Janeiro chegou, e com ele as definições da temporada 2016 da NFL também. É hora de playoffs, reformulações, decisão sobre treinadores e definição dos prêmios individuais do ano. Coroar os melhores da temporada é sempre algo muito empolgante (às vezes empolgante até demais), afinal foram aqueles jogadores que nos proporcionaram o espetáculo do futebol americano por alguns poucos meses.
Quem foi o Calouro Defensivo do Ano? Bill Belichick merece ser o Técnico do Ano? E o MVP, pra quem foi?
Preparado para ler muita coisa que não concorda? E para concordar com aquilo que fizer sentido mesmo que isso coloque seu jogador favorito contra a parede? Here we go!
Comeback Player of The Year: Jordy Nelson, wide receiver, Green Bay Packers
Quem também é candidato: DeMarco Murray (Titans), Cameron Wake (Dolphins), Melvin Gordon (Chargers), Jimmy Graham (Seahawks).
Em 2016, nada conspirava a favor de Jordy Nelson: ele vinha de uma lesão grave que o tirou de toda a temporada passada, com 31 anos e um ataque de Green Bay repleto de incertezas. Contudo, nada disso parece ter influenciado o camisa #87, que totalizou 97 recepções, 1.257 jardas e 14 touchdowns, a melhor marca da NFL. Seus números neste ano são inclusive muito parecidos com os de 2014, quando Nelson teve sua melhor temporada (98-1.519-13). O que era para ser um ano decadente para o wide receiver acabou sendo histórico. Histórico a ponto de nos dar a liberdade de dizer que o termo “Comeback” (“dar a volta por cima”) neste caso não é apropriado – é como se Nelson nunca estivesse ficado fora da liga.
Calouro Defensivo do Ano: Joey Bosa, defensive end, San Diego Chargers
Quem também é candidato: Jalen Ramsey (Jaguars), Eli Apple (Giants), Keanu Neal (Falcons).
Verdade seja dita, os calouros defensivos desta temporada não empolgaram tantos fãs da NFL quanto os ofensivos fizeram; de forma surpreendente, diga-se de passagem. Contudo, em meio à impasses e polêmicas, podemos avaliar a classe positivamente.
Importante ressaltar também que, por melhor que Apple e Neal (ou qualquer outro nome) tenham sido, a discussão aqui deve ficar restrita a Bosa e Ramsey. O cornerback dos Jaguars, além de ter atuado nos 16 jogos da temporada, teve uma excelente segunda metade de ano, na qual ele demonstrou capacidade até de cobertura em slot, algo bem mais complexo do que dos lados do campo.
Todavia, Joey Bosa merece mais o prêmio pelo impacto que teve na defesa dos Chargers. Estamos falando de um sistema defensivo que perdeu dois de seus melhores defensive backs na última offseason e ainda assim terminou como um dos dez melhores da liga contra o passe. Por quê? Pela pressão ao quarterback, normalmente. E nada disso aconteceria se não fosse pelos 10,5 sacks e 21 pancadas em quarterbacks (tudo isso em apenas 12 jogos) de Bosa.
Calouro Ofensivo do Ano: Ezekiel Elliott, running back, Dallas Cowboys
Quem também é candidato: Dak Prescott (Cowboys), Tyreek Hill (Chiefs), Jack Conklin (Titans), Michael Thomas (Saints).
Entre as grandes surpresas desta temporada, é impossível não citar os calouros ofensivos. Enquanto Jared Goff e Carson Wentz, as duas primeiras escolhas do Draft 2016 fracassaram, além de Ezekiel Elliott (que já tinha grandes expectativas à sua volta), nomes como Dak Prescott e Tyreek Hill surgiram “do nada”. Muito mais que bons números e grandes jogadas, eles acabaram se tornando líderes em seus respectivos times, como veteranos.
A disputa pelo prêmio de Calouro Ofensivo do Ano, contudo, seria extremamente acirrada se Elliott não estivesse na conversa. O running back dos Cowboys, além de ter liderado a NFL em jardas corridas (mesmo estando competindo com David Johnson, Le’Veon Bell), foi o protagonista do time de melhor campanha da Conferência Nacional. Ser um bom corredor é diferente de ser um grande corredor; esse último, mais que números e estatísticas, muda todo um sistema ofensivo. Elliott, sem dúvidas, foi gigante em 2016.
Técnico do Ano: Jason Garrett, Dallas Cowboys
Quem também é candidato: Bill Belichick (Patriots), Jack Del Rio (Raiders), Adam Gase (Dolphins), Andy Reid (Chiefs), Dan Quinn (Falcons).
Assim como a maioria das discussões dos prêmios deste ano, a do melhor técnico também fica limitada a dois nomes, e todos vocês já sabem de quem estou falando. Claro que Adam Gase merece créditos por ter levado os Dolphins aos playoffs mesmo com importantes lesões e algumas incertezas. Andy Reid, por ter feito o elenco dos Chiefs um dos mais equilibrados da NFL. Jack Del Rio pela volta dos Raiders à pós-temporada. E Dan Quinn, pela enorme evolução demonstrada pelos Falcons em relação ao ano passado. Todavia, Jason Garrett e Bill Bilichick merecem estar um degrau acima de seus companheiros.
E agora a discussão começa de verdade! Chega a ser engraçado o que os Patriots têm feito nos últimos anos na NFL. Ano após ano temos a certeza que a equipe vencerá seus 12 (ou mais) jogos (algo que não é nada fácil) e estará entre as melhores da NFL. É sempre assim. Nesta temporada, se Brady estivesse desde o começo, é provável que New England terminasse o ano com apenas uma derrota. E não venha me dizer que isso acontece pelo talento (que é indiscutível para mim) do camisa #12. Nos Pats, não é apenas Tom Brady que joga bem; Belichick tem a capacidade de tornar melhor quem está em suas mãos. Isso talvez explique como LeGarrette Blount liderou a liga em touchdowns terrestres e a defesa do time tenha cedido apenas 15,6 pontos por jogo, a melhor marca da temporada.
Por outro lado, temos um head coach que perdeu seu quarteback titular na pré-temporada (e teve que apostar em um calouro desde então), vinha sob enorme pressão, também com um running back novato, com seu melhor wide receiver lesionado e uma defesa incerta. Com tudo isso, Jason Garrett foi capaz de construir um excelente ambiente em Dallas, alcançou uma das melhores campanhas da história da franquia e deu ao Dallas Cowboys o favoritismo na Conferência Nacional.
Para mim, a diferença entre os dois é a seguinte em 2016: Bill Belichick poderia terminar uma temporada 13-3 com Jimmy Garoppolo ou Jacoby Brissett de quarterback? Possivelmente, talvez até podemos dizer que provavelmente. Entretanto, ele não teve que passar por isso. Jason Garrett, por sua vez, teve sim que encontrar alguma maneira de prosperar com um “desconhecido” na posição mais importante do jogo – e em um ambiente mais incerto, aliás. Acho que isso seja suficiente para dar o prêmio a ele.
Jogador Defensivo do Ano: Von Miller, outside linebacker, Denver Broncos
Quem também é candidato: Vic Beasley (Falcons), Aaron Donald (Rams), Khalil Mack (Raiders), Landon Collins (Giants).
O prêmio de Defensor do Ano, no decorrer da temporada, não dividia opiniões, todas elas apontavam para Von Miller. Contudo, o ano se passou e, ao contrário do que muitos pensavam, Miller não terminou a campanha dos Broncos jogando bem, não tendo totalizado nenhum sack nos últimos quatro jogos da temporada, algo inédito em sua carreira. Assim sendo, as portas se abriram para outros defensores agarrarem o prêmio…
A questão aqui é que nenhum dos outros candidatos teve um mês de dezembro bom também. Mack computou apenas um sack. Donald não melhorou muito esse número, com dois. Collins, o qual vinha dominando seus adversários, totalizou um singelo fumble recuperado no último mês de temporada regular. O único que despontou neste período foi Vic Beasley, com cinco sacks, os quais deram a ele a melhor marca de sacks do ano, 15,5.
“Mas então por que não dar o prêmio para Beasley?” Não é tão fácil explicar isso, mas vamos lá: Von Miller deu mais trabalho aos bloqueadores adversários, incomodou mais seus rivais, impactou em maiores proporções dentro de campo. “Como assim?” Veja bem: normalmente, um pass rusher de dez ou mais sacks em uma temporada consegue um sack a cada 45% das vezes que acerta o quarterback. Contudo, Beasley teve esse número na casa dos 97% (nenhum defensor da liga teve este número acima dos 75%), o que significa que, por mais que ele tenha sido mais efetivo se comparado a Miller, incomodou bem menos seus oponentes. Em outras palavras, basicamente todas as vezes que Vic Beasley chegou perto do quarterback ele conseguiu um sack, mas ele não chegou tantas vezes assim. Ponto, mais nada. Já Von Miller, além de ter computado 13,5 sacks (2º melhor da NFL), distribuiu 24 pancadas nos rivais.
Um pass rusher deve ir além da quantidade de sacks. Pressionar mais o quarterback rival significa forçá-lo a lançar um passe incompleto ou até mesmo uma interceptação. Neste quesito, mesmo que por pouco, o camisa #58 levou a melhor.
Jogador Ofensivo do Ano: Matt Ryan, Atlanta Falcons
Quem também é candidato: Aaron Rodgers (Packers), David Johnson (Cardinals), Ezekiel Elliott (Cowboys), Tom Brady (Patriots), Le’Veon Bell (Steelers), Jordy Nelson (Steelers), LeGarrette Blount (Patriots).
Por mais um ano o prêmio de jogador ofensivo ficará com aquele jogador que vencer o MVP? No ano passado foi assim com Cam Newton. Anteriormente a isso, chegamos a ver também o segundo para o prêmio de Jogador Mais Valioso levando o de melhor jogador de ataqque. Enfim, essa distinção às vezes é mais complicada do que parece.
Mas essencialmente falando, o que o prêmio de Jogador Ofensivo do Ano leva em conta? O Jogador Ofensivo do Ano é o atleta que melhor atacou na temporada. Em outras palavras, e ajeitando o termo utilizado, é aquele jogador que mais vai dar pontos ao seu time. E não só pontos, mas também jardas, first downs, grandes jogadas… Enfim. Este prêmio coroa quem dominou a NFL em termos de ataque. Assim como Von Miller merece vencer o Defensor do Ano pelo impacto que tem dentro de campo e domínio sobre seus rivais, no Jogador Ofensivo é mesma coisa. Para simplificar, faça a pergunta: qual jogador deu menos chances às defesas adversárias em 2016?
Se você também acompanha a NBA, isso pode ajudá-lo ainda mais no entendimento: se os mesmos prêmios individuais da NFL estivessem por lá, na campanha dos Warriors em 2015 por exemplo, Stephen Curry teria sido o MVP e o Jogador Ofensivo da Temporada. Ele parecia uma máquina. Contudo, em praticamente todos os prêmios de Jogador Mais Valioso vencido por LeBron James – todos os quatro merecidos, diga-se de passagem –, ele nunca venceria o de Jogador Ofensivo. A influência de LeBron dentro de quadra é maior que sua capacidade de pontuar e tudo mais, o que caracteriza um MVP. Caso contrário, temos o Jogador Ofensivo do Ano.
Mas então, quem foi o Jogador Ofensivo da NFL em 2016? Tom Brady foi sim impecável neste ano, mas acabou produzindo bem menos do que Matt Ryan e Aaron Rodgers, por exemplo (muito disso se dá pelos quatro jogos perdidos). Ezekiel Elliott foi brilhante, porém teve números parecidos com David Johnson – e que talvez não sejam suficientes para desbancar os quarterbacks. Por fim, entre Aaron Rodgers e Matt Ryan, vemos muito equilíbrio em termos de estatísticas básicas finais. Ambos foram Top 5 da NFL em jardas e touchdowns aéreos. Todavia, dois números específicos pesam – e muito – a favor de Ryan neste caso: 1) Atlanta marcou 540 pontos nesta temporada, a oitava maior marca da história da liga; 2) o camisa #2 teve 9,26 jardas por tentativa, o melhor que a NFL já viu em uma temporada (entre QBs com pelo menos 500 passes tentados). A pergunta agora é: o MVP também vem por aí?
Jogador Mais Valioso (MVP): Matt Ryan, quarterback, Atlanta Falcons
Quem também é candidato (nesta ordem): Tom Brady (Patriots), Derek Carr (Raiders), Ezekiel Elliott (Cowboys), David Johnson (Cardinals), Aaron Rodgers (Packers).
Enfim, o prêmio mais aguardado chegou! É hora de falarmos quem deve ser eleito o Jogador Mais Valioso da temporada. Antes de qualquer coisa vale deixar claro no que consiste de fato o prêmio de MVP. O MVP é o melhor jogador da temporada? Não necessariamente. É quem mais lançou/correu jardas e marcou touchdowns? Nada obriga também. Como o próprio nome já diz, o jogador mais valioso da temporada é aquele que, diretamente falando, foi o mais importante para seu time ao longo do ano. Em outras palavras, para apurar ainda mais sua noção de MVP, basta imaginar como determinada equipe ficaria sem seu principal jogador. Aquela que perder mais, sentir mais a ausência, provavelmente terá o MVP.
Por isso, dificilmente você verá um time com campanha 6-10 tendo o Jogador Mais Valioso da Temporada. Como ele é tão valioso assim se seu time não consegue vencer? Valioso neste caso tange o aspecto das vitórias ou de conquistas. Este é o caso, por exemplo, de David Johnson em 2016 com o Arizona Cardinals. Ressalvas feitas, vamos ao que interessa!
O número #1 das votações populares no Brasil é Tom Brady. O quarterback dos Patriots tem sido excelente desde que estreou na temporada após cumprir suspensão. Ele perdeu apenas uma partida que disputou, levou os Pats à melhor campanha da AFC e ainda estabeleceu a marca de 28 touchdowns e apenas duas interceptações, a melhor proporção que a NFL já viu. Contudo, isso é suficiente para considerarmos Brady o jogador mais valioso do ano? Lembre-se que essa marca de 28-2, por mais impressionante que seja, superou uma que Nick Foles (um backup na atualidade) havia conquistado. Além disso, o camisa #12 não está sozinho em New England: ele tem a defesa que menos cede pontos da liga (com pouco mais de 15 por jogo), o running back líder em touchdowns corridos na temporada e um dos melhores técnicos que o mundo já viu, o qual foi 3-1 sem Brady Boy.
Nos casos dos dois melhores running backs da temporada, a situação é basicamente a mesma. Ezekiel Elliott e David Johnson, os quais tiveram estatísticas parecidas ao longo do ano, foram muito bem, mas simplesmente não o necessário para desbancar um quarterback no quesito de importância para o time. Em caso de dúvidas, compare a temporada dos dois com as dos três últimos corredores que venceram este prêmio (Shaun Alexander, LaDainian Tomlinson e Adrian Peterson). Eles ficam bem atrás.
E por que não Derek Carr? Bom, Carr teve um ano excelente, mas é difícil colocá-lo ao lado de Brady, Rodgers e Ryan. O camisa #4, estatisticamente falando, fica bem atrás de seus companheiros e, por mais que tenha produzido sete viradas no últimos período em 2016, essa não é nem a melhor marca da temporada. Ademais, não se esqueça que talvez no jogo mais importante dos Raiders neste ano (contra os Chiefs na semana 14), Derek Carr não foi bem.
Assim sendo, nossa lista fica agora restrita a dois nomes: Aaron Rodgers e Matt Ryan. Verdade seja dita, o nome de Rodgers consta na lista pela sequência de seis vitórias dos Packers liderada por ele, na qual totalizou 71% de aproveitamento, 1.667 jardas e 15 touchdowns. Todavia, apesar de não ser tão falado, Ryan, neste mesmo período, venceu cinco partidas e teve números próximos do camisa #12: 72,9% de aproveitamento, 1.697 jardas, 14 touchdowns e duas interceptações. Ryan ainda esteve comandando o ataque que mais marcou pontos, conquistou jardas por tentativa e anotou first downs da temporada. Além disso, Atlanta terminou com a segunda melhor campanha da Conferência Nacional, Green Bay com a quarta.
É sempre difícil apostar contra Tom Brady ou Aaron Rodgers, dois ícones da NFL na atualidade, ainda mais quando a disputa pelo prêmio está longe de ser unânime. Contudo, a conjuntura de cada um e até mesmo as estatísticas nos mostram que impossivelmente os Falcons chegariam onde chegaram se não contassem com Matt Ryan. O MVP estará em ótimas mãos!
Concorda com a nossa opinião sobre os prêmios da temporada 2016? Deixe sua opinião nos comentários ou nas redes sociais.
–
Siga-nos no Twitter @ShotgunFA
Curta no facebook.com/shotgunfootball