Não deve ser verdade.
Ele vai voltar em breve.
Você tem certeza? Mas por que?
O time já confirmou?
Isso é mesmo real?
Como assim?
Quando a notícia de que Andrew Luck havia comunicado a diretoria do Indianapolis Colts sobre sua aposentadoria, foi difícil entender. Também não foi fácil explicar, tampouco digerir, o que acabara de vir à tona.
Mas sim, é isso mesmo, Luck agora é um ex-jogador.
Aquele quarterback que chegou à NFL como um dos melhores prospectos universitários de todos os tempos agora se aposenta provavelmente com a retirada mais surpreendente da história do futebol americano profissional.
De unânime primeira escolha geral 2012, Luck se aposentou com sete anos de experiência na liga, com só seis temporadas disputadas, as quais totalizaram 86 partidas de temporada regular e outras oito em playoffs.
Muito pouco para uma primeiríssima pick… Mas Luck não deixa a NFL marcado por ser um bust. Por mais que seja quase impossível negar que ele não tenha feito para os Colts tudo aquilo que era esperado, o sentimento com a saída do camisa #12 é de algo incompleto.
Em sete temporadas profissionais, Luck ficou fora de 26 partidas, por conta das mais variadas lesões. Costelas (rim), abdomen, cabeça (concussão), ombro e, mais recentemente, panturrilha/tornozelo, que mais do que nunca é um grande mistério agora.
O que fez Luck tomar uma decisão como esta não foi a quantidade de lesões. Mas sim como essas lesões começavam e, principalmente, como elas nunca iam embora.
Depois de brilhar e evoluir entre 2012-2014, o quarterback foi obrigado a parar por algumas semanas em 2015 pois poderia sofrer maiores danos em um dos rins, juntamente a uma lesão abdominal. Porém, ele acabou ficando parado mais tempo do que era esperado.
Enquanto isso, embora o fato não tivesse se tornado público na época, o ombro direito de Luck o incomodava. E as dores no braço responsável por fazer os lançamentos permaneceram não só durante 2015, mas também na temporada 2016, até se tornarem insustentáveis, que foi quando o jogador passou por uma cirurgia.
Detalhe: Luck, um quarterback destro, suportou dores em seu ombro direito por praticamente dois anos sem saber como curar aquilo. Não por acaso, logo após o procedimento cirúrgico, cogitou-se que ele talvez nem fosse mais capaz de ser um quarterback de alto nível novamente.
A temporada 2018 mostrou o contrário.
Luck, que atuou oficialmente depois de 616 dias, voltou a ser aquele quarterback que chamou atenção de todos e protagonizou uma das melhores temporadas da carreira. Os Colts voltaram a vencer 10 jogos, foram aos playoffs e, também impulsionados por um ótimo grupo de jovens jogadores dos dois lados da bola, passaram até a sonhar com o Super Bowl.
Sim, é simples assim: alguns quarterbacks não precisam de muito para colocarem suas equipes em um patamar inimaginável para quarterbacks comuns. Ficou provado que Luck era um desses.
Mas a temporada 2018, a mesma que marcou a volta de Luck, significou o fim da linha para ele.
Durante a offseason, a mais esperada da equipe de Indianapolis em anos, as lesões voltaram a atrapalhar o QB. Quer dizer, ficamos sabendo que elas voltaram a atrapalhá-lo. Hoje, fica claro que o corpo de Luck não o passava segurança em momento algum.
Novamente, como em outros casos, a primeira notícia era de que Luck tinha uma lesão na panturrilha. Entretanto, o prazo de recuperação não correspondeu ao que os Colts informaram inicialmente e o camisa #12 estava muito atrasado no processo de voltar aos gramados.
Pouco depois, o proprietário da franquia Jim Irsay, apesar de não detalhar a informação, afirmou que a lesão de Luck era em um pequeno osso entre a panturrilha e o tornozelo. Assim, de perder a primeira semana da pré-temporada e desfalcar Indy em todo o mês de agosto, Luck até se tornara dúvida para a estreia da temporada regular.
Foi o limite para ele.
Não apenas fisica, mas em especial mentalmente, Luck não tinha segurança em seu corpo.
As dores constantes, as diversas lesões, as pouquíssimas explicações e prorrogação de vários prazos de recuperação, é difícil não entender quando Luck diz que está mentalmente desgastado.
“Eu não tenho sido capaz de viver a vida que eu queria viver. A alegria deste jogo (futebol americano) foi tirada,” disse Luck em entrevista coletiva após o confronto de pré-temporada entre Colts e Chicago Bears no Lucas Oil Stadium, sua primeira entrevista após a notícia. “A única maneira de seguir para mim é me afastar do futebol americano.”
A forma como tudo aconteceu, desde o tratamento, transparência das partes envolvidas (franquia/jogador) no princípio das lesões e as últimas semanas, pode ser questionada. Já está sendo, pela reação dos torcedores dos Colts após o jogo contra os Bears, que esboçaram algumas vaias ao atleta.
Tudo bem, o time foi pego de surpresa perdendo um dos melhores jogadores da história do time.
Porém, como o próprio Luck também declarou, há duas semanas ele pensava em jogar futebol americano. Sua decisão veio em mente na última semana e meia. E mais uma vez, não deixe despreze o lado humano daquele quarterback por trás de uma linha ofensiva.
Mesmo que nem sempre pareça, os QBs são humanos, e não máquinas de lançar a bola.
Fica aquele sentimento de “quero mais” para com Luck. Talentos, personalidades e profissionais como ele são raros no mundo do esporte.
O sábado de 24 de agosto de 2019 registrou uma das notícias mais surpreendentes da NFL. E o dia marcava justamente 12 dias para o kickoff inicial da temporada 2019, o mesmo dia em que Luck, mais um marcante camisa #12 na história da liga, pendurou as chuteiras.