De onde surgiu Sean McVay. Essa talvez seja uma pergunta que muitos fãs da NFL têm em mente. Afinal, “do nada”, um head coach jovem assumiu o comando de uma franquia em baixa e mudou a essência do time. O que McVay vem fazendo na liga é algo sem precedentes. É algo que vai além de apenas vencer com o elenco que ele tem em mãos.
12 de janeiro de 2017 – Neste dia, o Los Angeles Rams fazia de Sean McVay o head coach mais jovem da história da NFL. O 28º treinador da franquia assumiu o cargo aos 30 anos e 11 meses de idade, sob uma conjuntura conturbada em L. A.
Antes de abordar o trabalho do treinador em si, é preciso contextualizar onde tudo começou. Nascido no estado de Ohio, Sean McVay sempre esteve inserido no futebol americano. Seu pai, Tim, foi safety da universidade de Indiana. Já o avô, John, foi general manager do San Francisco 49ers, tendo adquirido alguns dos jogadores que acabaram vencendo Super Bowls pelos Niners, inclusive.
Como jogador, Sean McVay defendeu a high school chamada Marist School. Em quatro anos por lá, atuou em bom nível como quarterback e defensive back. Uma vez na universidade, Sean McVay continuou no futebol americano. Porém, sua velocidade/agilidade under center o “transferiu” para wide receiver da universidade de Miami (Ohio). Ben Roethlisberger, QB dos Steelers, é o produto dessa faculdade de maior sucesso na NFL, aliás.
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Mas uma grande dúvida pode ser como Sean McVay começou sua carreira nas sidelines. Para explicar isso, então, precisamos falar da família Gruden. É isso mesmo, Jon e Jay Gruden, atuais head coaches de Raiders e Redskins, respectivamente, tiveram enorme influência na trajetória profissional de McVay.
O primeiro emprego de Sean McVay foi como assistente técnico de wide receivers do Tampa Bay Buccaneers. Na época, os Bucs tinham Jon Gruden como treinador, e Jay também fazia parte do staff ofensivo da equipe. A relação McVay-Gruden: as famílias são próximas – e não é de hoje. O avô de Sean McVay (ex-executivo dos 49ers) foi quem ofereceu o primeiro emprego como técnico a Jim Gruden em meados da década de 1980, pai de Jon e Jay. Assim, tal relação de amizade começou há décadas.
Depois de um ano em Tampa Bay, McVay foi comandar os tight ends do já extinto Florida Tuskers (UFL). E sabe como ele foi parar lá? Jay Gruden foi contratado para ser coordenador ofensivo da equipe e o indicou. Uma nova temporada se passou e, sempre com prósperos trabalhos, McVay retornou à NFL como assistente/técnico de TEs no Washington Redskins. Ele permaneceu na função até 2014, quando Jay Gruden (de novo!) foi contratado como head coach dos Redskins e fez de Sean McVay o novo coordenador ofensivo do time.
Em três temporadas de McVay em Washington, a equipe melhorou ofensivamente ano após ano. Na época, vale lembrar, Kirk Cousins estava se firmando como QB titular e teve boas temporadas com Sean McVay. Por exemplo, em 2016, Cousins obteve 4.900 jardas e 25 TDs. No ano seguinte, então, McVay chamou a atenção do Los Angeles Rams.
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Sean McVay foi para um dos principais mercados dos Estados Unidos. Além disso, era o primeiro ano dos Rams fora de St. Louis. Ainda, saiba que o time vinha de um campeonato ruim em 2016, o qual teve como consequência a troca de treinador.
Tudo isso, com um quarterback recrutado na primeira escolha geral (2016) em pauta. Aliás, Jared Goff foi um dos principais beneficiados pela chegada de Sean McVay. Como calouro e sob o comando de Jeff Fisher, Goff foi titular em sete partidas e totalizou cinco touchdowns e sete interceptações. Para piorar, o novato esteve no pior ataque da temporada, o qual marcou somente 14 pontos por partida em média. Não por acaso, lembrando sempre o preço pago pelos Rams para subir e recrutar o QB, Jared Goff teve análises de bust a seu respeito.
Mas Sean McVay simplesmente mudou isso. Em uma temporada com o time, ao lado de sua comissão técnica, o treinador esteve na liderança de um sistema ofensivo que anotou 29,9 tentos por jogo. De pior, agora estamos falando do melhor ataque da liga em 2017.
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Tamanho sucesso de McVay teve reflexos ainda mais interessantes: mesmo no começo da carreira, o treinador já instaurou sua coaching tree, direta e indiretamente.
Matt LaFleur, recém-contratado pelos Packers para head coach, foi o coordenador ofensivo de Sean McVay nos Rams em 2017. Além disso, há uma grande possibilidade de Zac Taylor se tornar o próximo treinador dos Bengals. Taylor é o atual técnico de QBs dos Rams. Ou seja, duas temporadas como treinador, aos 32 anos de idade, e dois candidatos/contratados head coaches surgiram.
O objetivo dessas equipes, ao buscar nomes que estiveram ao lado de Sean McVay, é encontrar um técnico principal que tenha aprendido com o head coach. Controle de vestiário, discurso, motivação, chamada de jogadas, decisões… Enfim, McVay sempre foi um exemplo nisso para quem esteve ao seu lado.
Indiretamente, times também estão buscando profissionais que têm grande conhecimento ofensivo e, em especial, saibam trabalhar com quarterbacks. Os Cardinals, ao contratarem Kliff Kingsbury, são um exemplo disso. Em geral, Sean McVay é head coach, coordenador ofensivo e técnico de QBs do Los Angeles Rams atualmente.
Coaching tree é a “árvore genealógica” dos treinadores. Em outras palavras, é a ramificação, de um treinador como referência, por meio de seus antigos assistentes/técnicos/coordenadores quando esses também se tornam técnicos principais. Outrora, falei especificamente sobre isso – este é o link.
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Aquela carreira que começou em Ohio, em pouco tempo foi para Washington e não demorou muito para se concretizar na NFL. Sean McVay, aos 32 anos e em seu primeiro trabalho como head coach, já entrou para a história da liga como o treinador mais jovem de todos os tempos a vencer uma partida de playoffs. Ah, e como visto, existe uma tendência para com o estilo de comando de McVay, o que mostra que uma geração já está sendo marcada pela competência deste profissional.
No fim do dia, por mais recente que seja, a carreira de Sean McVay merece destaque. Merece destaque pois já quebrou marcas, influenciou uma liga e está aberta para mais. Hoje, estamos falando sobre os primeiros passos de um head coach espetacular. Não fique surpreso se McVay aparecer por aqui em outras ocasiões, e em um futuro próximo, relativamente falando.
Afinal, nesta coluna falamos sobre a história do futebol americano profissional.