Quem gosta de esportes (na maioria dos casos) não consegue explicar o que os deixa tão vidrados, emocionados, comovidos e perplexos com os grandes jogos, lances, recordes, títulos e conquistas. E realmente é complicado. Especificamente falando, se você acompanha regularmente a NFL (ou o futebol americano como um todo) sabe do que eu estou falando. Demorei bons meses escrevendo esse texto e, como torcedor, achei-o necessário. Vale cada interpretação e opinião. Vale também uma comemoração e marco de estreia da temporada do futebol americano em 2017.
Já parou para pensar porquê você começou a gostar de futebol americano? Não venha me dizer “um amigo me fez assistir a um jogo e eu nunca mais parei”, ou “ganhei uma camisa por acaso e comecei a assistir”. Essas repostas costumeiras não estão erradas, porém a pergunta não faz referência a isto. A questão é: por que você passou a acompanhar o futebol americano? O que lhe atraiu no esporte? Quais dos vários fatores especiais do football que o fizeram fã incondicional dele?
Receio que seja extremamente difícil concretizar uma resposta para as perguntas do parágrafo anterior e também para o que o futebol americano significa para mim. Imagino que esse seja o mesmo cenário para todas aquelas pessoas que gostam desse esporte, não importa em quais proporções; gêneros e idades muito menos.
Os momentos que antecedem um grande jogo da NFL, como o Sunday Night Football entre duas ótimas franquias, por exemplo, deveriam ser algo estudado mais a fundo. Pela televisão ou no próprio estádio – se você nunca assistiu a uma partida da NFL ao vivo e a cores, vá! Vale muito a pena – a ansiedade que paira é enorme.
Durante as transmissões brasileiras, vemos todos os possíveis protagonistas do espetáculo, sempre com estatísticas e recordes que estão prontos para serem quebrados. E você sabe que estará ali, e poderá contar a qualquer pessoa que assistiu ao jogo em que tal marca fora superada e um determinado jogador entrou para a história.
Quando jogos históricos e lances espetaculares estão sujeitos a acontecer ou marcas prestes a serem batidas, assistir a isso é uma forma de criar e materializar uma história com aquele esporte, time, jogador, etc. dentro de você. Para quem gosta de esportes, isso é incrível. E a NFL, por suas inúmeras peculiaridades, parece que sempre nos remete a isso!
O que me intriga no futebol americano é como ele pode ser visto de maneiras tão diferentes. Por exemplo, como uma guerra. Ou melhor, uma jornada. A maneira como um time começa o jogo e termina ele, é totalmente diferente. Ele passa a estar totalmente adaptado (ou pelo menos tentando) ao que o seu rival ofereceu durante a passagem. A partir do kickoff inicial, cada jogada (ofensiva ou defensiva) passa a ser interessante, por dois lados principais: o momento e a reviravolta. Por mais que em alguns casos demore a acontecer, cada jogada – de qualquer time ou setor – deixa em iminência uma big play.
“Ah, mas o futebol americano é um esporte que tem muitas pausas!” Sim, é. Contudo, veja isso de uma outra perspectiva. Reconheça as paradas como um dos “charmes” desse esporte; charme que, diga-se de passagem, acaba sendo de complexo grau de entendimento para algumas pessoas, incluindo aquelas que tanto o criticam. O futebol americano, nesse contexto, deve ser enxergado como um sistema. Sistema que possui suas peças, funções e efetividade. São as tão criticadas pausas que desenham os rumos de uma partida. Elas auxiliam na maneira de pensar, agir e interpretar o adversário, e é isso que dita o ritmo do seu time e como ele se portará perante os oponentes. Sim, a habilidade técnica, física e psicológica dos atletas é o mais importante a partir do momento em que uma jogada começa a ser executada, todavia, sem as pausas jogadas após jogadas, nada seria tão bem feito.
Se você não consegue aturar de forma alguma as pausa do futebol americano (algo que não é fácil) passe a entendê-las de outra forma: elas introduzem o que estar por vir. Cada vez mais o football está se tornando um jogo de estratégia. Isso mesmo, estratégia!
Voltando ao assunto: os jogos de futebol americano (que são disputados e equilibrados, é óbvio) nos trazem uma expectativa muito grande.
Que as pausas de jogada em jogada, período em período e timeouts em timeouts realmente não são dos maiores atrativos aos meros espectadores, eu concordo. E que nas transmissões de futebol americano de fim de ano no Brasil as paradas constantes se tornam um desafio ainda maior contra o sono, também é fato. Quem nunca “pescou” em algum daqueles intervalos da NFL? Até mesmo os torcedores mais apaixonados dos times e aqueles que trabalham com o futebol americano já passaram por isso. Alguns já prorrogaram o pequeno cochilo até a manhã seguinte, e acabaram acordando assustados e rapidamente pegaram o celular (ou computador) para ver o placar, melhores momentos, etc..
Mas vale admitir: você, que quase não permaneceu acordado naquele “imenso” intervalo de apenas 30 segundos anunciado pelo narrador, deve concordar comigo que valeu a pena! Aos outros, os quais optam por ir dormir logo após o término do segundo quarto, e não confiam tanto em um último período espetacular ou subestimam dois times não muito badalados, tenho certeza que lamentaram por não terem assistido o fim das partidas. Não? Rapidamente me lembro de vários exemplos. Um dos mais claros: Cleveland Browns contra Baltimore Ravens, dois times que jogavam “para cumprir tabela”, semana 12 da temporada 2015. Walk Off bloqueio de Field Goal retornado para touchdown. Você sabe o que é isso? Eu nunca havia imaginado em assistir algo assim ao vivo. Mas o futebol americano – sem preparar um enorme cenário – nos trouxe a isso. Incrível.
Já tentei comparar o futebol americano a outros esportes. Tudo bem, cada um tem seus gostos e aprecia algo diferente. Porém, se você é fã de vários esportes, sabe que o football tem mais atrativos dentro de campo do que qualquer outro. Qual é o momento mais emocionante, de um modo geral, em uma partida de futebol americano? Um touchdown, certo? Mas como descrever, então, a emoção (e empolgação) de uma interceptação retornada para muitas jardas ou de um grande tackle? E que tal um sack em terceira descida? Um fumble espetacular, fielg goal longo para vencer o jogo, bons retornos… A qualquer momento de um jogo, você está sujeito a ver grandes jogadas!
E se compararmos o futebol americano com um bom espetáculo de teatro? No teatro, todos os personagens em cena são importantes. Na o futebol americano, idem. Sem esquecermos, é claro, do brilho peculiaridade dos protagonistas, em ambas as partes. As pausas e intervalos do football seriam, então, as trocas de cenário. Mas e com o que do teatro deveríamos assemelhar o touchdown? E o grande tackle? A pick six? Talvez devêssemos deixar o futebol americano sem comparações no momento. Afinal de contas, ainda não pensei em algo tão único e fantástico quanto este esporte.
Uma boa temporada 2017 a todos!