Ainda que de forma modesta, o futebol americano (FA) está ganhando cada vez mais adeptos no país do futebol da bola redonda. Este é o ano de estreia da primeira liga nacional unificada do esporte no Brasil, em uma disputa que reúne 30 equipes de várias partes do país. Para incentivar o fortalecimento da modalidade em terras tupiniquins, os clubes têm apostado na contratação de especialistas estrangeiros, sejam eles treinadores, coordenadores e jogadores.
Motivado pelo sonho de expandir a carreira profissional, o quarterback (QB) estadunidense Casey Frost, de 30 anos, aceitou a proposta de defender o Corinthians Steamrollers, em 2010. O atleta, que se destacou no futebol americano atuando pela Universidade de Darthmouth (Darthmouth College, instituição que disputa a renomada Ivy League), ficou três anos no clube paulista até ser contratado por equipes de mais destaque.
Em 2013, Frost defendeu o São Paulo Storm e, entre 2014 e 2016, vestiu as cores do Flamengo Futebol Americano. Depois disso, ele foi contratado pelo Juiz de Fora Imperadores, da Zona da Mata mineira. Além da contribuição em campo, KC, como também é conhecido, ganhou empatia do público e, atualmente, as camisas que levam o nome dele são as mais vendidas do clube. “O jogo para o espectador é mais interessante e divertido com jogadores que têm toda bagagem de fora porque o jogo acontece outra velocidade”, analisa o QB.
Importância
Os números mostram a entrada dos estrangeiros no país visando o futebol americano, sendo americanos a maioria deles. Nomes como Nic Harris e Demetrin Veal, jogadores que já atuaram pela Liga Nacional de Futebol Americano (NFL), nos Estados Unidos, puxam a lista de estrangeiros com passagem pelo futebol americano disputado no territória brasileiro.
O Sada Cruzeiro Futebol Americano, de Belo Horizonte, é um dos times que mais vêm se destacando nesse processo. O clube, que estreou no ano passado e ainda está invicto na trajetória pela BFA (Brasil Futebol Americano, que é o principal campeonato nacional da modalidade), trouxe o head coach Daniel Levy, de 33 anos, para comandar a equipe. Levy tem mais de 20 anos de experiência no futebol americano e já trabalhou com o esporte em outros seis países. Ele iniciou sua passagem pelo Brasil em 2014, quando comandou as equipes do Coritiba Brown Spiders e Vila Velha Tritões.
O treinador nascido em Alexandria, no Estado americano da Louisiana, destaca que a chegada de americanos é de suma importância para o crescimento do futebol americano no Brasil. “Isto é futebol americano, nós inventamos o esporte. Eu acho que se você está procurando um lugar para encontrar conhecimento, este (EUA) é o primeiro país para o qual você deve olhar. Isso seria como um jogador brasileiro de futebol que vai para os Estados Unidos ensinar como jogar futebol”, afirmou.
Quem lidera esse projeto do Sada Cruzeiro Futebol Americano é o atual presidente do clube, Wesley Oliveira. Ele também ressalta a importância de haver americanos trabalhando com o esporte no Brasil: “Não tem como elevar o nível do futebol americano no Brasil se não tivermos contato com eles (os americanos) em nossa comissão técnica”, conclui.
De acordo com uma pesquisa feita pelo jornal inglês “The Independent” em 2015, o Brasil é o terceiro país com mais fãs de futebol americano declarados do mundo, com 7,21 milhões de pessoas, depois dos Estados Unidos e México, respectivamente. Além disso, o FA no território brasileiro também se destaca pela utilização de grandes estádios para alguns jogos e o público que recebem.
Desafios
Para os profissionais ligados ao esporte da bola oval em termos nacionais, existem desafios que atrapalham e impedem o futebol americano de se tornar uma realidade ainda mais presente entre os brasileiros.
Casey Frost alega que a incorporação de um esporte que não faz parte da cultura brasileira talvez seja o maior obstáculo nesta situação. “No Brasil, não há o reconhecimento por parte das empresas e patrocinadores do quanto o futebol americano poderia ser utilizado para melhorar sua imagem, para demonstrar e fazer bons exemplos”, comenta.
A falta de bagagem e conhecimento sobre o FA no Brasil ainda dificulta a popularização do esporte entre os brasileiros. O QB do Juiz de Fora Imperadores destaca que a imprensa, principalmente a televisiva, precisa ser treinada para divulgar a modalidade de uma forma interessante, repassando os principais lances de uma partida, por exemplo. “Nas matérias, eles pegam uma corrida de duas jardas, em que o cara pega a bola e cai. Isso não dá uma noção de quanto de espetáculo o jogo tem”, relata Frost.
Para suprir esse vazio na mídia tradicional, a BFA aposta nas plataformas digitais para divulgação do campeonato. Na fan page da liga são divulgadas notícias sobre os jogos e algumas partidas também são transmitidas online. Por trás da equipe do Sada Cruzeiro FA, Oliveira conta com o apoio de um jornal, que pertence ao mesmo grupo do time. Assim, os jogos do time são transmitidos, ao vivo, via Internet, no site do jornal e nas redes sociais do time.
O presidente cruzeirense Wesley Oliveira reconhece o impacto da mídia virtual no cenário do futebol americano nacional. Seu uso no FA do Brasil vem criando símbolos do esporte no país e incentivando o reconhecimento das equipes. “Hoje nós temos atletas que vão passear no shopping e as pessoas pedem para tirar foto com eles”, explica Oliveira.
*Matéria feita por Caio Miari e Pablo Nascimento, para a disciplina de Comunicação e Conjuntura Internacional, da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG). Revisão: Ana Maria Rodrigues.
**Foto da capa: Pablo Nascimento.