Já ouviu falar aquela frase corriqueira “Tenho uma boa e uma má notícia!”. Naturalmente, a maior curiosidade tende a ir para a notícia negativa e, pelo menos no meu caso, prefiro ouvi-la primeiro. Pois então, torcedor do Philadelphia Eagles, preciso falar disso com vocês: trago duas notícias para vocês, uma boa e outra má. Qual deve vir primeiro?
Pela ordem cronológica, vamos pela boa novidade: com a vitória sobre os Rams no último domingo, os Eagles garantiram o título da NFC Leste, o primeiro do time desde 2013. A ruim notícia é que o principal responsável por essa ótima campanha de Philly até agora se lesionou e está fora do restante da temporada. É isso mesmo, o quarterback Carson Wentz, que vinha jogando em nível de MVP em 2017, não será o titular do Philadelphia Eagles nas próximas três semanas da temporada regular e, mais importante ainda, no decorrer dos playoffs – lembrando que a franquia não vence em pós-temporada desde 2008. Sem Wentz, o Philadelphia Eagles apostará suas fichas em um velho conhecido da torcida, Nick Foles, que estava no Kansas City Chiefs no ano passado.
Em outras palavras, os Eagles terão em sua liderança um jogador que foi titular uma vez nos últimos 29 jogos possíveis, sendo que, em contraste, tinham possivelmente o mehor quarterback desta temporada. Não será fácil. Particularmente, não estou mais otimista com este time. Reconheço que poderia ser pior (falei mais sobre isso abaixo), mas de qualquer forma é algo que pode “matar” o time inteiro.
Como deve ser o Philadelphia Eagles agora
Nenhum (!) time da NFL atualmente está em posição de perder seu quarterback e, ainda assim, manter o nível de jogo. Não tem como. O último que talvez tenha feito isso foi o New England Patriots em 2008 que, mesmo sem Tom Brady desde a semana 1, terminou aquela temporada vencendo 11 partidas. Mesmo assim, saiba que uma coisa é seu QB titular se lesionar na partida do ano e outra é ele ficar fora há menos de um mês para o começo dos playoffs. Carson Wentz vinha o meu MVP deste ano até agora, e ele fará muita falta ao Philadelphia Eagles.
Sob o comando de Nick Foles, Philadelphia não está em péssimas mãos, verdade seja dita. Foles é um dos melhores quarterbacks reservas da NFL atualmente e, analisando seus números, pode ser que haja motivo para nem tanto desespero. Nos últimos 16 jogos que foi titular, o camisa #9 totalizou 58% de aproveitamento nos passes, 3.229 jardas, 15 touchdowns e 16 interceptações, com oito vitórias. O problema é que para encontrarmos esses 16 jogos que Foles foi titular, precisamos voltar até parte da temporada de 2014, já que no ano passado ele começou só uma vez. Além disso, em 2013 sob o comando de Chip Kelly, ele teve uma das melhores temporadas dos últimos anos. Não é nada brilhante, porém, como falado, poderia ser pior.
Ao mesmo tempo, é preciso reconhecer que o Philadelphia Eagles, mesmo em meio à tantas lesões, tem um dos elencos mais completos da NFL. Poucas equipes da liga em 2017 têm seu sistema ofensivo e defensivo ranqueados como um dos dez melhores do campeonato. Philly é uma dessas. Portanto, pode-se dizer que Nick Foles terá ao seu lado um apoio ideal para uma situação como essas. Ainda assim, não estou confiante para os Eagles a partir de agora, e preciso ver como esses dois setores estarão para voltar a confiar neste elenco.
Foles não é Wentz e, portanto, a linha ofensiva precisa mudar
Atenção para esta estatística: Carson Wentz foi sackado “apenas” 30 vezes nas 13 partidas que disputou, apesar de ter recebido 87 hits (a 7ª maior marca da NFL). Em outras palavras – e quem assiste aos jogos dos Eagles irá concordar com isso –, em muitos jogos Wentz era pressionado mas, por conta de suas rápidas leituras, inteligência e de certa forma mobilidade, ele evitava os sacks, e até conseguia grandes jogadas. Isso não irá acontecer agora. Nick Foles não tem o mesmo ritmo de jogo, habilidade atlética e inteligência que Carson Wentz e, com isso, precisará de mais tempo para lançar a bola.
Não tenho dúvidas que se algo ainda não está “perfeito” no ataque do Philadelphia Eagles, é a linha ofensiva. Contudo, grandes quarterbacks são capazes de fazer seus bloqueadores parecerem melhores (lembra de Peyton Manning em Denver?) – e é isso que Wentz vinha fazendo até então. Porém agora o protegido será outro quarterback. Que precisará de ainda mais tempo para ter qualquer tipo de chance de vencer seus jogos.
LeGarrette Blount e Jay Ajayi não poderão mais ser “corredores situacionais”
A saída de Carson Wentz também deve ter impacto direto no jogo corrido do Philadelphia Eagles, que precisará contar com alugmas mudanças caso queria permanecer com média de 143 jardas por partida, o segundo melhor da NFL. Com Wentz, as defesas adversários relutavam em focar no ataque terrestre dos Eagles uma vez que o camisa #11 poderia fazer estragos em profundidade, por exemplo. Ainda, saiba que Carson Wentz é o 3º jogador de Philly com mais jardas terrestres em 2017 (média superior a 23 jardas por jogo). Nick Foles não deve conseguir fazer isso, nem pelo ar e nem pelo chão.
Os números mostram que o Philadelphia Eagles gosta de correr com a bola, mas faz isso majoritariamente nos últimos períodos das partidas, quando já tem uma vantagem confortável no marcador. No primeiro tempo, por exemplo, Philly corre com a bola em 43,6% dos snaps, o que não é demais para um elenco que deverá focar nesses tipos de jogadas a partir de agora. Além disso, nas últimas cinco partidas, os Eagles não tiveram um running back com mais de 15 tentativas e Jay Ajayi, o principal corredor do time neste período, teve média de apenas 9 corridas por confronto.
Os Eagles têm em média o maior tempo de posse de bola nesta temporada, com 33 minutos e 35 segundos por jogo – e manter essa marca será imprescindível para o futuro do time. Um grupo sem um quarterback de elite costuma precisar de um ataque terrestre sólido do primeiro ao último período para ter qualquer tipo de sucesso. Doug Pederson precisará correr mais de 40 vezes com a bola.
Os Eagles estão “acostumados” a isso? Para Pederson, sim!
Em entrevista coletiva nesta semana, na qual o head coach Doug Pederson oficializou a gravidade da lesão de Carson Wentz, o treinador disse algo que realmente faz sentido para o atual Philadelphia Eagles quando perguntado se o time pode superar a lesão de Wentz.
“É claro que pode, pode sim! Nós superamos (a perda) um left takle de Pro Bowl (Jason Peters). Nós superamos nosso middle linebacker (Jordan Hicks). Nós superamos nosso running back (Darren Sproles). Nós superamos um exímio jogador do time de especialistas neste ano (Chris Maragos). Nosso kicker neste ano (Caleb Sturgis). Isso não é diferente.”
Pederson está confiante em Nick Foles, e é assim que deve ser. Ao que tudo indica, o técnico consegue enxergar perfeitamente que esta é a realidade da NFL e que situações como essa podem acontecer a qualquer momento, com qualquer time. É lamentável, de fato. Porém, os Eagles ainda se encontram em boa posição nesta temporada e têm motivos para seguir acreditando.
A história mostra que Philadelphia ainda pode ter uma esperança
A história não é favorável ao Philadelphia Eagles – e estranho seria se fosse nesta situação, mas ela mostra que outras equipes já fizeram ótimas campanhas em temporada regular, acabaram perdendo seu quarterback titular por lesão, e tiveram que começar os playoffs com outro nome under center.
Desde 1999, o Philadelphia Eagles é o 6º time que vence mais de 10 jogos durante a temporada regular com um quarterback, chega aos playoffs, e terá que disputar o mata-mata sob o comando de outro nome under center. Nas outras cinco últimas ocasiões, nenhum dos QBs substitutos conseguiu vencer. No ano passado, os Raiders terminaram 12-4 com Derek Carr, porém foram eliminados com Connor Cook. Em 2015, A. J. McCarron substituiu Andy Dalton e frustrou os Bengals em mais uma pós-temporada. Há cinco anos, Christian Ponder não teve seu trabalho concluído com sucesso por Joe Webb, assim como Kyle Orton não viu isso por Rex Grossman em 2005. Por fim, os Bills viram Doug Flutie se lesionando na temporada de 1999 e não conseguiram triunfar na pós-temporada com Rob Johnson.
Mas nem tudo está perdido. Desde 1970, outros dois times viram seus quarterbacks reservas assumindo a titularidade para a pós-temporada e conquistando pelo menos uma vitória. Em 1990, o Chicago Bears não pode contar com Jim Harbaugh para o mata-mata, optou por colocar Mike Tomczak e ainda conseguiu avançar da rodada de Wild Card daquele ano, parando para os Giants na Divisional. Aliás, é justamente aquele New York Giants o maior e melhor exemplo para toda essa situação. Naquele ano, New York viu sua estrala Phil Simms se lesionar após ter vencido 11 jogos durante a temporada regular. Na pós-temporada, então, Jeff Hostetler assumiu a titularidade e terminou imbatível: ele venceu três jogos de playoffs -com os Giants e conseguiu conquistar o Super Bowl XXV, contra os Bills.
A história da NFL mostra que casos como este enfrentado pelo Philadelphia Eagles neste momento já aconteceram algumas vezes e a maioria deles não tiveram um final feliz. Mas não foram todos. Eu não vejo este time dos Eagles, da forma como ele está jogando, conseguindo fazer barulho nos playoffs. Contudo, como mostrado, a linha ofensiva e o jogo terrestre de Philladelphia tem plenas condições de melhorarem e criarem um ambiente ainda melhor ao redor de Nick Foles, colocando assim este elenco em posição de incomodar na pós-temporada.
Não será fácil, porém este Philadelphia Eagles já mostrou que sabe superar algumas adversidades e tem um exemplo como inspiração para seguir adiante, não importa se seja de um de seus maiores rivais. Além do mais, tenha em mente que pouquíssimas franquias da NFL almejam tanto um Super Bowl quanto os Eagles. Wentz era para ser o salvador direto desse jejum de título. O segundo anista merecia isso. Mas esta é a NFL… Agora, o camisa #11 deve servir de inspiração para esta equipe, dentro e fora de campo.
Até onde o Philadelphia Eagles pode chegar em 2017 sem Carson Wentz? Deixe sua opinião nos comentários ou nas redes sociais!
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