandes protagonistas do dia mais feliz da história do Philadelphia Eagles.
O Super Bowl LII fugiu completamente daquilo que as análises iniciais da partida apontavam. A ótima linha defensiva dos Eagles pouco pressionou Brady (a grande ironia aqui é que o único sack do confronto foi a jogada que levou Philadelphia à loucura). As duas defesas chegaram para a decisão no Top 5 da NFL em pontos cedidos por partida; o placar final terminou 41-33. O TE Burton até apareceu como uma grata surpresa na decisão, porém não recebendo a bola, mas sim lançando-a. E que tal Nick Foles, que entrou mais uma vez na história da NFL ao obter um rating superior a 100 pela segunda semana consecutiva. Sim, ele conseguiu desbancar Tom Brady.
O sack de Brandon Graham, a recepção de Corey Clement para TD, as conversões de terceiras descidas de Zach Ertz, a ótima marcação em Gronkowski no primeiro tempo, a ousadia de Doug Pederson e até mesmo o tempo de espera da revisão do touchdown de Ertz que deu a vantagem final aos Eagles… Esses (e vários outros) momentos do Super Bowl LII estarão para sempre na história do Philadelphia Eagles.
58 anos! Esse foi o tempo que o Philadelphia Eagles teve que esperar para levantar um troféu novamente, já que em 1960, ainda antes da era Super Bowl vir à tona, a franquia havia conquistado o mundo. E que tal 84 anos?! Bom, este foi o tempo que os torcedores dos Eagles esperaram para ver o time erguer o Vince Lombardi Trophy. É isso mesmo, desde a fundação de equipe de Philly, em 1933, ela não sabia o que era conquistar um Super Bowl.
Demorou, mas não poderia ter vindo de uma maneira melhor: com um quarterback reserva, no qual poucos acreditavam no começo dos playoffs, com um elenco empolgante e capaz de contagiar até mesmo quem não é torcedor do time, sob a liderança de um head coach inovador, como “zebra” em todo o mata-mata e diante de uma das maiores dinastias da NFL. Sim, torcedor do Philadelphia Eagles, o sonho se tornou realidade – e por que não acreditar que outros ainda estão por vir?
Parabéns, Philadelphia Eagles, vencedor do Super Bowl LII!
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