Quarterbacks com 5.000 jardas aéreas, 40 touchdowns, 700 jardas corridas… Running backs “obrigados” a ultrapassarem as 1.000 jardas terrestres, as 3,5 jardas por corrida e a receberem passes. Para ser um bom wide receiver, basta ser rápido?! Tight end? Ah, esses não devem saber apenas bloquear e receber passes de cinco jardas. Os tempos são outros. Os melhores TEs da atualidade são aqueles super atléticos e que de preferência possam se posicionar em qualquer lugar do campo.
Temos ainda linebacker atuando de safety, ou vice-versa; kicker sendo apenas kicker, punter sendo apenas punter. Os retornadores de chute também têm ganhado uma categoria especial na lista de posições da NFL, sendo que muitos deles são específicos para cada tipo de chute. Contrato de US$ 100 milhões, que há algumas décadas era algo impensável no mundo do futebol americano, hoje já faz parte da conta de jogadores que nem são quarterbacks.
Assistir aos jogos agora, algo que mundialmente falando já foi complicado, estão sendo transmitidos via Twitter, para quem quiser. Ah, e não podemos nos esquecer do Color Rush, do Outubro Rosa, dos dois pés dentro de campo com o domínio da bola, das constantes relocações das franquias, das interferências de passe… Enfim.
A National Football League (e todas suas ramificações) que estamos acostumados a ver na atualidade, nem sempre foi assim. Pelo contrário. Houve tempos em que 3.000 jardas era algo absurdo, 25 touchdowns um recorde e bastava um pé dentro do gramado com a posse do lançamento para que uma recepção fosse validade. Houve uma época em que a bola não era tão oval; que as jerseys não tinham nomes e números; que os capacetes eram de couro e nem máscara tinham. Um pouco mais tarde, ainda valia puxar a máscara do capacete. E que tal pagar um dólar para ir ao estádio?
LEIA TAMBÉM: O que faz o futebol americano ser um esporte fantástico
A história da NFL, uma das maiores ligas do mundo, é marcada por diversas transformações. De transformações atrás de transformações, melhor dizendo, tenham sido elas necessárias ou não – algo que não vem ao caso neste momento. O ponto aqui é descobrir, analisar, conhecer, desmembrar e, acima de tudo, entender porquê e como a National Football League se tornou isso que estamos acostumados.
Com isso em mente, eu (Caio Miari), mediado pela offseason, período em que os assíduos fãs de futebol americano quase enlouquecem com a ausência da NFL aos domingos, decidi fazer uma “série” sobre a história da Liga Nacional de Futebol Americano. Este quadro, que começa já neste texto com o capítulo “Como tudo começou”, será dividido em dez textos, sendo que será postado um por dia. Em outras palavras, diariamente, falaremos sobre um período (década) da NFL, até chegarmos nos dias mais recentes deste esporte.
É importante ressaltar que esta série não irá funcionar como um livro de história, nada disso. Será algo mais “descontraído”, digamos assim; muito mais como um relato (englobando os fatos mais importantes) do que qualquer outra coisa. Desta forma, não preciso nem dizer que não haverá necessariamente um esquema com as datas, contando tudo o que aconteceu ano após ano. Mais uma vez: estaremos em uma conversa, falando sobre a história do futebol americano.
Entenda um pouco mais sobre os motivos que fazem do futebol americano o melhor esporte do mundo!
Como tudo começou: o nascimento da NFL (1920)
Já imaginou se os jogadores da NFL na atualidade trocassem de time semanalmente? E se um atleta universitário jogasse pela sua faculdade no sábado e um dia depois estivesse no futebol americano profissional? Como seria se o livro de regras da liga não fosse totalmente definido e as normas entre as partidas pudessem variar (nos pequenos detalhes, é claro)? E se a National Football League começasse uma temporada com 32 times mas poucas temporadas depois 25 desses deixassem de existir?
Pode parecer algo imaginável, mas acredite, houve um período em que os fatos mostrados acima aconteciam no futebol americano profissional. Mais especificamente falando, na primeira década do ano de 1900. Isso tudo se dava pela ausência de um órgão superior capaz de organizar todos esses detalhes, afinal, o futebol americano estava longe de ser o esporte preferido nos Estados Unidos e, pela falta de vários recursos (de diversos segmentos), podemos dizer que era desinteressante para grande parte dos Executivos da época gerir um campeonato da bola oval.
Entretanto, em agosto de 1920, em Canton (Ohio), um homem chamado Ralph E. Hay, que na época tinha pouco mais de 30 anos, começou a mudar os rumos disso que chamamos hoje de National Football League. Hay era o proprietário do Canton Bulldogs, um dos melhores times daquele período. Sentindo a falta de um campeonato mais organizado e competitivo, Ralph Hay conseguiu se unir com os representantes de outros três times de Ohio, o Akron Pros, o Dayton Triangles e o Cleveland Indians. Nessa junção, foi criada a American Professional Football Conference (APFC), associação que podemos marcar como a primeira de certa relevância no mundo do futebol americano.
LEIA TAMBÉM: Avaliando as principais transações da Free Agency 2017 (parte 2)
Com algo criado, mesmo que ainda longe do sucesso, representantes de outras equipes de estados vizinhos tiveram interesse de entrar nesta organização um mês depois. Com mais equipes, o nome desta liga passou a ser American Professional Football Association (APFA). Sempre em busca de padrões e algo cada vez mais concreto, a APFC se firmou, durando por praticamente dois anos, até que, por um nome mais “firme”, passou a ser chamada de National Football League (NFL). Isso em 1922.
Todavia, como já sabemos, muitas vezes o mais difícil neste processo não é se tornar grande, mas sim se manter como grande – e este era o primeiro (e podemos dizer principal) desafio da NFL; foi assim por muito tempo, aliás, como veremos em outros capítulos.
Com isso em mente, a nova liga precisava ganhar, acima de tudo, reconhecimento e atenção dos americanos. Assim sendo, ele decidiu que Jim Thorpe (foto de capa), jogador dos Bulldogs na época e que já havia conquistado dois ouros nos Jogos Olímpicos de 1912 (Pentatlo e decatlo), seria o presidente da organização. Diga-se de passagem, relatos daquele tempo indicam que Thorpe era o nome mais propício para tal função. Mas enquanto o lendário jogador acrescentava muito internamente para a NFL, especialmente em termos de público nos estádios, seu trabalho externo não saiu como o esperado, e a parte financeira da liga ainda preocupava. Para se ter uma noção, fontes já declararam que Jim chegou a faltar da reunião anual da National Football League diversas vezes.
Desta forma, os proprietários dos times decidiram que Jim Thorpe não estaria mais no cargo; era a vez de Joe Carr. Carr, enfim, parecia ser o que a NFL tanto esperava de um executivo: ele era um escritor esportivo, um dos diretores de times das ligas menores do beisebol e já havia influenciado no surgimento do basquetebol profissional. Além de tudo isso, Joe Carr chegou até a fundar uma equipe de futebol americano.
Com a casa organizada, o próximo passo era firmar a National Football League pelo território americano. E existe alguma maneira melhor que isso do que fundar uma equipe na maior cidade do país? Sim, tudo começou quando a liga concedeu uma franquia a Tim Mara, homem que fundou o New York Giants logo em seguida. Estamos falando de agosto de 1925, para deixar claro. 1925, aliás, é considerado por muitos como o ano mais importante da história da NFL. Continuando a história: três meses depois, foi a vez do Chicago Bears entrar em cena ao assinar com o halfback (de um modo geral, o running back) Red Grange, um dos melhores jogadores do college football naquela época.
Em meio à crises financeiras e demais incertezas internas das equipes mais novas, ainda em novembro daquele ano, os Bears enfrentaram os Giants, em Nova Iorque, no Polo Grounds. E o confronto foi um sucesso. Praticamente 73.000 fãs estiveram naquele jogo (por muito tempo, este permeou como o recorde de público em uma partida de futebol americano) para ver Grange em ação diante da recém-fundada franquia novaiorquina – o placar final foi 19-7 Chicago. Apesar do que estava em campo naquela tarde, foi fora das quatro linhas que veio a maior consequência daquela partida: o valor arrecadado nas arquibancadas excluiu qualquer chance de falência dos Giants, garantindo a permanência da franquia na National Football League.
Depois de alguns anos, a NFL podia respirar, e pensar nos próximos passos a serem tomados.
Fatos/curiosidades da época
- De acordo com o Pro Football Hall of Fame, durante a década de 1920, 49 franquias diferentes competiram pela NFL. Porém, no fim desta década, apenas 12 times permaneceram na liga;
- Chicago Bears, New York Giants e Green Bay Packers foram fundados naquele período e até hoje permanecem ativos;
- Na década de 1920, a bola usada nas partidade de futebol amercaino ainda era “arredondada”, diferente do formato que estamos acostumados. A atual forma desta bola começou a ser projetado e usado nos anos 1930.
Fontes: Wikipedia, Pro Football Hall of Fame, History.com, The Official Treasures of the NFL.
(Capítulo II) National Football League (NFL): A década de 1930 – no site em 14/03
Gostou do texto? Não esqueça de compartilhá-lo! Entre em contato conosco pelas nossas redes sociais, deixando seu comentário e opinião sobre o assunto.
–
Siga-nos no Twitter @ShotgunFA
Curta no facebook.com/shotgunfootball