Quando falamos em esportes coletivos, apesar das variações que acontecem temporada após temporada, é comum atrelarmos “características básicas” a determinados times. Em outras palavras, algumas equipes, por aquilo que fizeram com extrema excelência em algum momento de suas histórias, ficam marcadas essencialmente por algo.
Um exemplo claro disso é o Baltimore Ravens e seu sistema defensivo.
Claro, a defesa dos Ravens fez história na temporada de 2000. Naquele ano, além de terminar o campeonato regular como a melhor da NFL em pontos e nº 2 em jardas cedidas, ela dominou nos playoffs e conquistou o Super Bowl.
Todavia, não pense que foi “apenas por aquele ano” que a equipe de Baltimore ganhou a fama de ter sólidas defesas.
Estamos falando de um time recente, criado em 1995. Ou seja, já disputou 23 temporadas oficiais. Dessas, em 14 (61%) os Ravens tiveram a defesa ranqueada entre as dez melhores da NFL em pontos e jardas permitidas por partida. Isso inclui uma incrível sequência atingindo tais marcas em 11 das 13 temporadas jogadas entre 1999 e 2011. Vale ressaltar ainda que em outros três anos (2007, 2015 e 2017) o time foi Top 10 em pelo menos um dos quesitos.
Em outras palavras, os torcedores de Baltimore estão acostumados a ver sólidas defesas, as quais ficaram marcadas por intensidade, força e técnica.
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Essa tendência em um dos lados da bola, então, precisa estar em pauta nesta offseason. Estamos a basicamente um mês do Draft 2019 e, em um dos níveis defensivos, os Ravens perderam peças importantes.
Até agora, a grande contratação da franquia foi Earl Thomas. O safety ex-Seattle Seahawks tem sido um dos melhores da posição nos últimos anos e chega para complementar uma já sólida secundária: ele estará ao lado de Jimmy Smith, Tony Jefferson, Brandon Carr e Marlon Humphrey. Nada mal.
Baltimore totalizou 12 interceptações e 89 passes defendidos em 2018 e, ao que tudo indica, está em posição de manter, e possivelmente melhorar, tais estatísticas nesta temporada.
Em contrapartida, o mesmo talvez não possa ser dito para o front seven do time, mais especificamente o pass rush.
Os Ravens tiveram 86 tackles para perda de jardas, 43 sacks e 104 hits em QBs em 2018. Desses, 29, 16 e 42, respectivamente, foram resultado da produção do trio Terrell Suggs, Za’Darius Smith e C. J. Mosley. Mosley, o mais tímido entre os três nesses quesitos, foi ainda o líder de tackles da equipe.
No entanto, eles vestirão cores diferentes em 2019, dois deles com enormes contratos longe de Maryland. Suggs vestirá o vermelho do Arizona Cardinals. Smith o verde do Green Bay Packers. E Mosley o verde do New York Jets.
Adicionalmente, o versátil defensive lineman Brent Urban ainda não renovou com a organização. Ou seja, é free agent neste momento.
Isso deixa os Ravens, que ainda pouco se preocuparam em complementar o front seven apesar das saídas, com dúvidas no setor.
De fato, os defensive tackles titulares Brandon Williams e Michael Pierce seguem em alta; ambos formam uma das melhores duplas de DTs na atualidade. O maior problema pode ser o que estará ao lado deles.
Com a saída dos pilares Mosley e Suggs e da grata surpresa no pass rush, Smith, a escalação principal dos Ravens neste momento tem Tim Williams como o edge rusher mais talentoso. Williams tem duas temporadas de experiência na NFL, nas disputou um total de 15 confrontos, obtendo dois sacks. Ainda falta experiência e desenvolvimento para o ex-Alabama no nível profissional.
Williams, aliás, foi um dos três linebackers/defensive ends selecionados pelos Ravens nas três primeiras rodadas de 2017, ao lado de Chris Wormley e Tyus Bowser. Contudo, a evolução deste trio em geral ainda está abaixo do esperado.
O quarto homem da primeira linha defensiva de Baltimore é uma incógnita ainda maior. Urban seria o principal candidato, caso um novo contrato seja articulado. Se não, nomes como Zach Sieler (dois jogos em 2018) e Ejuan Price (não atuou em 2018) podem devem ser mais acionados. Inclua o versátil Wormley nessa lista.
No grupo de linebackers, o qual é liderado por Patrick Onwuasor, aparentemente Matt Judon se firmará de fato após uma interessante temporada. Espere ver também mais participação de Kenny Young depois de um 2018 terminando como nº 5 do time em tackles como calouro. Completando o setor, apostas devem continuar nos LBs Chris Board e Bowser.
Ao todo, Williams, Sieler, Price, Wormley, Onwuasor, Young, Board e Bowser tiveram 12 sacks na temporada passada. Judon melhora esse valor com os sete sacks protagonizados, porém, ainda assim, é muito pouco para um front seven inteiro.
Tenha em mente também que quatro desses jogadores não foram titulares em momento algum durante 2018, o que pode ser um outro agravante diante das novas circunstâncias dos Ravens.
A boa notícia em Baltimore é que o Draft 2019 tem defensive linemen e edge rushers como peças principais. Esta é uma classe que pode (e deve) colocar cinco nomes de tais funções no Top 10, incluindo provavelmente os dois prospectos melhores ranqueados deste ano. Algo do tipo 20 DLs/edge nas primeiras duas rodadas deve acontecer. 15 deles na primeira rodada seria algo “estranho”, entretanto, não inviável pelo potencial em questão.
Os Ravens têm a 22ª escolha geral no Draft 2019. Por mais um ano, será interessante ver o comportamento do time no recrutamento levando em conta o melhor nome disponível e as necessidades do elenco.
O ataque precisa de wide receivers. Todavia, a chegada de Lamar Jackson mudou a essência do sistema ofensivo, apoiando-se primeiramente no jogo corrido. Então, um futuro running back ou um sólido bloqueador também são sensatos.
Até o dia 26 de abril, o Baltimore Ravens se reuniu com 14 prospectos, dos quais metade são de posições do front seven, sendo a maioria pass rushers.
Lembrando que Baltimore não tem escolhas de segunda rodada em 2019 até o momento, voltando a recrutar no terceiro round após o primeiro dia do draft.
Desta maneira, até mesmo uma troca não deve ser descartada. Ganhar algumas escolhas de segunda e terceira rodada neste caso pode ser válido.
São muitas opções interessantes. Necessidades, idem. Escolhas disponíveis nem tanto.