Não é sempre que um jogador da National Football League consegue nos provar que ele é o melhor da história em algo em menos de seis temporadas. Quando isso acontece, algo anormal (que no esporte gosto de chamar de especial) está acontecendo. Sim, esse foi o começo da carreira da Michael Vick na NFL. Queria estar aqui neste momento escrevendo que seu fim no futebol americano profissional manteve o mesmo padrão, mas…
O caso de Michael Dwayne Vick na NFL é um dos mais intrigantes de todos os tempos. Muitos o amam; muitos o odeiam. Na verdade, a maioria faz essas duas coisas ao mesmo tempo. Sua carreira teve três partes, as quais são as mais diferentes possíveis. Ele foi de um dos maiores fenômenos que o esporte já viu, a criminoso e depois um quarterback qualquer, dentro e fora de campo. “Quem é rei, não perde a majestade”, certo? Mas então o que aconteceu com Vick? Do começo ao fim, a história de Michael Vick ligada à NFL foi alarmante, sorte (e azar também) nossa de ter acompanhado isso.
Desta forma, e pegando o gancho da sua aposentadoria do futebol americano (ele assinou um contrato de um dia com os Falcons para se aposentar pela franquia), decidi falar um pouco mais de um dos quarterbacks mais emblemáticos que o mundo já viu.
Afinal, quem é Michael Vick?
Você provavelmente já sabe quem é Michael Vick, superficialmente falando, e que ele entrou à NFL em 2001 como jogador do Atlanta Falcons. Ele foi a primeira escolha geral daquele ano, vindo da Universidade de Virginia Tech. Desde os tempos de college football, Vick impressionava pela força dos seus lançamentos e, principalmente, pela capacidade que tinha de correr com a bola. Não à toa, os recordes de mais jardas terrestres em uma temporada e na carreira de um quarterback profissional, pertencem a ele. Diga-se de passagem, ele é o único QB na história da liga a conseguir correr para mais de 1.000 jardas em um ano.
Na National Football League, ele defendeu o Atlanta Falcons (2001-2008), o Philadelphia Eagles (2009-2013), o New York Jets (2014) e o Pittsburgh Steelers (2015). Em todo esse tempo, Vick sempre dividiu opiniões. Ao mesmo tempo que alguns de seus lances dentro de campo faziam valer o ingresso de cada torcedor, seu comportamento fora das quatro linhas era muito questionado (falei mais sobre isso no tópico abaixo). Brigas, drogas, roubos, polêmicas… Principalmente entre 2004 e 2007, ano em que o jogador encontrou o “fundo do poço”, era inevitável olhar para Michael com a bola de futebol americano nas mãos e não lembrar que ele estava rodeado por incertezas.
Desta maneira, em praticamente 15 temporadas como profissional na NFL, Michael Vick totalizou 61 vitórias, 51 derrotas e um empate. Além disso, esteve no Pro Bowl em quatro ocasiões e recebeu o prêmio de Comeback Players of the Year em 2010. Ele pendurou as chuteiras com 22.464 jardas e 133 touchdowns lançados, e 6.109 jardas e 36 TDs corridos. Ademais, vale ressaltar que ele liderou Falcons e Eagles à final da Conferência Nacional, tendo sido derrotado em ambos os confrontos.
Um fenômeno para correr com a bola e um quarterback que perceptivelmente estava acima da média da história do futebol americano na posição… Um pena que não podemos definir Michael Vick apenas com essas palavras.
A fama de “Bad Boy”
Definitivamente, Michael Vick não era o quarterbacks dos sonhos para a National Football League. Em uma geração que a liga encontra tantas dificuldades para lidar com seus problemas, tudo o que estava por trás do ex-camisa #7 nunca seria em vão. E nem deveria.
Como adiantado, ao mesmo tempo que poderia ficar aqui por umas 5 mil linhas falando de coisas boas da carreira de Vick, poderia falar pelo que ele ficou marcado negativamente. Em 2004, foi detido na Virginia pela distribuição de maconha. Em 2006, foi multado pela NFL por fazer gestos obscenos à torcida dos Saints. Em 2007, tentou esconder substâncias ilegais. Esses foram apenas os principais acontecimentos negativos da carreira de Michael Vick antes do pior acontecer.
No segundo semestre de 2007, Michael Vick foi acusado de organizar e apoiar brigas de cães – as rinhas -, incluindo alguns em estados graves de saúde, na garagem da casa de sua família em Newport News, na Virginia. Seu próprio pai deixou de negar o envolvimento do então jogador da NFL nessas brigas, dizendo que ele ao menos dava continuidade à essa atividade quando tinha a oportunidade. Este caso tomou conta dos noticiários americanos, foi a julgamento estadual e condenou M. Vick a três anos de prisão, com possibilidade de diminuição da pena por bons comportamentos. Ele ficou dois anos preso.
Sua prisão foi o estopim, logicamente, para todos os seus críticos – que não era poucos. Além disso, até aqueles que tentavam estar do lado do quarterback, perceberam que ele não agia certo fora das quatro linhas. A imagem de Vick estava manchada. Muito mais que correr/lançar contra 11 defensores, ele deveria confrontar (mesmo que indiretamente) milhões de pessoas, em termos sociais.
Sua “segunda” chance
Depois de 2008, os Falcons decidiram cortar Michael Vick e, lembro-me como se fosse ontem, as discussões na época se voltaram para onde o quarterback iria jogar – ou até mesmo se ele voltaria a atuar na NFL. Vários destinos foram especulados para ele, incluindo a Arena Football League e a Canadian Football League. Mas ele queria uma nova chance na NFL, para mostrar que estava diferente e que definitivamente havia aprendido com seus erros. Diga-se de passagem, mentalmente, aquele era a melhor fase da carreira dele, sem dúvidas.
Assim sendo, o Philaldephia Eagles, por um contrato valendo apenas US$ 1,6 milhão, decidiu dar uma chance ao “novo” Michael Vick. E quem diria que ele, pelo menos em partes, estaria no topo da NFL novamente. Após um começo como backup na Philadelphia, Vick recebeu novas oportunidades para jogar e as aproveitou muito bem. Tanto que, em 2010, ele terminou a temporada com um rating acima dos 100, tendo lançado para 21 TDs e apenas 6 INT. Naquela ocasião, em 11 partidas que foi titular, terminou com retrospecto 8-3. Lançamentos extremamente potentes, corridas espetaculares, jogadas inacreditáveis: o velho Michael Vick não estava ali, porém o novo parecia estar muito mais contente em jogar futebol americano, e com um talento incrivelmente inconfundível.
2010 foi um ano tão bom para Vick que os Eagles criaram o seu “Time dos Sonhos” na temporada seguinte. O elenco da equipe era o melhor da liga na teoria e, sem dúvidas, isso não seria configurado se não fosse por um quarterback realmente competitivo. Aquela temporada, todavia, não saiu como o esperado nem para a franquia e nem para o jogador. Ambos decepcionaram e um novo capítulo brilhante de Michael Vick na NFL acabou sendo encurtado.
Um desfecho não merecido
Entre 2011 e 2013, ainda pelo Philadelphia Eagles, Michael Vick não foi bem. Ele sofreu com algumas lesões, não conseguiu se firmar como titular por muito tempo e sua produtividade baixou consideravelmente. Portanto, ele acabou saindo dos Eagles e a cena de Vick encerrando sua carreira estava novamente em pauta – desta vez bem mais atenuada. Ele ainda teve passagens por Jets e Steelers, mas que terminaram apagadas. Nesses destinos, o QB raramente foi titular e, além de amargar o banco de reservas, viu as lesões serem obstáculos mais uma vez. Seu último jogo foi em outubro de 2015, por Pittsburgh, na semana 6, já que ele não atuou no ano passado devido à outra lesão. Contudo, engana-se quem pensa que ele se aposentou nos Steelers. Como introduzido no começo deste texto, mesmo que por apenas algumas horas, ele retornou aos Falcons, para terminar onde tudo começou.
Tenho a certeza que a carreira de Michael Vick não terminou como deveria. Isso, é claro, levando em conta a forma como ela começou. Vick pendurou as chuteiras em baixa, sofrendo com lesões, sendo back up a maioria das vezes e com pouco interesse das franquias por ele. Tudo isso para um quarterback que é considerado o melhor correndo com a bola que a NFL já viu tendo atuado os 16 jogos da temporada apenas uma vez na carreira.
Gosto de definir Michael Vick como uma tempestade, algo muito forte, que faz estragos e que tem um fim, não importe o tempo que tenha durado. Mas as tempestades podem voltar e, por mais que não sejam as mesmas nas outras vezes, pelo menos conseguem nos lembrar da anterior.
Vimos Michael Vick retornando a Atlanta para se aposentar e, se sua carreira, a qual foi marcada especialmente pelo que ele fez por lá, foi relacionada à uma tempestade, seu breve retornou à Georgia pode ser diagnosticado como um “céu escuro”, que nos induz a pensar que uma forte chuva está por vir. Infelizmente, a única certeza que temos neste momento é que Atlanta não terá mais uma tempestade – não como aquela.
O que mais lhe chamou atenção na carreira de Michael Vick? Mande sua opinião para nós nos comentários ou pelas redes sociais!
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