Na semana 6 da temporada 2019 da NFL, vimos encontros de candidatos a Super Bowl em ambas as conferências, uma jogada inusitada no confronto disputado em Londres, o Tank Bowl, além de vários outros fatos.
Como de costume, separei aquilo que mais me chamou atenção após a conclusão da rodada.
Você sabe o que é fair catch kick?
O duelo que abriu o domingo da semana 6 foi disputado em Londres entre Tampa Bay Buccaneers e Carolina Panthers. Impulsionados por mais dois touchdowns de Christian McCaffrey e uma das melhores (e subestimadas) secundárias da liga, os Panthers venceram os rivais de divisão por 37-26 e agora somam quatro triunfos consecutivos.
Por outro lado, os Buccaneers viram Jameis Winston sofrer seis turnovers (cinco interceptações, a pior marca da carreira).
Mas outro fato, na última jogada do segundo período, chamou atenção: Carolina tentou executar um fair catch kick, na ocasião de 60 jardas e sem sucesso.
Você sabe o que é um fair catch kick? Deveria, se você acompanha o Shotgun regularmente. Em 2016 e 2017, expliquei sobre o Chute de Fair Catch. Aqui está a definição:
“Quando um fair catch é chamado, além de começar a jogada do ponto em que ele aconteceu, o time pode optar por um chute, com a bola ao chão e com todos os adversários a pelo menos dez jardas de distância da bola. Apesar de ser raro, o Chute de Fair Catch é uma opção sensata para times que estão nas proximidades da linha de 50 jardas do gramado e com pouco tempo restante no relógio.”
Nada surpreendeu e os Texans venceram em Kansas City
Duas coisas estavam óbvias antes do kickoff inicial de Kansas City Chiefs e Houston Texans no Arrowhead Stadium na semana 6 — e elas continuam: enquanto a defesa do time da casa esta marcada por incertezas, o quarterback visitante atravessa grande fase.
Um pouco de contexto: os Chiefs entraram na rodada permitindo pelo menos 25 first downs aos oponentes em três partidas seguidas. E Deshaun Watson protagonizou, possivelmente, a melhor atuação de quarterback da história dos Texans na quinta semana.
Assim sendo, no encontro entre dois dos principais candidatos da Conferência Americana, esses cenários permaneceram “intactos”, o que de um modo geral explica como Houston venceu por 31-24.
Não foi um dia brilhante para Watson, de rating perfeito, cinco touchdowns ou algo do tipo. O que o quarterback continuou fazendo de melhor foi aparecer nos momentos mais importantes, como terceiras/quartas descidas e campanhas na red zone, o que escancarou a dificuldade que o sistema defensivo dos Chiefs tem de tirar o ataque rival de campo.
Assim como os Colts, os Texans dominaram as trincheiras, correndo 41 vezes para 192 jardas e três touchdowns. Consequentemente, os Chiefs tiveram menos tempo de posse em todo o jogo (20:12) do que os Texans totalizaram apenas no segundo tempo (24:06).
Houston teve seis campanhas na red zone adversária e marcou quatro touchdowns. E das 15 situações de terceiras/quartas descidas combinadas, sete viraram first downs, incluindo a 4ª para 2 derradeira do embate.
Falando em algo que não surpreendeu neste confronto, Kansas City cometeu 11 penalidades, o que dá ao time 22 penalidades totais nas duas últimas rodadas.
Em Cleveland, o roteiro parece ter sido milimetricamente detalhado
Aquilo que parecia improvável depois de todas as transações da offseason teve mais um capítulo na semana 6: com o revés por 32-28 para o Seattle Seahawks, o Cleveland Browns agora amarga três derrotas em três partidas como mandante nesta temporada.
E um novo resultado decepcionante dos Browns aconteceu exatamente como as prévias do confronto apontavam de acordo com o que a equipe e o adversário fizeram neste campeonato até aqui.
Seattle correu 38 vezes com a bola, produzindo 170 jardas e dois touchdowns.
Nick Chubb foi o único running back de Cleveland com carregadas na tarde, e com produção brilhante novametne.
De um lado, Tyler Lockett (cinco recepções, 75 jardas) foi o melhor recebedor dos Seahawks, com o calouro DK Metcalf protagonizou mais uma recepção de 30/+ jardas. Do outro, Odell Beckham Jr. foi o mais acionado com 11 targets, que geraram seis passes recebidas e 101 jardas.
Bobby Wagner liderou os Seahawks em tackles (7), e Myles Garrett foi o melhor dos Browns (e do embate) em sacks, com dois.
Por fim, Baker Mayfield liderou algumas boas campanhas e teve passes diferenciados, mas acabou interceptado três vezes na partida. Ele agora é o quarterback com mais interceptações nesta temporada (11).
Como esperado, isso não foi páreo para mais uma sólida apresentação de Russell Wilson, que completou 23/33 lançamentos, para 295 jardas e dois touchdowns.
A NFL nem sempre é tão previsível assim.
Os turnovers e chamadas ofensivas incoerentes persistiram para os Browns, que conheceram mais um tropeço diante de um adversário limitado, mas que sobra nos quesitos comissão técnica e poder decisivo under center.
O ataque aéreo dos Vikings contra os Eagles
Duas coisas precisam ser ditas sobre o ataque aéreo do Minnesota Vikings, que liderou o time à vitória contra o Philadelphia Eagles por 38-20.
A primeira delas é que esta é exatamente a produção que se espera de um time com tamanho talento e investimento no setor. Kirk Cousins completou 22/29 passes, para 333 jardas, quatro touchdowns e uma interceptação. Stefon Diggs (7 recepções-167 jardas-3 TDs) e Adam Thielen (6-57-1), os quais estavam “fora de sintonia” em 2019, foram os dois recebedores mais acionados da franquia.
Diggs marcou pela primeira vez desde a semana 2, enquanto Thielen agora acumula três touchdowns nas duas últimas partidas.
Precisa ser ressaltado, contudo, que Minnesota teve tamanha produção contra uma das piores secundárias da NFL neste ano, a qual permite mais de 280 jardas aéreas em média por jogo.
Ultrapassar as 300 jardas de passe em dois confrontos consecutivos enfrentando Eagles e New York Giants é diferente de alcançar tais números diante de melhores defesas como, por exemplo, Chicago Bears e Green Bay Packers, adversários que Cousins sequer chegou a 235 jardas lançadas.
Não existe motivo para lamentação em Minnesota após um ótimo triunfo contra um candidato direto na Conferência Nacional. Entretanto, a empolgação, principalmente no que diz respeito a Cousins e companhia, precisa carregar um asterisco. Pelo menos por enquanto.
A volta de Darnold sobre o poder decisivo de Prescott
Sam Darnold ficou fora de todas as partidas da temporada do New York Jets, com exceção do jogo da semana 1, por ter contraído mono. A semana 6, então, marcou a volta do camisa #14, que teve uma das melhores atuações individuais da carreira e liderou os Jets ao primeiro triunfo da temporada, 24-22, contra um Dallas Cowboys que agora carrega três derrotas seguidas.
Não que isso seja esperado pela diferença no elenco dos dois times, mas Jets vs. Cowboys foi definido somente nos detalhes, com Dallas, lado que dominou grande parte dos indicativos (first downs, posse de bola, jardas, conversões de terceiras descidas, turnovers), saindo derrotado.
Que detalhes foram esses, portanto?
O único turnover da partida foi uma interceptação de Jourdan Lewis em Darnold, mas que acabou em um field goal de 40 jardas desperdiçado por Brett Maher.
Antes de criticar Maher, não que isto justifique o erro, saiba que ele também converteu um FG de 62 jardas neste confronto, a terceira distância mais longa de field goals na história da NFL.
Outro detalhe foi também o aproveitamento na red zone adversária, visto que New York fechou a tarde com dois touchdowns marcados em três dessas situações, contra 2/4 de Dallas.
Claro, é preciso ressaltar também que a interferência ofensiva de passe marcada em Cedrick Wilson, a qual anulou um touchdown dos Cowboys e deixou o time apenas com um field goal, merece ser questionada.
Tudo isso deve ser abordado quando o assunto é o pós-jogo de Jets e Cowboys nesta rodada. Contudo, o fato de acometermos a pequenos detalhes para explicar um tropeço de uma equipe que, em tese, deveria ter vencido com folga, mostra que a narrativa deve ir além de mais um resultado negativo para Jason Garrett e companhia.
O ataque dos Cardinals merece elogios
Após uma offseason com tantas mudanças, concordando ou não com isso, a temporada do Arizona Cardinals vai além dos resultados do time.
Claro, o fato de a franquia ter vencido a segunda partida consecutiva, desta vez por 34-33 contra o Atlanta Falcons — a primeira de Kyler Murray e Kliff Kingsbury em Arizona — é o que solidifica o processo de reformulação da equipe. Contudo, a forma como os Cardinals parecem melhorar semana após semana, mesmo que timidamente em alguns setores, merece destaque positivo.
Diante dos Falcons, os Cardinals marcaram 30/+ pontos pela primeira vez nesta temporada. E Murray não foi interceptado e nem sackado nenhuma vez, algo inédito neste ano até agora.
Outros números importantes para se ter em mente: Arizona totalizou 7/13 em terceiras descidas e 3/4 nas vezes que chegou à red zone.
Tudo isso com números limitados de David Johnson correndo com a bola (12 corridas, 34 jardas, 1 TD). O camisa #31, todavia, teve grande impacto como recebedor, com seis recepções, para 68 jardas e um touchdown — outro sinal de evolução no sistema para um jogador que não teve nenhuma atuação com pelo menos seis passes recebidos na primeira metade da temporada passada.
De fato, a defesa de Atlanta está entre as piores da NFL em todos os níveis e continua sofrendo com lesões importantes. Porém, é inegável que a cada rodada que passa a combinação Murray-Kingsbury pareça estar mais confortável no futebol americano profissional.
O Tank Bowl
Um duelo da semana 6 que ganhou ênfase após o primeiro mês da temporada regular foi Miami Dolphins vs. Washington Redskins. Afinal, com ambas as equipes se enfrentando com retrospectos combinados de 0-9, o resultado final do embate pode — e deve — influenciar diretamente na ordem do próximo Draft.
Os Redskins venceram por 17-16, com os Dolphins marcando um touchdown a poucos segundos para o fim da partida e optando pela (falha) conversão de dois pontos, a qual viraria o confronto a favor do time da casa ao invés de empatar o marcador com o extra point.
O grande derrotado do Tank Bowl foi Josh Rosen, o qual acabou substituído com o jogo em andamento após totalizar 15/25 nos passes, 85 jardas e duas interceptações contra uma das piores secundárias da NFL.
Verdade seja dita, o front seven dos Redskins segue repetindo sólidas atuações e terminou a tarde com cinco sacks.
As apresentações de Adrian Peterson (23 corridas para 100 jardas) e principalmente Terry McLaurin (quatro recepções, 100 jardas, dois TDs) também merecem créditos para Washington.