Os tempos não mentem: o Draft 2017 da NFL – há muito tempo – está em pauta. Em meio à Mock Draft, análises das necessidades das franquias, melhores jogadores da classe, e possíveis busts e steals, é impossível não relembrarmos de grandes histórias sobre o assunto. Assim como a NFL, o Draft da liga tem casos, mitos, polêmicas e muitas histórias de recuperação em seu currículo – sem ao menos saber o título deste texto, o nome de Tom Brady já estaria na mente de todos agora. Com esse contexto, algo acabou sendo inevitável.
Na coluna de ontem, falei sobre “As três formas brilhantes de se tornar um quarterback na NFL”. Entre elas, naturalmente, estava a de Tom Brady. No mesmo instante, tive a certeza: todos deveriam saber mais sobre como Brady escreveu sua história na liga. Por isso, e com o Draft 2017 em mente, é hora de voltar no tempo e relembrar como aquele que muitas pessoas chamam de maior de todos os tempos chegou a esse patamar. De ignorado e criticado negativamente, ao quarterback mais amado e odiado do planeta. O Draft de 2000 da NFL, mais que uma das grandes surpresas da história, deixou uma lição para quem é apaixonado por futebol americano.
Como Tom Brady era no college football?
Falar da história de Tom Brady e como ela começou a ser escrita no futebol americano profissional é algo que os fãs de esporte já estão acostumados. Todavia, não vemos sempre por aí relatos de como o quarterback era quando atuou pela Universidade de Michigan. Quais foram suas estatísticas por lá? O fato de ele ter sido “ignorado” no Draft 2000 foi justo pelo que ele apresentou no college football?
Brady defendeu os Wolverines entre 1996 e 1999, tendo sido titular em seus dois últimos anos pela universidade. Neste período, ao contrário do que muitos pensam, o então camisa #10 já demonstrava sinais daquilo que estamos habituados. Por exemplo, membros de Michigan apelidaram o QB de “Comeback Kid”, pela capacidade do jogador em virar partidas nos momentos mais importantes.
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Além disso, devemos lembrar que Tom Brady venceu os dois Bowls que disputou, em 1998 e 1999 (Citrus e Orange Bowl, respectivamente). Verdade seja dita, os números de Brady nunca foram brilhantes no college football, como já vimos outros QBs alcançando. Nos dois anos de titularidade, foram 4.644 jardas, 30 touchdowns e 17 interceptações para ele. Como falado, nada exagerado aqui. Por fim, vale dizer que Brady totalizou 20 vitórias e cinco derrotas, e terminou sua carreira universitária como o 3º da história de Michigan em passes completos (442), 4º em jardas aéreas (5.351) e porcentagem de passes (62,3%), e 5º em touchdowns (35) – incluindo as atuações em Bowls.
Deixando as estatísticas de lado, devemos falar do comportamento de Tom dentro de campo. Desde os tempos universitários, o estilo do camisa #12 em ação é o mesmo. Sabemos que ele não tem o braço mais forte do mundo e nem mesmo o mais preciso. Entretanto, o que diferencia Tom Brady dos demais (e que já era visto no passado) é sua tomada de decisões. Ao longo dos jogos, especialmente nos momentos mais importantes, Brady parece saber exatamente o que tem que fazer, para onde tem que lançar, o melhor alvo que estará desmarcado.
Dito isso e contando que nenhuma defesa de futebol americano consegue ser impecável o tempo todo e que em algum momento essa irá deixar alvos livres, a percepção vista naquele franzino quarterback de Michigan deveria ter recebido um caráter especial.
“Braço fraco; não consegue lançar a bola no fundo do campo; lançamento ruim”
Mas isso não recebeu devida consideração. Vale dizer que as leituras de jogo de Tom Brady, desde sempre, foram elogiadas. Contudo, a cada ano que passa, os olheiros da NFL parecem se preocupar mais com braços potentes, quarterbacks versáteis ou extremamente atléticos. De certo, tudo isso importa e quanto mais recursos um quarterback tiver, mais ele pode acrescentar para a franquia que escolhê-lo. Entretanto, a posição mais importante do futebol americano requer um trabalho psicológico incrível, afinal as situações de pressão estão a todo momento neste esporte. E Tom sobressaia (e sobressai) nisso.
Podemos dizer que o poder de decisão e a habilidade nos passes laterais eram as duas grandes (e quase únicas) características valorizadas em Tom Brady. Contudo, a valorização daquilo que não agradava no quarterback foi maior. “Fraco; Muito magro e fino; Consegue ser derrubado facilmente; Dificuldade em se locomover; Braço fraco; Não consegue lançar a bola no fundo do campo; Lançamento ruim”, assim ficou o relatório final (resumido) de Brady antes o Draft de 2000.
Tal descrição, naturalmente, fez com que aquele jovem quarterback que vinha de Michigan tivesse seus “defeitos” superiores às qualidades, perdendo, portanto, muito valor no Draft. O resultado de tudo isso ficou concretizado no dia do recrutamento: Tom Brady teve seu nome chamado apenas na 6ª rodada, com a 199ª escolha…
Dois MVPS, sete Super Bowls, cinco aneis (e contando)
Acredite ou não, mas todas as franquias da National Football League tiveram pelo menos seis oportunidades de terem escolhido Tom Brady, desconsiderando as trocas e coisas do tipo. Em tese, saiba que Brady foi selecionado na 7ª rodada, visto que todos os 32 times da NFL já haviam feito suas escolhas na 6ª rodada e que o camisa #12 só saiu da lista de espera nas escolhas compensatórias (não sabe o que é isso? Veja nosso dicionário).
Como o próprio Tom Brady já contou, juntamente com seus familiares, ele chegou ao evento do Draft esperando ser selecionado no máximo até a 3ª rodada, e quem sabe até pelo San Francisco 49ers, seu time do coração e que buscava um quarterback. Todavia, chorando, TB#12 passou batido por várias franquias até que cogitou não seguir a carreira no futebol americano profissional. Mal sabia ele o que o destino estava guardando…
Depois disso, não pense que foi fácil: Brady entrou no New England Patriots como o 4º quarterback do elenco, sendo que a franquia claramente tinha seu titular definido em Drew Bledsoe. Todavia, alguém chamado Bill Belichick fez questão de manter Brady (na época, inexplicavelmente) no elenco nos dias de corte. Isso, combinado com uma lesão dos outros dois nomes que estavam à sua frente, incluindo Bledsoe, deu ao quarterback suas primeiras oportunidades. O restante da história nós já sabemos.
No primeiro ano de Brady como titular (2001), mesmo que sem grandes atuações porém com poder decisivo e personalidade invejáveis (que coincidência para os tempos de college, não?), o “quase calouro” foi capaz de vencer o Super Bowl XXXVI. E por isso sua história é uma das mais espetaculares de todos os tempos. Depois disso, entre 2002 e 2004, foram mais dois anéis, sendo eles consecutivos, algo poucas vezes visto na NFL.
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Estamos falando de um quarterback menosprezado e criticado no Draft, apesar de relativo sucesso no college football. De alguém que encontrou um exímio líder em Belichick – e sim, o head coach/general manager também teve influência em tudo isso – para se tornar um Hall of Famer certo.
Ele é o jogador que mais disputou Super Bowls e também aquele que mais venceu o Grande Jogo (empatado com outros) na história da NFL. Ainda, ninguém nunca foi nomeado MVP do Super Bowl mais de três vezes; Brady já foi quatro. Entre os quarterbacks, nenhum está perto de igualar seus cinco anéis. Ele ainda acumula 12 Pro Bowls, dois MVPs e um Comeback Player of the Year. Isso para não falar que a maior virada da história de um Super Bowl foi liderada por ele.
A história de Tom Brady no Draft de 2000 é mais um exemplo de que o Draft da NFL é muito incerto – apesar de certa previsibilidade. As franquias não têm culpa se aquele prospecto promissor não engrena ou se o menosprezado encontra o caminho da glória, apesar do destino não perdoar em nenhum desses casos. No fim das contas, mesmo que estudos e análises devam ser feitos com cautela (especialmente nos quesitos psicológicos), não há nada que os times da liga possam fazer para garantir que esse tipo de situação não aconteça – e muito menos nós, fãs de futebol americano. Na verdade, apenas torça para seu time não deixar de lado um novo Tom Brady.
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