Você certamente tem algum familiar que quando está assistindo algum jogo ao seu lado diz: “Na minha época, isso não era assim”. Ou talvez “Não tem como comparar os jogadores de hoje com os de antigamente, eles eram muito melhores, sem frescuras”, ou algo do tipo. Enquanto o julgamento de qual época era melhor e quais jogadores merecem mais créditos depende de uma série de outros fatores, é verdade que o esporte em geral vem sofrendo transformações ao longo da história – e é preciso colocar a NFL nessa conversa.
Houve uma época que não existia a linha de três pontos no basquete e, portanto, só valia cesta de dois. Outro exemplo de mudança interessante no esporte aconteceu a partir da década de 1970 no beisebol, quando foi instaurado em geral o rebatedor designado. No futebol, ao invés dos conhecidos 4-4-2, 4-3-3, 4-5-1, times já usaram formações do estilo 2-2-6, ou até mesmo 1-2-7 – e, acredite ou não, os jogos terminavam zerados para ambos os lados muitas vezes. Não diferente das outras modalidades, então, tenha em mente que o futebol americano profissional também passou por muitas mudanças.
Claro que a tecnologia ajudou e influenciou consideravelmente com o passar dos anos, principalmente para quem assiste ao esporte. Por exemplo, as emissoras de TV passaram a colocar a linha amarela indicando o first down nas transmissões em 1998, o replay instantâneo para a revisão de jogadas começou em 1986 e se tornou uma constante nos jogos 13 anos depois. Ademais, até 1974 na NFL, o Y era posicionado na goal line, e não no fundo da end zone; houve também épocas em que se usava bolas brancas no futebol americano para facilitar a visão dos jogadores em partidas noturnas e era proibido o spike para parar o relógio.
Entretanto, saiba que além dessas alterações, outras tendências modificaram diretamente o jogo de futebol americano, estabelecendo novos padrões e mudando a forma como o esporte é praticado na atualidade. Na história da NFL, posições, ideologias, conceitos dentro e fora de campo, táticas e regras sofreram grandes modificações desde que a liga foi fundada.
Mas quais foram as mudanças que mais impactaram na forma como o football é praticado? E por que elas aconteceram? Segue uma lista de coisas que não são mais frequentes nas partidas da National Football League como costumavam a ser nas décadas de 1950, 1960 e até mesmo 1970!
Uma liga que prioriza os passes
Os anos 2000 em geral marcam uma época em que a NFL passou a girar em torno dos quarterbacks. Nas duas últimas décadas, por exemplo, já vimos vários QBs ultrapassando as 5.000 jardas aéreas e dois batendo a marca de 50 touchdowns em uma temporada. Cada vez mais, os QBs são os mais valorizados, mais visados e pressionados no futebol americano profissional. Entretanto, saiba que nem sempre foi assim.
Você sabia que até 1959 todos os quarterbacks que lideraram um campeonato em jardas não tiveram mais que 2.900 jardas? E que tal o fato de somente nos anos 1979 e 1980 terem configurado as primeiras temporadas consecutivas com um jogador lançando para mais de 4.000 jardas? 40 touchdowns aéreos só foram alcançados pela primeira vez em 1984, sendo que 13 anos antes disso, na última temporada da liga com 14 jogos no calendário, Bob Griese liderou o campeonato em TDs, com 22 lançados (média de 1,57 por jogo, que totalizaria 25 em 16 confrontos).
Por que tanta diferença assim? A explicação mais clara está ligada às regras, já que as penalidades que protegem os recebedores têm aumentado bastante. O contato agora só é permitido nas primeiras cinco jardas das rotas, os tackles precisam ser controlados para que não haja uma falta de 15 jardas e as interferências de passe estão por toda a parte. Além disso, um defensor precisa estar atento à forma como ele atinge um quarterback caso não queira ver flanelas amarelas voando pelo gramado.
A posição de tight end
Atualmente, os tight ends vêm sendo reconhecidos mais pela habilidade que demonstram recebendo passes do que pela solidez nos bloqueios. Isso significa que TEs nos dias de hoje se posicionam abertos, como slot receivers, de uma maneira geral, criando desfavoráveis confrontos individuais para os defensores. Se você sugerisse isso nos anos 50, 60 e até mesmo 70 (já que a maioria da liga provavelmente iria contra) seria considerado um maluco (talvez até genial, porém maluco).
Isso porque até a década de 1960, os tight ends eram considerados o “sexto homem da linha ofensiva” e em poucas ocasiões recebiam passes – lembrando que esses eram majoritariamente de curta distância para o centro do campo. Nomes como Mike Ditka e John Mackey, contudo, mostraram que esse conceito poderia ser diferente. Além de bons bloqueadores, Ditka e Mackey provaram que poderiam se destacar com a bola nas mãos.
Mas a ideia de ter um tight end posicionado e agindo como um wide receiver só foi concretizada de fato nos anos 80, através de Kellen Winslow, o qual era comandado pelo gênio ofensivo Don Coryell. Winslow estabeleceu o protótipo dos TEs ágeis, versáteis, dinâmicos e com capacidade de executar grandes recepções nos dias de hoje, e abriu o caminho para grandes nomes da posição, como Ozzie Newsome, Shannon Sharpe, Tony Gonzalez, Antonio Gates, Jason Witten, Rob Grownkowski, entre outros.
A decadência dos fullbacks
A posição de fullback passa por um processo inverso à de tight end na atualidade. Enquanto uma sofreu alterações e acabou garantindo espaço nos sistemas ofensivos da NFL, a outra sequer aparece em todos os elencos da liga neste momento. No mesmo modelo dos TEs, os FBs inicialmente eram destinados aos bloqueios e, em alguns casos, corridas curtas, já que eram mais lentos, porém mais fortes que os running backs. O problema neste caso foi que a National Football League tem sido uma liga de passe.
Muitas franquias atualmente optam por escalar três wide receivers e um tight end em campo, deixando somente dois nomes no backfield (o quarterback e o running back principal). Nos primórdios do futebol americano profissional com as principais características que conhecemos hoje, um dos WRs seria substituído pelo FB e o backfield seria, portanto, configurado por três jogadores.
Mas ainda existe outro fator por trás do gradativo “desaparecimento” dos fullbacks…
Grandes homens de linha ofensiva
Os bloqueadores da NFL nem sempre foram enormes, com pelo menos 1,90m e 140kg, como temos visto hoje em dia – e os atuais padrões de OL, juntamente com a ideologia de passe do futebol americano, acabou ajudando para a perda de importância dos FBs.
Para se ter uma noção, no Super Bowl I, o peso médio dos offensive linemen de Chiefs e Packers era 115,9kg; nenhum (!) OL titular da NFL atualmente pesa tão “pouco” quanto isso. Ademais, de acordo com as médias de tamanho (altura e peso), a década de 1950 e 1960 tinha como bloqueadores atletas do porte de Matthew Stafford, QB dos Lions, e Clay Matthews, LB dos Packers, respectivamente. Em 1970, isso não foi muito diferente: a média dos offensive linemen era 1,93m e 118 kg, alguém como Ryan Kerrigan, defensor dos Redskins.
Com o passar do tempo, os bloqueadores ficaram maiores, mais dinâmicos e, consequentemente, mais sólidos. Ou seja, a proteção nos quarterbacks neste sentido melhorou, o que possibilitou tanto que os tight ends pudessem ficar mais “soltos” para receber passes, quanto que os fullbacks não precisassem mais ajudar constantemente nos bloqueios, a função essencial desses jogadores.
Cada jogador executando uma função em campo
No futebol americano profissional de 2018 o quarterback é o responsável por passar a bola, o running back é o corredor, offensive tackle é quem bloqueia, kicker chuta field goals e extra point, e por assim vai… Atualmente, cada jogador da NFL tem uma posição e função definidas em campo. Por mais que alguns atletas se destaquem pela versatilidade e capacidade de executar múltiplas funções, essencialmente, cada um faz uma coisa.
Mas essa organização entre funções de ataque, defesa e times especiais não era comum há algumas décadas. Nas décadas de 1930 e 1940, era comum ver times com poucos jogadores, o que indicava que os mesmos que atacavam tinham que defender (e vice-versa). O exemplo mais icônico disso foi Bob Waterfield, que atuou pelo Cleveland/Los Angeles Rams entre 1945 e 1952. Na época, Waterfield era considerado um dos melhores quarterbacks, defensive backs, punters e kickers da NFL. Cerca de 20 anos depois, os elencos passaram a contar com mais atletas e esse rodízio acabou parcialmente. Parcialmente porque ainda era possível ver quarterbacks realizando chutes e linebackers atuando na linha ofensiva – essas múltiplas funções só acabariam de fato em meados da década de 1970.
Kickers puros e precisos
Como adiantado no item acima, kickers puros (ou seja, aqueles que só têm a função de realizar chutes) não eram comum há algumas décadas. E mais: a precisão dos chutadores também sofreu uma considerável alteração atualmente.
Em 1974, a porcentagem de acerto dos field goals da NFL foi de 60,6%, valor cômico se comparado aos 84,5% da temporada passada – e saiba que a distância dos chutes era mais curta no primeiro caso do que no segundo. Por curiosidade, o pior aproveitamento em FGs de 2017 foi o Los Angeles Chargers, com 66,7%.
Motivos para tanta diferença: o esporte em geral evoluiu, o que significa que treinamentos, estudos e métodos da posição se desenvolveram para melhor. Além disso, os gramados da NFL estão melhores e mais apropriados para os chutes, os estádios muitas vezes são cobertos (evitam a interferência do vento) e as hash marks tiveram suas distâncias encurtadas para o centro, fazendo com que as tentativas fossem mais de partes mais centrais do campo.
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