Estatisticamente, Drew Brees tem feitos que nenhum outro quarterback na história da NFL tem. A quantidade de temporadas com 5.000 jardas aéreas talvez seja o principal deles, já que ele tem cinco na carreira, enquanto nenhum outro quarterback tem mais que uma.
Os sete anos em que ele liderou a liga em jardas aéreas também é mais do que qualquer outro QB já conseguiu.
Não é por acaso que ele detém o recorde de mais jardas aéreas na carreira. No quesito, nenhum quarterback foi tão produtivo como Brees. Nem mesmo Peyton Manning e Tom Brady, os dois principais quarterbacks da NFL nas duas últimas décadas.
Vimos que as médias de Brees na carreira em jardas aéreas, touchdowns e interceptações estão no mesmo nível — se não melhores em alguns casos — que Manning, Brady e Aaron Rodgers, outro nome de destaque quando o assunto é QBs nas últimas décadas.
Provavelmente, quando todos esses quatro nomes estiverem aposentados, Brees será aquele com mais jardas e touchdowns, bem como melhor aproveitamento de passe. Mais uma vez: parte disso ficou evidente nos gráficos que compararam esses QBs em outro artigo.
Todavia, ficou claro também por meio dos gráficos que Brees não consegue ter a mesma consistência quando o assunto é vitórias. Em contrapartida, principalmente Manning e Brady, são muito diferenciados nesse quesito.
Brees tem aproveitamento de vitórias na carreira de 57,4%. Isso indica cerca de nove vitórias por temporada. Para viés de comparação, o último time com campanha 9-7 a vencer sua divisão foi o Houston Texans e Washington Redskins em 2015. Nas últimas cinco temporadas, só um time em média por ano foi aos playoffs com nove triunfos.
Quando olhamos para os outros três nomes em questão, a situação fica mais complicada para Brees.
Rodgers tem aproveitamento de 63,6%. Em outras palavras, ele vence 10 de cada 16 partidas disputadas. Já Manning, garantiu ao seu time em média basicamente 11 triunfos por temporada com o aproveitamento de 68,5%.
Por fim, o líder absoluto da lista: Brady tem 77,5% de aproveitamento. Ou seja, mais de 12 vitórias em média a cada 16 jogos.
Diga-se de passagem, pasmem, o quarterback do New England Patriots não tem o maior aproveitamento da história da NFL. Isso pertence a Otto Graham, que venceu 78,8% das partidas que disputou. A diferença neste caso é que Graham esteve na liga por seis temporadas apenas (1950-1955), enquanto Brady está a quase duas décadas under center.
Voltando ao assunto Brees, não é apenas o aproveitamento dos quarterbacks que levanta tal dúvida para com o camisa #9. Outro exemplo é a quantidade de temporadas com 10/+ triunfos, quantidade que pode ser considerada a “linha de corte” para uma vaga nos playoffs atualmente.
Sem contar 2001, quando Brees basicamente não jogou como calouro, o QB do New Orleans Saints teve dois dígitos de vitórias em oito das 17 temporadas disputadas. Somente pelos Saints, o cenário melhora um pouco: sete em 13 anos.
Manning atingiu tal marca em 14 dos 17 campeonatos que disputou, não incluindo o ano de 2011 quando ele não entrou em campo. Rodgers, em 11 temporadas, teve sete campanhas com no mínimo 10 partidas vencidas. E Brady, excluindo os anos de 2000 (não jogou) e 2008 (lesão), é mais uma vez soberano. Ele só não venceu 10/+ jogos em uma das 17 temporadas disputadas.
Consequentemente, tudo isso é traduzido na quantidade de vezes que esses jogadores vão aos playoffs.
Brees levou os Saints à pós-temporada em todas as temporadas que atingiu 10 vitórias. E o camisa #9, em 2004, liderou o San Diego Chargers ao mata-mata também.
Os Packers de Rodgers jogaram durante o mês de janeiro em oito ocasiões. Já os times comandados por Manning, com exceção de 1998, 2001 e 2011, foram aos playoffs em todas as temporadas entre 1998 e 2015. Em 98, o camisa #18 era calouro; em 2011, ele não entrou em campo devido à lesão.
E os Patriots de Brady só perderam a pós-temporada uma vez, em 2002. Em 2008 o time também não foi ao mata-mata, porém o camisa #12 fez 11 passes apenas naquela temporada antes de se lesionar.
Novamente, a pergunta: por que Brees não vence desta forma?
O domínio dentro da divisão
Olhando para as estatísticas da carreira de Manning, Brady, Rodgers e Brees, algo que chamou atenção foi o aproveitamento de cada um deles dentro das divisões. Brees nunca foi tão dominante dentro da NFC Sul (desde 2006, quando chegou aos Saints) como os outros QBs em seus respectivos grupos.
- Brees (vs. NFC Sul): 46-29 (61,3%)
- Manning (vs AFC Sul / vs. AFC Oeste): 42-12 (77,8%) / 21-3 (87,5%)
- Brady (vs. AFC Leste): 81-21 (79%)
- Rodgers (vs. NFC Norte): 41-18-1 (68%)
A vantagem de Brees contra Atlanta Falcons, Carolina Panthers e Tampa Bay Buccaneers existe. Mas ela não está nem próxima da soberania que Manning, Brady e Rodgers tiveram/têm contra suas divisões.
Sistemas defensivos
Outro fator relevante nestas comparações é o que estava ao redor de cada quarterback. Ótimos QBs, como esses, costumam fazer o sistema ofensivo como um todo (linha ofensiva e grupo de recebedores) melhor do que eles realmente são.
Do outro lado da bola, contudo, as atuações do sistema defensivo não dependem diretamente (indiretamente em alguns casos, mas desprezíveis neste momento) do quarterback.
O principal exemplo disso aconteceu com Manning em 2015: ele venceu sete das nove partidas que foi titular. Todavia, aquele foi, de longe, o pior ano do camisa #18 na NFL e tais triunfos certamente não teriam acontecido se não fosse pela excelente defesa do Denver Broncos na temporada.
Abaixo, estão a média da posição em que os sistemas defensivos de cada time foram ranqueados em pontos por partida / jardas por partida. Entre colchetes [x], coloquei qual foi o melhor ranking que o setor atingiu no período. Em negrito, está o melhor indicador para cada um dos tópicos:
- – New Orleans Saints (2006-2018): 19,5 [4º] / 20,6 [4º]
- – Indianapolis Colts (1998-2010) /// Denver Broncos (2012-2015): 15,5 [1º] / 16,5 [3º] /// 11,5 [4º] / 6,25 [1º]
- New England Patriots (2001-2018): 7,4 [1º] / 17,4 [4º]
- Green Bay Packers (2008-2018): 16,2 [2º] / 17 [2º]
Brees teve, de longe, o pior setor defensivo em geral dentre os quatro quarterbacks em questão. Além das médias serem as piores (as defesas do camisa #9 basicamente terminam como a 20ª da NFL todo ano), o camisa #9 nunca teve uma defesa top 3 em jardas e pontos cedidos.
Ademais, nenhum dos QBs teve defesas exuberantes ao lado. O mais próximo disso foi Manning no período que defendeu os Broncos. Ainda assim, foram somente quatro temporadas.
Os Patriots no que diz respeito a pontos cedidos por confronto deixam Brady na melhor situação, anos-luz à frente do segundo colocado.
Apoio do jogo corrido (?)
Outro fator diretamente atrelado aos elencos de futebol americano com enorme potencial de impacto para os quarterbacks é o jogo corrido. Como citado, alguns QBs, pela rápida leitura de jogo, fazem uma linha ofensiva parecer melhor na proteção de passe. E os lançamentos perfeitos desses podem colocar recebedores medianos em posição para sólidas estatísticas.
Defensivamente, contudo, este impacto não é direto. Tampouco no jogo terrestre, apesar de também estar inserido no plano ofensivo.
No entanto, quando comparamos de um modo geral o jogo corrido que esteve por trás de Manning, Brady, Rodgers e Brees, vemos números parecidos.
Abaixo, as estatísticas ligadas às jardas corridas de cada time no período analisado. Em outras palavras, é o quanto o ataque terrestre ao lado dos quatro QBs em questão produziu.
(média de jardas corridas por temporada — jardas por tentativa — média de TDs)
- New Orleans Saints (2006-2018): 1.751 — 4,2 — 16,7
- Indianapolis Colts (1998-2010) // Denver Broncos (2012-2015): 1.638 — 3,89 — 14 // 1.802 — 4,01 — 14
- New England Patriots (2001-2018): 1.860 — 4,01 — 16,7
- Green Bay Packers (2008-2018): 1.777 — 4,3 — 12,7.
O mais prejudicado talvez tenha sido Manning, principalmente no período em Indianapolis. O mais ajudado possivelmente foi Brady, mas nada que dê a entender que o sucesso do camisa #12 tenha sido majoritariamente por causa de seus running backs. Nem perto disso, para nenhum dos casos.