Na nossa coluna de opinião, idealizada por Caio Miari, são debatidos os temas em pauta na NFL. Eles são escolhidos após cada rodada e podem ser indicados por você, leitor. Ainda, saiba que você, além da sugestão do tema, pode ter seu texto exposto no site. Basta escolher um tema interessante e nos enviar para análise. Nosso email de contato é contato@shotgun.football
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A National Football League tem sido a liga de maior destaque entre os esportes americanos e também uma das mais reconhecidas em todo o planeta. Grandes espetáculos, público, comércio de produtos oficiais, o Fantasy Football, a propagação do esporte pelo mundo… enfim. O Super Bowl, e tudo que está ao seu redor, é um bom exemplo e resume bem isso.
Chega a ser complexo destrinchar a NFL em todos os aspectos possíveis de sucesso. Contudo, nesse processo, inevitavelmente, deve ser destacado o poder da revisão de jogadas encontradas no futebol americano. Afinal, em um esporte tão dinâmico, intenso, rápido e detalhista, uma mão ou um pé podem fazer toda a diferença. Mesmo com sete árbitros em campo, é extremamente difícil confirmar se um jogador conseguiu ou não a recepção ao fundo do campo. É preciso ter os olhos voltados para a bola, se o atleta tem o domínio completo dessa e se os pés dele estão dentro de campo no momento da posse. Além disso, quantos fumbles sofridos por running backs no meio de dez offensive linemen são revertidos após a revisão? E as recepções rente ao chão, “teve ou não a ajuda do gramado?”
Sem mais delongas mostrando o porquê o futebol americano é incrível, podemos resumir: não é possível imaginar a NFL sem o uso dos recursos eletrônicos.
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Uma adaptação quase perfeita
Ao longo dos anos o processo de revisão de jogadas foi se modificando e adaptando da melhor forma possível ao estilo de jogo da época. Exatamente por isso, atualmente, todos os touchdowns e turnovers devem ser revistos pela arbitragem, sem que os treinadores solicitem isso e corram o risco de perderem um timeout, por exemplo. Deste modo, aquilo que passar batido pelos árbitros (e na maioria das vezes não serão os fatos mais importantes do jogo pois, como falado, touchdowns e turnovers são obrigatoriamente analisados) pode ser revisto pela intervenção da comissão técnica de determinado time. Em outras palavras, o uso dos desafios então, claramente, busca tornar a NFL mais perfeita possível.
Verdade seja dita, o uso dos recursos eletrônicos no futebol americano realmente tem sido PRATICAMENTE impecável. É muito comum assistirmos aos jogos e durante eles, uma jogada normal – porém importante para a campanha de determinada equipe – acontecer e ser revista. Os desafios, definitivamente, estão inseridos no futebol americano, é algo maior que uma simples possibilidade de conferir uma jogada, é “arma” ofensiva ou defensiva das franquias. Até mesmo as pausas jogada após jogada do football, encaixam os desafios eletrônicos perfeitamente, evitando o incoerente discurso “Os desafios atrapalham o jogo por ficar parando muito”, comum quando o assunto é futebol e até mesmo, em menores proporções, basquete.
Mas por que o uso dos recursos eletrônicos na NFL (e no futebol americano de modo geral) é praticamente impecável? Por que motivos ele não é totalmente exato? A resposta para isso é justamente um assunto que está em pauta na NFL atualmente!
O que aconteceu
Na semana 6, na partida entre Seattle Seahawks e Atlanta Falcons, na qual os Seahawks venceram por 26-24, os Falcons viram uma chance real de virar a partida indo “por água abaixo” quando Julio Jones, claramente segurado e atrapalhado por Richard Sherman, não conseguiu fazer a recepção. No mesmo instante, quem assistia ao jogo (no estádio ou pela TV) tiveram a impressão que tinha acabado de acontecer uma interferência defensiva. Em seguida, após a passagem do replay, todos tiveram a certeza que Jones sofrera uma falta clara – e que poderia mudar os rumos da partida. Mas os árbitros, nada fizeram, além de marcar um passe incompleto.
Assistindo ao jogo com um amigo, o qual ainda não conhece todas as regras do futebol americano mas sabe da existência do desafio no espore, a primeira coisa que ele fez foi perguntar: “mas por que Atlanta não revisou”?
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Automaticamente, respondi: “Porque algumas penalidades não podem ser revistas”. “Mas por quê?”, insistiu ele.
Sem uma resposta convincente, expliquei que a NFL não permite a revisão de algumas jogadas, como interferências de passe, seguradas (holding), facemask. E quem apoia essa regra ainda vigente na liga, defende que permitir a revisão de todas as chamas de interferência de passe defensiva atrapalharia a dinâmica do jogo (parando mais que o normal), atrasaria ainda mais as partidas e ainda assim, uma decisão unânime não seria encontrada. De fato, permitir que as revisões de possível interferências (ou não) de passe, não garantiria que os árbitros acertariam em todas as chamadas deste tipo. Contudo, é uma ótima possibilidade para evitar que partidas sejam encerradas sem o vencedor “certo”.
Além disso, os “anti-revisões de interferência de passe” se escoram no argumento de que, há algumas décadas, o contato entre recebedor e defensive back era bem maior e tudo fluía normalmente dentro de campo.
A interpretação da arbitragem deve continuar
Em praticamente todos os esportes, é possível encontrar alguma situação que sua decisão dependa da interpretação da arbitragem. Aquilo que algumas “zebras” não marcam, outras podem considerar normal, e vice-versa. Acredito que seja certo dizer que as interpretações da arbitragem já fazem parte da preparação para as partidas e, no futebol por exemplo, o estilo de jogo do juiz muda para cada jogo.
Na NFL especificamente, podemos concluir que em muitos casos as situações de interferência de passe dizem respeito à interpretação dos juízes: aquele recebedor conseguiria receber o passe, até que ponto o contato do defensor atrapalhou o recebedor; coisas desse tipo devem ser levadas em conta. Até mesmo se a liga permitir que essas jogadas sejam revistas.
Veja bem: autorizar que qualquer tipo de jogada de recepção seja revista realmente pode desorganizar a dinâmica de uma partida de futebol americano. Em outras palavras, nos minutos finais de um Super Bowl, por exemplo, um time poderia vir em uma boa campanha para virar o jogo e, já estando na red zone, o adversário poderia chamar um desafio (e alegar um inexistente e invisível contato do recebedor do defensor) simplesmente com o intuito de diminuir a empolgação do rival. Coisas assim, certamente, não fariam bem para o jogo.
Mas então por que não liberar as revisões para interferências de passe apenas nas situações em que os árbitros considerarem apropriadas (mantendo assim a logística da interpretação)? Ou quem sabe nos Two-Minute Warning? Talvez apenas para jogadas de 20/+ jardas ou na red zone? Não sei!
A questão não é encerrar as polêmicas de arbitragem, mas sim tentar evitar que partidas sejam decididas escandalosamente por erros de arbitragem
Como implícito ao longo do texto, permitir a revisão de jogadas relacionadas à interferência de passe não acabará com os erros e discussões acerca da arbitragem no futebol americano. E se engana muito quem pensa assim: o que fazer com os holdings que acontecem frequentemente e são dificílimos de serem julgados? E a configuração de uma recepção, como aconteceu com Dez Bryant em 2014?
Tenha em mente que uma arbitragem nunca será perfeita nas partidas da NFL. Sempre haverá alguma jogada, por menor que ela seja, que passará batida pelos juízes. A questão é justamente essa, deixar as pequenas jogadas passarem despercebidas, já que isso é inevitável; mas não erros grotescos, como temos visto recentemente. Na rodada de Wild Card dos playoffs de 2014 entre Cowboys e Lions aconteceu, numa partida entre Dolphins e Ravens também, e agora novamente!
Não estou aqui para dizer que tipo de medida a NFL deve tomar quanto às interferências de passe, mas sim para dizer que de alguma forma uma equipe não pode ser escandalosamente prejudicada em uma partida. Na semana passada, aconteceu com os Falcons, em um jogo de temporada regular. Contudo, a liga precisa saber a gravidade disso e encontrar uma maneira de solucionar mais um problema, antes que algo mais grave aconteça.
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