É inevitável falar da temporada 2018 da NFL e não citar sua principal característica: a explosão dos sistemas ofensivos. Sabemos que a liga, há algum tempo, atravessa um período onde os ataques (principalmente aéreo) predominam. Entretanto, isso está mais potencializado neste ano, digamos assim. Mas qual o preço pago por tentar competir com uma defesa de elite contra esses super-ataques? O Chicago Bears está prestes a descobrir.
O ano dos ataques aéreos, digamos assim, explica alguns fatos. Por exemplo, o brilhante campeonato de Patrick Mahomes. Os desempenhos impecáveis de Drew Brees, que não são novidade alguma. A forma como o Los Angeles Rams consegue marcar pontos. O retorno em alto nível de Andrew Luck. O fator Tom Brady no New England Patriots. E a explosividade dos ataque de Los Angeles Chargers e Pittsburgh Steelers. Aliás, das oito melhores campanhas da NFL em 2018, sete pertencem aos ataques que mais marcaram pontos até agora. A ressalva nesse caso fica para os Colts, que têm campanha 6-5.
Caso você não tenha reparado, faltou uma equipe no parágrafo anterior para listarmos todas as sete franquias que mais pontuam no ano – e é justamente o Chicago Bears. Exatamente: hoje, o sistema ofensivo dos Bears é nº 5 na liga em tentos marcados por confronto. Mas como assim Chicago é uma exceção nessa “onda de potências ofensivas”? O “x” da questão é que, enquanto os outros times citados têm no ataque a principal arma, o Chicago Bears vê em sua defesa o setor mais sólido.
Não é que o ataque do Chicago Bears é ruim
O fato de os Bears terem o quinto melhor ataque da NFL em pontos engana. Engana no sentido de que, em termos de talento ofensivo, o setor não é tão refinado assim. Contudo, há um sistema bem estruturado por Matt Nagy. Um sistema que está no começo, porém já com respaldo positivo.
Com 12 semanas completadas, Chicago tem apenas o 21º ataque da liga em jardas totais, com 349,4 por jogo. Dessas, 234,2 são lançadas (20ª melhor marca) e 115,2 corridas (15ª). Ou seja, não são marcas que impressionam, como alarmado. A questão é que esse sistema é compacto em dois pontos cruciais: red zone e turnovers.
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Em 11 partidas que fez, os Bears até nem foram impecáveis no quesito turnovers sofridos. Com 15 até agora, o time é quase Top 10 dos piores da liga no quesito. Contudo, o saldo de turnovers de Chicago é absurdo: + 14, o melhor da temporada ao lado de Cleveland. De certa forma, dentro dos confrontos, essa diferença acaba sendo o mais importante. Além disso, o time de Matt Nagy tem sido eficiente na red zone, marcando touchdown em 66,7% dos casos. Como mandante, essa marca sobe para quase 79%.
Diga-se de passagem, contra os Lions, quando o Chicago Bears foi a campo em uma semana mais curta e com o reserva Chase Daniel, o aproveitamento na red zone foi de 100%. E da mesma forma que Nagy encontrou uma forma de encaixar Daniel no sistema ofensivo, ele conseguiu com Mitchell Trubisky.
Trubisky, você deve se lembrar, totalizou sete TDs e sete INTs em 12 jogos como calouro em 2017. Um ano se passou e ele agora obtém 20 touchdowns e nove interceptações em dez confrontos disputados. A linha ofensiva e o grupo de recebedores melhoraram consideravelmente na última offseason também.
De qualquer maneira, ainda há espaço para melhora. O ideal era que Mitchell Trubisky fosse mais consistente ao longo da partidas e não tivesse atuações de 165 e 135 jardas como fez nas semanas 9 e 11. Ademais, o jogo corrido do Chicago Bears deixa a desejar. A linha ofensiva (principalmente do lado esquerdo) não vem fazendo um bom trabalho para os corredores e, verdade seja dita, Jordan Howard vem decepcionando individualmente.
Mas é o grande diferencial do time é a defesa
Chama atenção que em um time que marca 28,8 pontos por jogo, é na defesa que está a arma principal. Mas é isso que está acontecendo na Windy City. Por lá, o sistema defensivo do Chicago Bears rapidamente ultrapassou o status de um dos mais subestimados para se tornar um dos mais temidos da NFL.
Estamos falando de um setor que sofre somente 19,2 pontos por confronto, a segunda melhor marca. Que é também a nº 4 em jardas totais permitidas (316,1). E que ainda é Top 10 em jardas aéreas e corridas concedidas.
Como se não bastasse, a defesa dos Bears é a que mais força turnovers em todo o campeonato. Ao todo, foram 29 bolas recuperadas pelo setor até o momento. Dessas, 20 foram interceptações, das quais cinco foram retornadas para touchdown; ambas também configuram as principais marcas da NFL no quesito.
Repare que são cinco pick six no ano, que combinadas com um fumble retornado para TD totaliza seis touchdowns defensivos. E adivinhe: nenhum outro time na liga fez mais que isso. Em média, o sistema defensivo do Chicago Bears marca 0,5 touchdown por jogo! Ah, e em sacks, esse elenco é o sexto principal do campeonato.
Já em 2017, a defesa de Chicago merecia mais crédito. Afinal, Akiem Hicks, Eddie Jackson, Kyle Fuller, Prince Amukamara, Adrian Amos, Danny Trevathan, Leonard Floyd, todos eles disputaram pelo menos dez partidas no ano passado. A questão é que uma temporada a mais de experiência e a chegada de Khalil Mack elevaram o nível do setor.
Aliás, Mack é um daqueles jogadores que faz um bom sistema defensivo se tornar ótimo. Referências técnicas são chaves para a construção de um grupo realmente competitivo. E os Bears conseguiram uma agora.
Qual é o limite?
O Chicago Bears lidera a NFC Norte com certa folga e está próximo de vencer a divisão pela primeira vez desde 2010. A menos que um desastre aconteça, a franquia voltará aos playoffs. Aí sim, ainda mais por se tratar da Conferência Nacional, não haverá adversários frágeis. Em tese, para chegar a Atlanta em fevereiro, o caminho passará por Los Angeles e New Orleans, para se ter uma noção. Aliás, os Rams serão adversários dos Bears em duas rodadas.
A pergunta neste momento é se Chicago é um time em estágios finais de formação e à beira de se tornar um franco favorito na NFL. Ou se essa equipe tem condições de buscar o Super Bowl já nesta temporada. Favorito sabemos que o Chicago Bears não é. Assim como os Giants em 2007 e os Ravens em 2012 não eram, por exemplo.
Os Bears precisarão ter continuidade e repetitividade no sistema ofensivo com Mitchell Trubisky. E a defesa manter a excelente forma, obviamente. Se Matt Nagy conseguir encaixar tudo isso na mesma hora, durante dois ou três jogos no mês de janeiro, a narrativa será outra. Afinal, ótimas defesas, cercadas por ataques com devida eficácia, vencem campeonatos. Os Bears, em algum momento, já mostraram que têm tudo isso.