O Super Bowl LIII vencido pelo New England Patriots coroou mais um herói entre as conquistas da franquia. Desta vez, Julian Edelman foi nomeado o MVP da decisão, merecidamente. Ele não marcou o único touchdown da partida, é verdade, porém foi o melhor jogador dos Patriots no pior momento do time na partida. A confiança que Edelman passou a Tom Brady na primeira metade do embate fez toda a diferença após o apito final.
O jogador mais valioso do SB LIII, então, agora tem três anéis, nos quais ele foi importante em todos. Além disso, as estatísticas estão a favor de Edelman se levarmos em conta a pós-temporada. Olhando apenas em Super Bowl, idem.
Esse contexto, então, despertou o debate — pois existe, de fato, a possibilidade real para tal: Julian Edelman é um hall of famer?
Abaixo, você, leitor, confere os argumentos em prol do camisa #11 em Canton, bem como minha opinião sobre a situação.
Por que Julian Edelman pode chegar lá
Quatro Super Bowls disputados. Três Super Bowls vencidos. Um MVP de Super Bowl. Nº 2 da história dos playoffs da NFL em recepções e jardas recebidas — atrás apenas de… Você sabe quem.
Ao todo, Julian Edelman disputou 18 partidas de pós-temporada na carreira. Nessas, totalizou 115 recepções, 1.412 jardas e cinco touchdowns. Olhando apenas em Super Bowls, apesar de estar no elenco cinco vezes em que New England chegou ao Grande Jogo, Edelman participou de fato em três decisões — e seus números indicam o quão importante ele foi para os Pats. 24 recepções, 337 jardas e um touchdown.
Os anos em que o wide receiver não foi titular na final foram 2012 (vs Giants), ele apenas retornava chutes na época, e 2017 (vs Eagles), pois estava lesionado.
Adicionalmente, é preciso olhar além dos números para entender o legado de Edelman no futebol americano. No primeiro Super Bowl que foi titular, contra os Seahawks, ele recebeu o touchdown que virou o jogo para New England e, mais tarde, configurou-se como o TD da vitória. Antes disso, na rodada divisional, vale lembrar que ele lançou um TD de 51 jardas para Danny Amendola diante dos Ravens, o qual foi de suma importância para a reação dos Patriots na ocasião.
No Super Bowl LI, diante dos Falcons, Edelman protagonizou uma das grandes recepções da história da NFL. Nem mesmo os replays explicam como o camisa #11 evitou que a bola tocasse o chão em meio a vários defensores de Atlanta.
Por fim, no Super Bowl LIII, ele teve mais que a metade das jardas aéreas do New England Patriots (141), em dez recepções. Dessas, oito foram first downs. Edelman foi, de longe, o melhor recebedor de New England nos playoffs 2018, diga-se de passagem.
Mas isso não deveria ser o suficiente para ele
Edelman é o recebedor mais produtivo da maior dinastia da história da NFL quando o assunto é pós-temporada. O que é algo incrível, visto que nomes como Randy Moss, Wes Welker, Deion Branch, Rob Gronkowski, passaram por lá. Três anéis, com um MVP e contribuição direta em todas as conquistas, também é algo “de tirar o chapéu”.
Todavia, estamos falando de Hall da Fama.
Na carreira, Edelman esteve saudável por 16 jogos em uma temporada apenas duas vezes. Em dez temporadas profissionais, o camisa #11 só teve mais que 65 recepções quatro vezes. E ultrapassou as 1.000 jardas recebidas em metade desse valor. A maior marca de touchdowns em um campeonato? Sete, em 2015, ano em que teve possivelmente seu melhor desempenho geral, porém disputou somente nove jogos.
Tudo isso indica que, hoje, o argumento para colocar Julian Edelman no Hall da Fama aponta para “imortalizarmos” um recebedor que tem, na carreira, 499 recepções, 5.390 jardas e 30 TDs. Não dá.
Sim, os números de Edelman em playoffs, especialmente em Super Bowls, são sólidos. No entanto, não se esqueça que ele faz parte da maior dinastia da história do futebol americano. Ter Brady lançando a bola, Gronk como companheiro de ataque e Bill Belichick nas sidelines ajuda muito alguém com aptidão para a posição de wide receiver, como Edelman. Mas um hall of famer vai além disso.
Pensar no atual Julian Edelman no Hall da Fama vai na contramão daquilo que considero um hall of famer. Longevidade, consistência nas estatísticas, impacto como um todo e legado completo. Por mais decisivo, confiável e sólido que Edelman vem sendo em sua carreira quando mais importa, ele não completa inteiramente nenhum desses quatro itens.
Ah, e Edelman nunca foi para o Pro Bowl, tampouco ao All Pro Team da NFL.
O que a história diz
Não é absurdo dizer que o caso de Julian Edelman é quase que sem precedentes. Se considerarmos as épocas de cada recebedor, é difícil encontrar alguém nos mesmos padrões de Edelman. Estatísticas decentes em temporada regular, carreira marcada por múltiplas lesões (e uma suspensão de quatro jogos), mas ao mesmo tempo por sucesso em pós-temporada.
Lynn Swann, ex-Pittsburgh Steelers, talvez seja o mais parecido. Swann teve uma carreira curta, de nove temporada (1974-1982). E ele se aposentou totalizando 336 recepções, 5,462 jardas e 51 touchdowns. O que potencializou o nome do camisa #88 foi, sem dúvidas, os quatro títulos conquistados, nos quais ele foi de suma relevância ao ataque comandado por Terry Bradshaw. Swann está no Hall da Fama.
Contudo, repare que a média de jardas e, principalmente, touchdowns de Swann são consideravelmente melhores. Anotar 51 TDs nas década de 1970 na NFL era diferente — bem mais difícil — do que marcar 30 vezes nos anos 2010. Ademais, além do MVP do Super Bowl X, Swann foi a três Pro Bowl três e um All Pro Team principal. Ele entrou para o tíme da década da liga nos anos 70, vale ressaltar.
O caso de Edelman também chegou a ser comparado ao de Fred Biletnikoff, ex-Oakland Raiders (1965-1978). Mas tenha em mente que Biletnikoff se aposentou com quase 600 recepções, 9.000 jardas e 80 TDs na carreira. Ainda mais que Swann para os Steelers, Biletnikoff era uma certeza para os Raiders. Além disso, ele pendurou as chuteiras com seis idas ao Jogo das Estrelas e um MVP de Super Bowl, em duas finais vencidas.
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Como citado, Julian Edelman não completa nenhum dos quatro quesitos que considero básicos para um hall of famer. Quando estamos falando de Canton, títulos são importantes. Entretanto, a carreira como um todo é crucial, principalmente quando estamos tratando de recebedores.
Jonathan Jones, em um artigo escrito para o site da Sports Illustrated, destacou um ponto interessante. Reformulei a ideia do autor nos próximos três parágrafos.
Tenha em mente que Isaac Bruce, Torry Holt, Steve Smith, Reggie Wayne, Hines Ward e Calvin Johnson já se aposentaram. Todos estão à frente de Edelman pelo busto dourado.
Ademais, cedo ou tarde, nomes como Larry Fitzgerald, Antonio Brown e Julio Jones pendurarão as chuteiras. E aqui são outros três nomes que, evidentemente, são superiores no debate.
Sem falar que, Odell Beckham Jr. e DeAndre Hopkins, os quais devem se aposentar na mesma época que Edelman, terão chances reais de sonhar com Canton dependendo do que acontecer nos próximos anos.
A lista de wide receivers com uma carreira para Hall da Fama acima de Julian Edelman é grande. E, mesmo se não fosse, por enquanto a resposta é não.