Precisamos falar sobre a defesa do Cleveland Browns.
De fato, e inevitavelmente, o ataque da franquia é o centro das atenções. Odell Beckham Jr. foi adquirido e fará parte de um grupo de wide receivers que já conta com Jarvis Landry, um dos melhores slot receivers dos últimos anos, David Njoku, um dos jovens tight ends mais talentosos da NFL, entre outros.
O backfield por trás disso tem Nick Chubb, Duke Johnson e, futuramente, Kareen Hunt. Em tese tudo que uma equipe precisa em um grupo de corredores esse pode oferecer. Velocidade, explosão, three-down RB, capacidade para recepções… E a linha ofensiva à frente disso (que cedeu 38 sacks e possibilitou 4,6 jardas por tentativa em 2018) deve, no mínimo, manter o nível para 2019.
Tudo isso, claro, comandado por Baker Mayfield, o principal responsável por esta nova era dos Browns. Mayfield quebrou o recorde de touchdowns por um novato na história da NFL (27) e venceu seis jogos em seu primeiro ano profissional. Ano esse em que ele não começou como titular, contudo. A expectativa, portanto, é que, com mais experiência, uma offseason completa treinando com os titulares e uma nova comissão técnica, Mayfield se confirme de fato como a solução dos Browns na posição de quarterback.
Mas por mais promissor que Mayfield seja, é difícil imagina-lo vencendo tudo ao lado do seu ataque sem a ajuda de uma defesa sólida. Poucos QBs na história da liga conseguem/conseguiram “vencer sozinhos”.
Como será o impacto deste sistema defensivo, então?
Assim como o ataque, há muito talento individual na defesa de Cleveland. Myles Garrett é a referência neste sentido. Depois de 13,5 sacks em 2018, o terceiro ano de Garrett na NFL deve seguir o mesmo padrão, de um dos melhores pass rushers da atualidade.
A linha defensiva dos Browns, todavia, tem muito mais. Olivier Vernon e Sheldon Richardson foram adquiridos nesta offseason e buscam reencontra as melhores formas de suas carreiras em Ohio. Além deles, com 5,5 sacks em 2018, Larry Ogunjobi merece ser tratado como um dos mais promissores defensive tackles que a liga tem na atualidade.
Depois disso, as incertezas ficam maiores.
O grupo de cornerbacks ainda tem uma grande referência no aspecto técnico em Denzel Ward, um dos CBs mais promissores dos últimos anos. Entretanto, fora ele, os outros nomes da posição, bem como a secundária como um todo, têm espaço para evolução, e por isso foram alvos da estratégia de Cleveland no Draft 2019.
Duas das primeiras três escolhas da equipe, e três das sete picks que foram feitas na classe deste ano, foram destinadas a defensive backs. Isso inclui, claro, Greedy Williams, 46ª escolha geral. Em termos de coberturas individuais, que foi um dos problemas dos Browns em 2018, Williams deve acrescentar muito ao plantel.
Entre o safeties, a curto e longo prazo há questionamentos. Damarious Randall deverá ser o titular em um dos lados, e a experiência de Morgan Burnett deve pesar para a outra vaga. Burnett chega para substituir Jabrill Peppers, o qual acabou envolvido na leva dos Browns que foi para o New York Giants na troca que resultou em Beckham Jr. e Vernon.
Burnett tem 30 anos de idade e vem de uma temporada pelo Pittsburgh Steelers na qual ele não carregava a responsabilidade de ser o titular do elenco “absolutamente”.
Pensando nisso, os Browns selecionaram Sheldrick Redwine na quarta rodada deste draft. Novamente, um potencial steal para o time, já que Redwine demonstrou ótimo instinto e explosão na Universidade de Miami. Mas Redwine deve precisar de mais tempo para se adaptar ao nível profissional. Ou seja, pode não ter um impacto ideal imedato.
O sistema defensivo dos Browns também carrega incertezas para o grupo de linebackers.
Mais uma vez: Cleveland chamou dois linebackers no Draft 2019 — e ambos são interessantes enigmas neste momento. Sione Takitaki tem a velocidade e versatilidade que interessa aos Browns. Mack Wilson vem de uma carreira no college football em que ele foi titular em 33 partidas por Alabama, que tem um dos principais sistema defensivos do futebol americano universitário.
Apostar em jovens jogadores é sensato já que a franquia dispensou Jamie Collins nesta offseason. Porém, novamente, o quão preparo Takitaki e Wilson estão para impactar no segundo nível da defesa pode preocupar. E outras perguntas pertinentes aqui são: como Joe Schobert estará em 2019, depois de um ano 2017 muito bom mas ter caído de produção em 2018? Como será o apoio de Christian Kirksey após ter terminado o ano passado na lista dos lesionados? Como será a evolução de Genard Avery, agora possivelmente como titular absoluto depois de uma temporada de calouro com ótimos lampejos?
Claro, é preciso levar em consideração ainda que o coordenador defensivo em Cleveland mudou. Steve Wilks, o qual foi o treinador do Arizona Cardinals em 2018, foi contratado pelos Browns e voltará a trabalhar como coordenador defensivo. Apesar da primeira experiência de Wilks como head coach ter sido decepcionante, seu passado como coordenador é interessante. Ele atuou na função pela última vez em 2017 no Carolina Panthers, além de ter sido o técnico de defensive backs da franquia quando essa teve a melhor campanha da NFL (2015) e disputou o Super Bowl 50.
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Pelo fato que as coisas parecem muito bem encaminhadas ofensivamente, os olhares se voltam para o rendimento da defesa dos Browns. Rendimento no sentido de equilíbrio. E detalhe: equipes que contam com um pass rusher especial, como é o caso, nem sempre precisam de uma secundária e grupo de linebackers impecáveis.
Cleveland caminha da forma correta. Finalmente. Mas é preciso lembrar que para dar vários grandes passos de uma só vez, como está acontecendo, o plantel como um todo deve ser levado em consideração. A história do futebol americano profissional já mostrou isso.
Caso contrário, os passos podem acabar mais curtos do que todos esperam. Ou do que o investimento foi feito para.
Ver os Browns jogarem em 2019 vai ser espetacular. Mas espetáculo não é sinônimo de vitória. Infelizmente.