Não, a temporada 2018 da NFL ainda não terminou oficialmente. Contudo, essa resta apenas uma semana para ser concluída e, mesmo assim, temos a real dimensão do que foi o campeonato regular para cada time. Quem foi bem, quem foi mal, quem foi para os playoffs, quem mereceu ir aos playoffs… Enfim, já se sabe de tudo isso a respeito desta temporada.
É com isso em mente que decidi colocar no papel (ou melhor, no computador) aquilo que sempre me passa pela cabeça na reta final de cada temporada regular. Todavia, trata-se de algo inédito no Shotgun pois, com o mês de janeiro se aproximando, a NFL ganha pontos mais importantes, a agenda fica apertada e acaba faltando oportunidades. Mas desta vez não!
Citei abaixo os trabalhos de head coaches que mais gostei neste ano. Claro, comentei o porquê de tal opinião. Além disso, relatei também o outro lado da moeda, abordando os trabalhos que me decepcionaram bastante. Leia, reflita e opine, leitor, debates como esse são sempre interessantes.
Antes disso, uma pergunta simples: como avaliar o trabalho de um treinador?
Em geral, o trabalho de um head coach na NFL é “medido” pela competitividade do time em questão. Neste caso, o que está ao redor de tal equipe são os potencializadores (positivos e negativos) de cada elenco. Portanto, é preciso sempre levar em conta o plantel de jogadores, drafts recentes, lesões, quem chama as jogadas, quarterback…Enfim, o que está à disposição de determinado treinador.
Assim sendo, se o que está em torno de tal profissional é muito acima da média, a obrigação dele é ter um time muito acima da média. Separando isso em setores, a mesma coisa. O que não pode acontecer é um treinador rebaixar o nível de alguns atletas/setores.
Outro ponto interessante são os ajustes. Na prática, sabemos que nenhum time de futebol americano é perfeito. Ou seja, esse grupo irá cometer erros rodada após rodada. E o papel do treinador neste caso é corrigir os principais defeitos de sua equipe semanalmente, deixando-a cada vez mais competitiva. As penalidades, por exemplo, são um dos principais erros de responsabilidade de head coaches da NFL. Nessa lista, entre outros fatores, inclui-se falhas em marcação em zona, melhores rotas dos recebedores, erros grotescos como muffs e até até mesmo pedidos de timeouts e revisão de jogadas.
Há também desafios, os quais podem se agravar durante um campeonato. Este é o caso de lesões, conflitos internos entre jogadores/egos, transações entre uma temporada e outra, demissão de coordenadores etc.. Um bom head coach consegue competitividade quando atrapalhado por essas questões. Um ótimo, indo ainda mais além, por mais complicado que seja, destoa-se nessa situação. Em ambos os casos, o julgamento é mais complexo, verdade seja dita.
Trabalhos de head coaches que gostei em 2018
P. S. A ausência de algum nome aqui não significa que o trabalho de tal head coach não tenha sido bom. Abaixo, lembre-se, destaquei aqueles que mais gostei.
Kyle Shanahan, San Francisco 49ers
O que mais gostei: ajustes ofensivos
O que ficou devendo: solidez na defesa, pela falta de peças
Conclusão: é impressionante como o San Francisco 49ers mostrou evolução semana após semana. Mesmo com um elenco limitado, o qual ainda foi atrapalhado por várias lesões (incluindo na posição mais importante), Kyle Shanahan conseguiu dar competitividade ao grupo. De fato, a campanha 4-11 está entre as piores da NFL. Contudo, sem Jimmy Garoppolo, os Niners foram capazes de derrotar Broncos e Seahawks, por exemplo. Sem falar que em seis jogos desta temporada o time foi derrotado por uma diferença de no máximo uma posse de bola.
A recuperação pós lesão do melhor QB, WR e CB deste elenco, combinada à contratações pontuais e um draft bem feito, deve fazer de San Francisco um grupo realmente capaz de vencer seus jogos. Treinador para isso, pelo menos, a equipe já tem.
Matt Nagy, Chicago Bears
O que mais gostei: evolução de Mitchell Trubisky
O que ficou devendo: o time de especialistas dos Bears está muito abaixo dos outros setores do elenco
Conclusão: os Bears terminaram 2017 “perdidos” após campanha 5-11. Um ano mais tarde, Chicago garantiu o título da NFC Norte e almeja Super Bowl. Claro, contratações foram feitas, em especial no sistema defensivo com Khalil Mack. Todavia, quem assiste aos jogos do Chicago Bears percebe o “dedo do treinador” na equipe, principalmente no ataque. Pasmem, Mitchell Trubisky totaliza 24 touchdowns e rating de 96, liderando um setor ofensivo Top 10 na NFL. A chamada de jogadas de Nagy impressiona.
De fato, o ataque do Chicaco Bears ainda sofre apagões em alguns momentos. Trubisky ainda tem o que evoluir. Contudo, o setor ofensivo nem sempre precisa fazer muito, afinal, a defesa da franquia, a qual tem 36 turnovers forçados, talvez seja a melhor da liga.
Pete Carroll, Seattle Seahawks
O que mais gostei: Seattle é perigoso nos quesitos mais importantes do jogo
O que ficou devendo: ainda é um time que comete muitas faltas
Conclusão: não era para ser um ano de reconstrução no Seattle Seahawks? Ao contrário do que muitos pensavam, aquele time que perdeu a Legion of Boom, Jimmy Graham, Michael Bennett, Cliff Avril e não fez contratações espetaculares, foi aos playoffs em 2018.
Pete Carroll encontrou uma maneira de fazer os Seahawks terem o melhor jogo corrido da NFL em jardas por jogo. Além disso, evoluiu a linha ofensiva, deixando Russell Wilson ainda mais confortável. E, do outro lado da bola, ajustou um pass rush eficiente. Por mais que ainda falte algumas peças, os Seahawks hoje competem contra qualquer equipe da liga, em qualquer estádio. Se existia rumores que Carroll poderia ser demitido, o head coach respondeu a isso em campo. Desde que ele foi contatado, seu time jamais ficou duas temporadas seguidas fora da pós-temporada.
Frank Reich, Indianapolis Colts
O que mais gostei: setores considerados ruins nos Colts agora são interessantes
O que ficou devendo: o jogo corrido é abaixo da média
Conclusão: o trabalho de Frank Reich com o Indianapolis Colts nesta temporada é impressionante. Veja bem: Reich está em seu primeiro ano como treinador e com um elenco que tem apenas uma super-estrela. Aliás, essa super-estrela – Andrew Luck – ficou fora durante toda a temporada 2017. Ainda assim, Frank Reich foi capaz de arquitetar um dos melhores ataque da NFL, apoiado por uma das melhores linhas ofensivas do futebol americano. E detalhe: os bloqueadores dos Colts começaram o ano em baixa e provaram seu talento após o começo do campeonato. De fato, o Draft 2018 de Indy foi fantástico, mas Reich tem seus méritos.
Do outro lado da bola, Indianapolis é ainda mais limitado tecnicamente, mas foi capaz de ter um setor acima da média. Em geral, isso mostra que Frank Reich vai muito além de sua genialidade ofensiva. Ainda nesse assunto, falávamos em fazer ajustes e ser resiliente. Este Indianapolis Colts começou o ano 1-5 e, desde então, venceu oito dos nove jogos que disputou.
Trabalhos de head coaches que não gostei em 2018
Hue Jackson, Cleveland Browns
A pior parte: com Hue Jackson, Cleveland foi 2-5-1. Sem ele, a campanha é 5-2
Conclusão: reconheço que seja injusto culpar apenas Hue Jackson pela má fase atravessada pelos Browns em parte de 2018. Tenha em mente que ele herdou um desgaste pelo passado recente pífio do time. Todavia, ao mesmo tempo, não há como negar que Jackson poderia ter feito um trabalho melhor pelas peças que tinha no elenco. Isso ficou evidente com a chegada de Gregg Williams (e do coordenador Freddy Kitchens).
Com Hue Jackson, o Cleveland Browns foi um time que teve relativa melhora e engatinhava para ser competitivo. Desde a demissão de Jackson, os Browns ganharam real competitividade “instantaneamente”.
Será demitido em 2019? Não, porque… Ele já foi!
Vance Joseph, Denver Broncos
A pior parte: Denver é a segunda equipe da NFL que mais comete faltas
Conclusão: o Denver Broncos talvez seja o time que mais cometa penalidades importantes na NFL em 2018, e isso se agrava jogando fora de casa. Defensivamente, os Broncos até se saíram bem em alguns aspectos, apesar de ainda longe do ideal de um modo geral. No outro lado da bola, todavia, Vance Joseph se mostrou perdido com Case Keenum e, se não fosse pelo achado em Philip Lindsay, o sistema ofensivo de Denver seria um grande desastre.
Pela primeira vez desde 1971/72, Denver fecha campeonatos com consecutivas campanhas negativas. Joseph foi o treinador da equipe nessas duas temporadas e fica cada vez mais claro que o elenco não evolui com ele.
Será demitido em 2019? Sim! Derrotas com a diante dos Raiders, depois de uma temporada anterior já decepcionante, não são perdoadas na NFL.
Marvin Lewis, Cincinnati Bengals
A pior parte: a defesa dos Bengals é a pior da NFL
Conclusão: pela primeira vez desde 2010, o Cincinnati Bengals termina em último na AFC Norte. Acredite ou não, mas isso nem é a pior parte da franquia, a qual jogou muito mal em algumas semanas. Se não fosse pelo talento individual de alguns nomes, Cincy talvez competisse seriamente pela primeira escolha geral. Porém, lampejos de nomes como A. J. Green, Joe Mixon e até mesmo Andy Dalton salvaram alguns dias da equipe. Sem a maioria deles na temporada, os desempenhos dos Bengals vêm sendo lamentáveis, com um ataque limitado e uma defesa pífia.
Será demitido em 2019? Lewis teve contrato renovado por dois anos na última offseason, então vai acabar permanecendo na franquia. Mas não deveria.
Steve Wilks, Arizona Cardinals
A pior parte: o ataque dos Cardinals é o pior da liga. A defesa, a quinta pior
Conclusão: desde a offseason, o Arizona Cardinals não me passava confiança. Em geral, a franquia mais perdeu do que ganhou de um ano para o outro. Além disso, em pontos vitais do time (quarterback e head coach), os Cardinals são liderados por novatos. Mas está claro que os problemas de Arizona vão muito além da limitação técnica em alguns setores. Tenha em mente que estamos falando do possível pior time da NFL nesta temporada. Nem mesmo defensivamente, setor em que Steve Wilks é familiar, o respaldo foi positivo.
Será demitido em 2019? Não, pois jovens treinadores costumam ganhar um “tempo extra”. Porém hoje, a carreira de Wilks me passa a mesma confiança que a de Vance Joseph.