Para o público brasileiro que acompanha o futebol americano, uma das coisas de maior dificuldade para entendimento são as transações. Certamente que quem já está familiarizado com o assunto domina esse tópico. Contudo, uma parcela considerável do amante da bola oval no país tem dificuldade em entender como funciona contratos, contratações e, principalmente, trocas. E isso é entendível, visto que é um sistema totalmente diferente do instaurado no futebol da bola redonda.
Com isso em mente e aproveitando tanto o período “sem futebol americano” quanto o começo oficial da temporada 2018 da NFL (que é também quando a janela de transferências da liga se abre), decidi elaborar um texto que busca explicar o mercado da National Football League de uma maneira simples e, de certa forma, mais informal, digamos assim.
Como funciona a compra e venda de jogadores na NFL? Qual passe de jogador é o mais caro da atualidade? E a transação mais cara da história? Abaixo, algumas dessas (e outras) perguntas foram respondidas e devidamente explicadas. Além disso, mostrei também porquê outros questionamentos feitos acima não fazem sentido no mundo do futebol americano profissional.
Um time nunca compra um jogador
Há alguns meses, o mundo do futebol “parou” quando Neymar foi contratado pelo PSG. Na transação, o clube francês pagou 222 milhões de euros pelo jogador ao Barcelona. Aliás, o atacante brasileiro só chegou ao Barça pois a equipe da Catalunha o comprou do Santos anos antes, por um valor inicialmente divulgado de mais de 56 milhões de euros. Vamos ao que mais interessa: negociações/transferências como essa nunca acontecem no futebol americano profissional!
Na National Football League, não existe o valor do passe de cada jogador. Os atletas são contratados por empresas (sim, os times da NFL são empresas) e, em tese, cumprem seus contratos com elas até o término do vínculo. Caso haja interesse de uma outra franquia em adquirir os serviços do jogador, essa não oferecerá milhões de dólares ao time vigente (e nem aumentar o salário do jogador num primeiro momento). Franquias interessadas em um determinado atleta com contrato sob vigência podem adquiri-lo somente por meio de trocas. Portanto, os jogadores de futebol americano profissional não têm preço, ele detêm valor.
Vamos a um exemplo meramente ilustrativo. Suponhamos que o Cleveland Browns queira ter Tom Brady no elenco. Acontece que Brady ainda tem dois anos de contrato restantes, o que significa que ele não se tornará um agente livre* em breve para receber ofertas de várias equipes interessadas. Desta maneira, a única forma de os Browns adquirirem Brady é via troca. Neste escambo, então, Cleveland pode oferecer a New England duas “variáveis”: jogadores e escolhas de Draft.
*P. S Agente livre (em inglês, free agent) nada mais é que um jogador que chegou ao fim do seu contrato com algum time e que por certas razões não irá renovar seu vínculo com a equipe em questão. Assim sendo, ele estará livre para receber ofertas de outras franquias (inclusive a antiga, se este for o caso), podendo optar por aquela que for mais conveniente a ele.
Importante ressaltar que no futebol americano profissional, nem mesmo o valor de cada atleta é previamente definido. Logo, Tom Brady não vale estritamente “um QB titular e duas escolhas de primeira rodada”. Nada disso. Assim sendo, os Browns devem avaliar as necessidades dos Pats, a idade do elenco, a situação contratual dos jogadores, os Draft futuros (num intervalo de dois anos, período máximo permitido para oferecer picks), enfim, tudo que está relacionado ao New England Patriots, a fim de encontrar a oferta ideal para persuadir a franquia visando o atleta. Feito isso, as negociações começam. Se New England aceitar aquilo que fora proposto pelos Browns “logo de cara”, fica por isso mesmo. Entretanto, é comum vermos equipes pedindo jogadores, alterando ofertas e até mesmo escolhendo atletas em uma troca após o primeiro contato do time interessado.
Neste exemplo, o Cleveland Browns ofereceu as duas escolhas de primeira rodada que tem no Draft 2018 (1ª e 4ª geral) e o left tackle veterano Joe Thomas, por Tom Brady. O New England Patriots aceitou imediatamente. Saiba que neste caso, os Browns devem ter condições de arcar (de acordo com o teto salarial) com o contrato de Brady da maneira como esse fora previamente estabelecido com New England, assim como os Patriots precisam fazer o mesmo com o acordo vigente de Thomas. E outro detalhe: os Browns não precisavam necessariamente colocar escolhas de 1ª rodada na oferta. Essas picks poderiam ter sido de 7ª rodada, por exemplo. A questão é que quanto mais alta for a colocação no Draft, mais valiosa é a escolha.
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E como ficaria o Draft depois disso?
Neste caso, é preciso lembrar quais foram as escolhas iniciais do Cleveland Browns: a 1ª e a 4ª geral. Desta maneira, a primeira rodada do Draft ficaria assim para o New England Patriots:
1) New England Patriots (via troca com os Browns)*
2) New York Giants
3) Indianapolis Colts
4) New England Patriots (via troca com os Browns* – escolha pertencente inicialmente ao Houston Texans**)
(…)
31) New England Patriots***
32) Philadelphia Eagles
Notas:
*O termo “via troca com os Browns” significa exatamente que essas escolhas dos Patriots foram adquiridas após uma troca com Cleveland;
**Repare que a 4ª escolha geral também tem uma outra observação, desta vez envolvendo o Houston Texans. Isso porque Houston, no Draft 2017, decidiu subir de posição na primeira rodada para recrutar um QB (no caso Deshaun Watson) e, para isso, precisou se envolver em uma troca. No caso, os Texans subiram para a 12ª escolha geral (o time tinha a 25ª pick), posição que pertencia ao Cleveland Browns no momento. Para chegar a 12ª posição e selecionar Watson, portanto, o Houston Texans deu aos Browns a escolha que já tinha no ano passado (25ª geral) mais a escolha de primeira rodada do time no Draft 2018, a qual acabou sendo a 4ª geral pela campanha do time. Resumindo: New England adquiriu a 4ª escolha geral de 2018 de Cleveland, que havia adquirido a mesma de Houston há um ano. Esteja atento a isso no dia do Draft, pois é algo que acontece com muita frequência, principalmente em rodadas mais tardias;
***Aqui, New England permanece com a escolha de origem, adquirida pela campanha que o time fez na temporada passada, quando chegou até o Super Bowl LII.
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